Capítulo 4

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Angel

Merda, mil vezes merda!

Hoje acabei acordando tarde porque simplesmente meu despertador não tocou. Ou eu estava muito cansada, não sei. Ontem minha mãe me obrigou a limpar toda a bagunça da "festinha" que deu, fui dormir apenas de quatro horas da manhã.

Muitos podem me perguntam por que não vou embora desse lugar, a resposta é que não é tão simples assim. Não tenho dinheiro e nem um lugar para ficar, e também... ainda tenho esperanças de que minha mãe volte a me amar. É bobo, eu sei, mas às vezes se agarra a esperança é a única coisa que me resta.

Depois de colocar uma roupa quente e comer alguma coisa, começo meu caminho para a cafeteria. Ainda não estou totalmente curada da minha gripe, tomei alguns remédios que espero fazerem efeito logo. Minha cabeça dói e sinto que poderia dormir por anos.

Olho para os dois lados da rua atravessando rapidamente, mas, o universo adora brincar comigo e um carro preto aparece do nada. Meu corpo simplesmente paralisa.

Só me lembro de sentir o impacto do carro e cair no chão causando um barulho seco na neve. Uma dor irradia do meu pé fazendo um gemido sôfrego escapar dos meus lábios trêmulos. A garota de cabelos negros da cafeteria aparece e tento disfarçar qualquer indício de vunerabilidade.

- Merda! - exclamo tentando me levantar, mas me arrependo logo em seguida quando a dor do meu pé aumenta. Olho com raiva para a garota que tem seu cenho franzido. - É cega?

Ela ergue uma sobrancelha ajeitando sua postura.

- A maluca aqui é você que atravessou com o sinal aberto. - responde e murmuro um "eu sei".

Felicity - se me lembro bem - tenta me ajudar e apenas me afasto, recusando qualquer tipo de ajuda. Tento mais uma vez, mas quando consigo, meu pé parece falhar e a morena me segura antes que eu caia no chão novamente.

- Estou bem. - falo trocando o peso da perna machucada para a outra.

- Melhor dar uma olhada nisso, deve ter torcido ou algo assim. - comenta. Volto meu olhar para seu rosto encarando cada parte sua com raiva, na verdade, estou com raiva de mim por ser descuidada. Não vou conseguir trabalhar assim, e se voltar para casa agora, vou ter que lidar com as consequências.

- Eu sei me cuidar, até mais. - digo, começando a andar até o outro lado da rua.

Vou ter que voltar para casa.

- Ei, SnowFlower! Para de ser rabugenta e me deixa pelo menos te dar uma carona. - continuo meu percurso ignorando seu chamado e o apelido que não sei da onde ela inventou. - Vai fingir que não existo?

- Vou. - respondo antes de virar a esquina que dá para o bairro onde moro.

Algumas famílias de bem moram aqui, mas isso por falta de opção. Dúvido que as pessoas iriam querer morar perto dos traficantes e viciados daqui; sem contar nas mortes misteriosas que acontecem as escondidas.

Respiro fundo antes de entrar em casa, encontrando minha mãe fumando no sofá. O cheiro da maconha é horrível e seguro a ânsia de vômito que toma conta de mim.

- Mamãe... - ela me olha surpresa e com raiva ao mesmo tempo, muita raiva. - Rebeka... - me corrijo antes que seja pior. - Eu acabei machucando meu pé a caminho do trabalho... acho que torci, não vou conseguir trabalhar desse jeito.

Me explico com as mãos nas costas e a cabeça baixa. De repente, sinto suas mãos ásperas agarrarem meu rosto com força e ela olha para mim com nojo.

- Fez isso de propósito, não é? - nego com a cabeça me segurando para não chorar. - Bom, se não vai trabalhar, não tem serventia aqui em casa.

Rebeka pega em meu braço com força e meu desespero aumenta ao perceber que ela está me levando para o quartinho. Que é apenas um armário de madeira apertado no qual nem consigo sentar direito.

- Não... mamãe por favor, não faz isso. - soluço com medo. Rebeka abre a porta do quartinho, me jogando lá com tudo. Grito ao sentir os pregos da madeira perfurarem minhas costas e sei que eles entraram com tudo dessa vez. Meu pé reclama de dor fazendo com que eu quase perca minhas forças.

- Vai ficar aí até amanhã, sem comida e sem água para aprender a não mentir para mim. - ela fecha a porta com força, a trancando. Esse barulho ainda assombra meus pensamentos.

Tento livrar minhas costas dos pregos mas tudo dói. Prendo o lábio inferior com força e me jogo para frente, retirando os pequenos ferros de dentro de mim.

Fico em pé, já que não consigo sentar e tento me apoiar em algo. Mas não tenho nada e nem ninguém.

Por que eu não mereço.

Passo minhas mão pelas costas sentindo algo molhado deslizar por ela. Sangue.

Fecho os olhos querendo que todo esse sofrimento acabe, mas que seja para sempre.

Eu só preciso descansar...

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SNOWFLOWEROnde histórias criam vida. Descubra agora