Angel
Dois dias se passaram desde que dei entrada no hospital. Felicity quase não saiu de perto de mim; não estou acostumada com todo esse cuidado e atenção...
Seu jeito convencido me irrita, a forma com ela age... como se pudesse ter tudo o quer. Apesar disso, sou muito grata por ela ter me ajudado, e um pingo de arrependimento tomou conta de mim por ter falado aquelas coisas para ela.
— Está pronta? — Felicity questiona ao entrar no quarto com o papel da alta e alguns resultados dos exames que fiz. Assinto enquanto arrumo minha mochila, suspiro querendo minha chupeta. — Sabia que está com anemia grave?
Paro o que estou fazendo e a olho. Não, não sabia. Dou de ombros, sabendo que tenho que melhorar minha alimentação e tomar alguns remédios e vitaminas, mas não tenho dinheiro para bancar tudo isso.
— Não está preocupado? Anemia pode matar, Angel. — ela diz se aproximando.
— Eu sei. — respondo. Suspiro querendo ir embora. — Obrigada mais uma vez por ter me ajudado e por ter pago o hospital. Tenho que ir agora, daqui a pouco vou trabalhar.
Felicity franze o cenho, negando com a cabeça.
— Você tem que repousar, Angel. Já falei com o dono da cafeteria, e sobre aquela boate... não acho que seria recomendável continuar trabalhando lá. — fala receosa e respiro fundo.
— Não posso simplesmente sair, Felicity. Acha que é fácil encontrar emprego? Eu faço o que posso, e se minha mãe descobrir que não estou trazendo dinheiro para casa, eles vão... — as palavras morrem ao reparar que falei coisas demais. — Enfim, está tudo bem. Eu estou bem.
Constato colocando minha mochila nas costas, ouço Felicity suspirar em frustração.
— Você pode trabalhar para mim. Estou abrindo uma cafeteira e gostaria muito de receber ajuda. — ela oferece com um sorriso pequeno. Nego mais uma vez.
— Obrigada, mas você já me ajudou demais. Tenho que ir. — aviso começando a sair do quarto.
— Angel, me deixa te ajudar. — a morena insiste. Bufo em irritação, o ar frio entra em contato com meu rosto e respiro fundo. — Que garota teimosa!
— Não preciso de esmola. — pego meu celular entrando no aplicativo do Uber.
— Não é esmola, SnowFlower. Sou estou preocupada com seu bem estar. — diz. Volto meu olhar para ela. Felicity está usando um vestido verde colado, junto com um blazer bege; um salto alto da mesma cor e os cabelos negros soltos em cascatas.
Encaro novamente meu celular, ouvindo seu resmungo frustado.
— Okay, pelo menos posso de dar uma carona? — questiona.
— Pode, Felicity. Mas só para você parar de me irritar.
Vamos até o estacionamento e tento esconder minha admiração ao ver seu carro. É simplesmente lindo.
— Gostou? — ela indaga e assinto com a cabeça. — Comprei quando completei vinte anos.
Observo o modo como fala e sei que tem a ver com o que eu falei há dois dias. Acho que Felicity não gostou de ser chamada de filhinha de papai.
— É um belo carro. — digo, entrando no veículo.
— A Cate é linda mesmo. — solto um riso sem conseguir me conter. — O que foi?
— O nome do seu carro é Cate? — pergunto divertida.
— Sim. Minha bebê tem sentimentos. — responde como se fosse óbvio. Ela liga o carro começando a dirigir. — Se você tivesse um carro, como chamaria?
— Ah... carro? — falo observando a paisagem branca lá fora.
— Sem graça. — resmunga.
O caminho foi feito em silêncio, nenhuma das duas sabia o que dizer e eu também não estava muito afim de conversar. Um leve tremor percorre meu corpo ao ver minha casa, o movimento não passou despercebido por Felicity.
— Tudo bem? — questiona. Confirmo com a cabeça, apertando mais forte a alça da minha bolsa. — Aqui. — me entrega um cartão e franzo o cenho. — É o meu número. Se precisar de ajuda, eu venho te salvar.
Reviro os olhos.
— Sabe, você revirando os olhos me faz imaginar outras coisas...
Ignoro sua fala e saio do carro.
— Até mais, SnowFlower. — ela se despede, dando partida com o carro logo depois.
— Até mais, Felicity...
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SNOWFLOWER
Romance- É insuportável olhar para você, sabia? - Felicity comenta com um sorrisinho malicioso. - Posso saber o porquê? - arqueio uma sobrancelha e cruzo os braços. - É linda demais. - reviro os olhos voltando a ignorar sua presença. - Toda essa resistên...