Perder nunca foi uma opção. Porém, até mesmo para alguém como eu, que sempre tentei ter o controle do mundo em mãos, estava me perdendo na minha própria escuridão.
A ira de um fracassado não vem a partir da derrota, mas sim do obstáculo que nos leva a perder, roubando-nos o direito de alcançar o caminho da vitória. No meu caso, era um príncipe-demônio.
Sempre apreciei o sabor ácido do poder, a capacidade de inspirar medo e influenciar quem desejasse. No entanto, nunca me senti plenamente satisfeita com a sensação de ser controlada. No fundo, tomei conta que fui apenas uma marionete ambulante, iludida pela crença de que estava no comando de tudo.
Ao terminar de vestir minha camisola especialmente curta enquanto me encarava no espelho, ouvi Lilian mexer nas coisas quebradas lá fora, tentando remediar minha bagunça.
Sentir um ódio maior do que enfrentar o próprio fracasso era o fato de saber que Lilian e todos os outros podiam enxergar o desgosto estampado em minhas feições. Eu estava longe de estar feliz, mas encontrava um pequeno alívio toda vez que ouvia as palavras da Rainha, alimentando uma semente de esperança dentro de mim.
Encarando meu reflexo no espelho, olhando fixamente para as sombras profundas em meus olhos, cerrei os dentes e fechei os punhos já machucados. Com um respirar fundo, fechei os olhos e acalmei as ondas turbulentas, me lembrando constantemente de manter meu próprio controle.
Ao sair do quarto em direção ao barulho da sala, encontrei Lilian terminando de varrer o chão enquanto juntava os cacos de vidro. Sentindo minha presença, a loira azeda rapidamente direcionou os olhos até mim, mantendo-os fixos conforme tomava consciência da peça provocadora que eu vestia.
— Eu trouxe comida. — Ela apontou para uma sacola sobre o balcão da cozinha e piscou algumas vezes, voltando a olhar para o meu rosto.
— Você sabe que o que enche minha barriga é sangue, né? — Provoquei com um sorriso irônico, indo me sentar enquanto vasculhava a sacola de cheiro bom.
— Isso está claramente fora de questão. — Lilian rebateu séria, tomando uma postura autoritária que costumou a se tornar rara em nossas interações.
A rainha em questão largou a vassoura e veio até mim, ficando do outro lado do balcão enquanto recolhia as últimas coisas quebradas na cozinha.
— Por que quebrou tudo isso? — Lilian perguntou e cutuquei a massa coberta de molho com um garfo.
— Raiva. — Respondi simples e observei a de cabelos loiros pegar duas taças e uma garrafa de vinho dentro do armário.
Em silêncio, ela abriu a botelha com um pequeno estouro mágico e encheu as taças até a metade, arrastando a minha até mim sobre o mármore branco.
— Essa foi sua forma de aliviar? — Ela levou a taça até os lábios e acompanhei com os olhos o movimento da sua boca enquanto bebia o vinho.
— Costumo descontar no sexo também. — Lilian arqueou a sobrancelha para a minha resposta e engoli o sorriso, enfiando um pouco do macarrão envolto de molho na boca.
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DEMÔNIO DE AZAHARA
Fantasy+18 | Ahri Darfin está presa em um mundo onde suas mãos estão permanentemente manchadas com sangue inocente e seus olhos perdidos a humanidade. Possuída por um príncipe-demônio de outro mundo, ela é forçada a embarcar em uma jornada dolorosa em busc...