Capítulo 40

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Angel

Sorrio fraquinho ao escutar Alyssa falar baixinho com o bebê em minha barriga. Sua mãozinha descansa na grande ondulação e seus sussuros e risadas ecoam pelo quarto.

- Amanhã é meu aniversário, Ben! A mamãe falou que tentaria convencer o homem mau a nos deixar sair um pouco para o jardim. - minha filha fala baixinho, sorrindo quando o bebê se mexe.

- O que os dois estão conversando aí? - pergunto brincalhona, vendo Aly dá um pequeno pulinho de susto.

- Mamãe, você me assustou! - fala com a mão no coração e um biquinho adorável nos lábios. - Eu te acordei? - nego com a cabeça, a chamando para um abraço.

Bom, muitas coisas aconteceram nos últimos cinco anos. Naquele dia sombrio no restaurante, realmente estava nos meus planos morrer, mas isso não era o que Rebeka estava planejando para mim. Ela me levou para algum hospital clandestino, onde ordenou que os médicos me salvassem a qualquer custo. Minha progenitora queria me usar como forma de pagamento. Ela possuía uma dívida com homem que praticamente comandava boa parte da região europeia. Então, dois meses depois que me recuperei, Rebeka me trouxe para essa ilha, na qual fui apresentada a Clarkson Mancini.

Clarkson Mancini é um desgraçado que mantém várias mulheres como esposas em cada quarto dessa mansão. Ele tem mais ou menos 57 anos pelo o que ouvir dizer, e é considerado um dos "solteiros" mais cobiçados da Europa. Clarkson vem aqui uma vez por semana, para avaliar nosso comportamento e escolher uma de nós para sua noite de prazer.

Quando cheguei aqui, estava assustada e com todos os sentimentos aterrorizantes que eu poderia sentir. Por sorte, conheci Abby, a mãe biológica de Alyssa. Ela me ajudou, me protegeu e foi uma melhor amiga incrível. Infelizmente, a mesma foi considerada "sem serventia" por Clarkson e acabou sendo assassinada por um dos homens que trabalham para ele. Prevendo o que iria acontecer, Abby me pediu para cuidar de sua filha quando partisse; na época, Alyssa tinha apenas três anos de idade.

Mesmo com o coração partido, eu prometi que amaria e protegeria Aly como minha filha. Minha princesa está prestes a completar sete aninhos amanhã, e é uma garotinha esperta e doce. Ela sabe que não sou sua mãe biológica, gosto sempre de contar história de como Abby era uma mulher incrível.

Há nove meses atrás, Clarkson veio aqui querendo levar Alyssa consigo para satisfazer seus desejos doentios. Obviamente eu não deixei, defendi minha filha com tudo que podia e no fim, consegui convencê-lo a me levar no lugar dela.

O que resultou na pequena vida que cresce dentro de mim.

Meu pequeno Ben não foi planejado, e muito menos foi fruto de algo bom, mas eu o amo com todo o meu coração.

Essa situação é parecida com o aconteceu comigo a quase seis anos, mas, dessa vez, eu escolhi continuar com a gravidez e tentar ser um boa mãe para o meu bebê.

- Quando meu irmãozinho vai nascer? - Aly pergunta entusiasmada.

- Daqui a mais ou menos três meses. - respondo, me levantando da cama com um pouco de dificuldade.

Por algum motivo, Clarkson não toca mais em mim e nem me obrigou a interromper a gravidez como ele geralmente manda quando uma das mulheres aparece grávida. Tenho muito medo do que ele pode tentar fazer...

Eu "moro" com Alyssa em um dos quartos na mansão. Aqui não tem janela, o único ar que é proporcionado é do ar condicionado.

- Estou ansiosa! Quero poder brincar com ele. - dou risada da sua felicidade.

Peço para Aly sair da cama para que eu possa arrumar. Um berço e cômoda com vários itens de bebê foram entregues na semana passada. Enquanto arrumo o quarto, minha princesa se mantém quietinha em uma das cadeiras enquanto balança seus pezinhos de um lado para o outro.

- Mamãe, você já amou alguém? - sua pergunta me pega de surpresa e automaticamente minhas lembranças vão parar nela.

No amor da minha vida.

Eu sinto tanta falta de Felicity. Todos os dias tenho uma dor presente no meu peito ao lembrar dela. Ao imaginar como está sua vida agora. Se seguiu em em frente, ou se casou e teve filhos...

- Claro que sim. Eu amo você, seu irmão, o Feioso. - respondo, brincando nessa última parte ao mencionar seu ursinho de pelúcia.

- Não desse jeito... a senhora já amou alguém como aquelas histórias de princesas dos livrinhos? Já teve um príncipe encantado? - questiona e abro um sorriso nostálgico.

- Sim... mas no meu caso, eu encontrei uma princesa encantada. - quando sua carinha se torna confusa, eu me aproximo dela e me abaixo. - Há vários tipos de amor, Aly. E também há vários tipos de romance. A mamãe não gosta de garotos, e sim de garotas. É algo normal e puro, mas o mundo é cruel e não aceita isso muito bem. Mas uma pessoa pode escolher se quer se relacionar com um príncipe ou um princesa.

Tento explicar para que sua mente entenda. Aly parece confusa no começo, mas depois sorri e me abraça.

- Então eu tenho outra mamãe? - pergunta e sinto meu coração se apertar.

Na verdade eu não sei. Felicity pode ter encontrado alguém e começado uma nova fase da sua vida. E também... se algum dia eu conseguir sair daqui e voltar, não sei se ela gostaria de manter um relacionamento comigo. Eu carrego muitas cargas, e apesar de saber do seu amor por mim, seria demais pedir para ela viver ao lado de uma pessoa tão quebrada. Tenho dois filhos agora, eles são minha prioridade.

- Eu não sei... - suspiro. - Agora chega de perguntas mocinha. Vamos nos arrumar porque hoje o Clarkson vem nos visitar.

- O homem mau. - percebo seu pequeno corpinho tremer.

- Eu nunca vou deixar ele te machucar, meu amor. - afirmo. Me levanto e pego na sua mão.

- Mas eu tenho medo dele te machucar, mamãe. - diz, enxugando alguns lágrimas que deslizam pelo seu rostinho.

- Ele não vai. - falo, também tentando me convencer de que isso é verdade. - Agora vamos.

Respiro fundo. Coloco um X no dia de hoje, isso me ajuda a não perder totalmente a noção do tempo.

28 de maio.

Mais um dia. Eu consigo.

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Alyssa:

Alyssa:

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