Capítulo 2

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Angel

Jogo minha mochila em qualquer canto do quarto e me dirijo até o pequeno banheiro adjacente do cômodo. Tiro minha roupa entrando no chuveiro, deixando a água fria escorrer pelo meu corpo. Algumas lágrimas de cansaço deslizam pelo meu rosto e engulo o bolo que se formou em minha garganta.

Hoje foi difícil. Trabalho em dois empregos para poder, sozinha, sustentar a casa. Minha mãe é uma drogada junto com meu padrasto, sempre fala que, como sou um erro por ter nascido, nada mais justo do que cuidar da casa e bancar as despesas. De sete às três da tarde, trabalho em uma cafeteira bem conhecida aqui em Massachusetts, e de quatro às uma da manhã, em um bar de procedência duvidosa.

Saio do banho com o corpo tremendo de frio. Visto um casaco e calça de moletom me mantendo bem aquecida. Suspiro quando desço as escadas, vendo tudo bagunçado. Olho no relógio percebendo que já são duas e meia da manhã; tudo o que mais desejo é poder dormir um pouco...

Começo a arrumar tudo, jogo fora os lixos jogados na sala, passo aspirador em toda casa e depois vou lavar a grande pilha de louça que se faz presente.

Ao terminar tudo e ver que são três e quarenta da manhã, como uma maçã já que não estou com muita fome e volto para meu quarto que fica nos fundos da casa.

Me jogo na cama cobrindo meu corpo com a colcha macia que consegui comprar mês passado. Respiro fundo quase tendo a sensação que fui atropelado por um ônibus. Fecho os olhos sentindo o sono tomar conta de mim, coloco minha chupeta na boca e adormeço.

↚ ↛ ↜ ↝ ↞

Solto um chorinho quando o despertador toca, indicando que já são cinco da manhã. Percebo que dormi apenas uma hora e vinte minutos e, com muito custo, me levanto da cama. Escovo os dentes de modo lento, vestindo uma roupa bem quente em seguida. O inverno chegou e não quero correr o risco de pegar uma gripe ou uma pneumonia, ainda mais quando não tenho ninguém para cuidar de mim.

Deixo o café preparado porque sei que minha mãe junto com o marido vão chegar com fome e se não houver comida, sofrerei as consequências depois.

Pego minha bolsa com meu celular, um lanche, uma garrafinha de água e minha chupeta; gosto de usar o tempo todo, me acalma, apesar de não fazer isso na rua.

Caminho pelas ruas movimentadas cantarolando “Farytale”, deixando a brisa levar todo cansaço que estou sentindo. Uns trinta minutos depois, chego na cafeteria que avisa minha presença com um sininho tocando. Algumas pessoas já estão presentes e Cole atende todos com um sorriso no rosto.

- Bom dia, Cole. - cumprimento meu amigo que sorri ainda mais ao me ver.

- Bom dia, Angel!

Vou para os fundos deixando meu casaco e minha bolsa em um dos ganchos. Visto meu avental pegando o cardápio e um bloquinho de anotações.

- Hoje está bem movimentado. - Cole comenta. Confirmo com a cabeça, soltando um suspiro. - A mesa quatro precisa ser atendida.

Vou até o local vendo aquela mesma garota de ontem conversar com um cara todo tatuado.

- Boa tarde, o que vão querer? - indago encarando o caderninho em minhas mãos.

- Cuidado Miles que é bem provável dela nos obrigar a enfrentar a fila. - a morena sussurra com um sorriso debochado. Seguro com força a caneta em minha mão para evitar falar o que não deve.

- E então? - pergunto mais uma vez e eles observam o cardápio.

- Um café latte e um preto, por favor. - o tatuado responde. Confirmo com a cabeça, anotando os pedidos.

Entrego os pedidos para Cole e vou atender as outras mesas. Alguns minutos depois, o pedido da mesa quatro chega.

- Aqui. - falo deixando os pedidos na mesa.

- Obrigada, princesa. - a garota diz e reviro os olhos. - Você sempre faz isso? Fica revirando os olhos?

- Só pra quem eu não gosto. - respondo simples voltando para o meu trabalho.

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Espirro algumas vezes sentindo meu corpo mole e a garganta doer. Continuo caminhando até o bar que trabalho e ao chegar lá, avisto Maggie, umas das mulheres que dança para entreter os homens de mal caráter que vem aqui.

- Você parece que foi atropelada, garota. - ela diz preocupada, encostando sua mão gelada na minha testa. - Pelos deuses, você está queimando de febre!

Maggie exclama, fecho os olhos com seu grito.

- Estou bem, só preciso de um chá quente. - respondo colocando meu uniforme.

- Não está, vai pra casa. - nego com a cabeça, começando a organizar os copos. - Você sabe que o Sr. Lowel vai te liberar se saber que está doente.

Nego mais uma vez voltando a limpar as mesas. A verdade é que minha mãe me proíbe de voltar para casa antes de meia noite, ela fala que meu lugar é na rua, trabalhando. Ou seja, mesmo se eu for para casa, ficarei do lado de fora, no frio.

Maggie sai por alguns minutos, voltando com uma cartela de comprimidos.

- Toma, vai te ajudar. - ela diz e engulo o remédio com um gole de água que a mesma trouxe. - Um dia, sua teimosia vai acabar te matando.

- Um dia, minha mãe vai acabar me matando. - murmuro quando ela se afasta.

Algumas horas depois, o bar já está cheio e barulhento. Minha cabeça dói e meu nariz incomoda, mas continuo a atender as pessoas.

Quando as coisas aliviam um pouco, vou para os fundos do bar na esperança de tomar um ar. Olho para o céu escuro, agradecendo por ter parado de nevar. Acabaria morta se fosse voltar para casa numa tempestade.

Me assusto ao ouvir um barulho alto por perto. Olho para o local, percebendo duas silhuetas brigarem. Uma parece ser de uma mulher, e a outra de um homem grande.

O homem cai no chão em um baque seco e me preparo para entrar novamente, com medo de seja lá quem for me machucar.

- Oi, princesa. - uma voz melodiosa diz. Me viro observando a morena da cafeteira.

- O que está fazendo aqui? - pergunto indiretando minha postura.

- Só... caçando o lobo mau. - ela responde e reviro os olhos. - E o que uma princesa como você faz aqui?

Trinco o maxilar com sua constatação ao me chamar de princesa, acho que na cabeça dela sou uma garota mimada e delicada.

- Não é da sua conta. - respondo seca, me virando para sair.

- Até mais, princesa. - a morena coloca as mãos nos bolsos do casaco. - A propósito, meu nome é Felicity Salvatore.

- A propósito, eu não me importo. - é tudo o que eu digo antes de entrar novamente para aquele inferno.

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Angel, meu cristal 🤕

SNOWFLOWEROnde histórias criam vida. Descubra agora