Capítulo 44

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Angel

Observo a casa que foi cenário de muitos dos meu sonhos tranquilos, aqueles que me deram paz em meio aos anos tortuosos.

Ainda não acredito que estou de volta...

Sinto a mão de Felicity na minha, entrelaçando nossos dedos e abro um sorriso. Aly está em seus braços, dormindo serena com a cabecinha encostada no seu ombro; a visão deixa meu coração aquecido.

— Vamos entrar. — Fê me encoraja e respiro fundo.

Ao entrar na cobertura, sinto o aroma de café e ao passar meus olhos por todo o local, percebo que não mudou quase nada. Isso é bom, porque não me lembra o tempo todo dos anos que perdi longe de Felicity.

— Angel! — Alicia corre até mim, me dando um abraço materno e sinto meus olhos marejarem. — Oh, querida... está tudo bem agora.

— Cuidado, mãe. — Felicity alerta. Ela meio que está superprotetora comigo e acho uma graça sua preocupação. — Vou levar Aly para o quarto.

Alicia parece confusa com toda a cena, mas me chama para sentar no sofá. Ela traz duas xícaras, uma de chá e outra de café. Respiro fundo o aroma da camomila, tomando um gole relaxante.

— Então... quer conversar sobre? — questiona e sei exatamente do que ela está falando.

Alicia Salvatore não mudou quase nada, tanto na aparência quanto na personalidade. Ela continua linda, seus cabelos negros possuem alguns fios brancos e o rosto não aparenta passar dos quarenta. Ali segura minha mão e ainda sinto aquele toque materno e acolhedor; esse fato me faz desmoronar, como se finalmente eu conseguisse libertar tudo o que estava guardado.

Alicia me abraça de lado, deito a cabeça no seu peito enquanto tento controlar o choro. Ela apenas espera eu me acalmar, sabendo que eu preciso disso.

Começo a contar tudo o que aconteceu nos últimos anos e ela me escuta com atenção e compreensão. Nunca fui uma pessoa muito aberta, mas com Alicia eu sinto que posso confiar; sei que ela jamais irá me julgar.

— Foi tão doloroso para nós quando pensávamos que você estava morta... Eu estava arrasada e triste pela minha filha, ela passou quase um ano sem sair do quarto. Estava com medo de... — Alicia balança a cabeça como se quisesse espantar o pensamento. — Meu coração está doendo ao saber as coisas que fizeram com você, minha querida.

Ela pega em meu rosto, acariciando meus cabelos enquanto me olha com carinho. É bom sentir amor e afeto de uma mãe...

— E sei que Felicity está trabalhando para achar aquela desgraçada, mas eu quero ter o prazer de acabar com ela. — fala simples, piscando os olhos inocentemente.

Dou risada, voltando a me aconchegar em seus braços.

— E esse bebezinho? — Alicia alisa minha barriga e abro um sorriso. — Quantos meses?

— Esse é o Ben, e estou com seis meses. Aly é superprotetora com ele. — rio, lembrando do jeito da mais velha.

Solto um bocejo, querendo dormir pelo menos algumas horas. A viagem foi bem cansativa, então ainda sinto o cansaço preencher meu corpo. Minhas pálpebras vão se fechando lentamente e minha respiração está relaxada. Sem que eu realmente perceba, estou entregue a um sono tranquilo.

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Felicity

— Ela dormiu. — minha mãe diz, indicando Angel descansando em seus braços. — Ainda tem o mesmo jeito doce de sempre.

Olho para meu anjo que dorme serenamente e sorrio, concordando com a cabeça.

— Vou levá-la até o quarto. — aviso, pegando Angel no colo. Minha namorada sorri parecendo perceber que sou eu, se aninhando ainda mais no meu peito.

— Só late baixo pra ela não acordar. — olho para minha mãe perplexa, segurando a risada.

— A senhora está passando tempo demais com o Eros. — falo, balançando a cabeça em negação.

Vou para o nosso quarto, colocando Angel com cuidado na cama e passando a coberta pelo seu corpo pequeno. Sorrio, apreciando cada detalhe seu enquanto ela ressona baixinho.

— Você olha pra minha mãe como eu olho pra uma torta de chocolate. É estranho. — tomo um pequeno susto com uma voz atrás de mim. Me viro, encontrando Alyssa com os bracinhos cruzados. — Quero conversar com você.

Arqueio uma sobrancelha.

Essa menina tem sete anos mesmo?

Confirmo com a cabeça, saindo do quarto em silêncio. Seguimos para cozinha onde minha mãe coloca um bolo no forno. Ela veio passar o dia aqui para me ajudar a organizar algumas coisas e também para receber Angel.

— Então, sobre o que quer conversar? — questiono, sentando em uma das banquetas da cozinha.

— Quais são suas intenções com a minha mãe? — pergunta com as mãos cruzadas e o rosto sério.

Prendo o lábio inferior para não rir e desvio o olhar para minha mãe que me encara divertida.

— Ela é igualzinha a você. — sentencia, caminhando até a geladeira.

— Eu garanto que são as melhores, pequena. — respondo com um sorriso e Aly retribui o gesto.

— Eu fiz uma torta de chocolate. — minha mãe coloca uma travessa no balcão da cozinha.

— Minha favorita.

— Minha favorita.

Eu e Aly falamos ao mesmo tempo e damos risada, esperando ansiosamente dona Alicia colocar uma fatia para nós duas. Quando coloquei um pedaço na boca, revirei os olhos em apreciação ao delicioso doce da minha mãe.

— Isso está muito bom, titia Alicia! — Aly exclama com a boca suja de chocolate.

— Obrigada, meu bem. E pode me chamar de vovó. — minha mãe provoca e a olho com repreensão.

Eu, Angel e Aly ainda não conversamos a respeito disso. Preciso saber se as duas se sentem confortáveis com toda essa situação e elas precisam se habituar a ideia.

— Hum... você é a mamãe da Felicity, e se é pra eu te chamar de vovó... quer dizer que eu também posso chamar a Felicity de mamãe? — pergunta com um biquinho confuso e me remexo na cadeira.

— Bom... se quiser. — murmuro, ainda querendo saber se Angel continuará um relacionamento comigo.

Nós conversamos e distribuímos vários beijos e carícias, mas... e se ela quiser seguir um vida diferente do que a que tínhamos? Afinal, agora ela tem dois filhos e quem sabe gostaria de focar apenas neles.

O pensamento me traz um aperto nada agradável dentro do peito.

— Querida, a Angel ama você demais. — minha mãe fala, parecendo ler meus pensamentos.

— Minha mamãe olha pra você como eu olho...

— Pra uma torta de chocolate. — completo a frase da garotinha, abrindo um sorriso.

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