Capítulo 9

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Angel

Dois dias se passaram desde que dei entrada no hospital. Felicity quase não saiu de perto de mim; não estou acostumada com todo esse cuidado e atenção...

Seu jeito convencido me irrita, a forma com ela age... como se pudesse ter tudo o quer. Apesar disso, sou muito grata por ela ter me ajudado, e um pingo de arrependimento tomou conta de mim por ter falado aquelas coisas para ela.

— Está pronta? — Felicity questiona ao entrar no quarto com o papel da alta e alguns resultados dos exames que fiz. Assinto enquanto arrumo minha mochila, suspiro querendo minha chupeta. — Sabia que está com anemia grave?

Paro o que estou fazendo e a olho. Não, não sabia. Dou de ombros, sabendo que tenho que melhorar minha alimentação e tomar alguns remédios e vitaminas, mas não tenho dinheiro para bancar tudo isso.

— Não está preocupado? Anemia pode matar, Angel. — ela diz se aproximando.

— Eu sei. — respondo. Suspiro querendo ir embora. — Obrigada mais uma vez por ter me ajudado e por ter pago o hospital. Tenho que ir agora, daqui a pouco vou trabalhar.

Felicity franze o cenho, negando com a cabeça.

— Você tem que repousar, Angel. Já falei com o dono da cafeteria, e sobre aquela boate... não acho que seria recomendável continuar trabalhando lá. — fala receosa e respiro fundo.

— Não posso simplesmente sair, Felicity. Acha que é fácil encontrar emprego? Eu faço o que posso, e se minha mãe descobrir que não estou trazendo dinheiro para casa, eles vão... — as palavras morrem ao reparar que falei coisas demais. — Enfim, está tudo bem. Eu estou bem.

Constato colocando minha mochila nas costas, ouço Felicity suspirar em frustração.

— Você pode trabalhar para mim. Estou abrindo uma cafeteira e gostaria muito de receber ajuda. — ela oferece com um sorriso pequeno. Nego mais uma vez.

— Obrigada, mas você já me ajudou demais. Tenho que ir. — aviso começando a sair do quarto.

— Angel, me deixa te ajudar. — a morena insiste. Bufo em irritação, o ar frio entra em contato com meu rosto e respiro fundo. — Que garota teimosa!

— Não preciso de esmola. — pego meu celular entrando no aplicativo do Uber.

— Não é esmola, SnowFlower. Sou estou preocupada com seu bem estar. — diz. Volto meu olhar para ela. Felicity está usando um vestido verde colado, junto com um blazer bege; um salto alto da mesma cor e os cabelos negros soltos em cascatas.

Encaro novamente meu celular, ouvindo seu resmungo frustado.

— Okay, pelo menos posso de dar uma carona? — questiona.

— Pode, Felicity. Mas só para você parar de me irritar.

Vamos até o estacionamento e tento esconder minha admiração ao ver seu carro. É simplesmente lindo.

— Gostou? — ela indaga e assinto com a cabeça. — Comprei quando completei vinte anos.

Observo o modo como fala e sei que tem a ver com o que eu falei há dois dias. Acho que Felicity não gostou de ser chamada de filhinha de papai.

— É um belo carro. — digo, entrando no veículo.

— A Cate é linda mesmo. — solto um riso sem conseguir me conter. — O que foi?

— O nome do seu carro é Cate? — pergunto divertida.

— Sim. Minha bebê tem sentimentos. — responde como se fosse óbvio. Ela liga o carro começando a dirigir. — Se você tivesse um carro, como chamaria?

— Ah... carro? — falo observando a paisagem branca lá fora.

— Sem graça. — resmunga.

O caminho foi feito em silêncio, nenhuma das duas sabia o que dizer e eu também não estava muito afim de conversar. Um leve tremor percorre meu corpo ao ver minha casa, o movimento não passou despercebido por Felicity.

— Tudo bem? — questiona. Confirmo com a cabeça, apertando mais forte a alça da minha bolsa. — Aqui. — me entrega um cartão e franzo o cenho. — É o meu número. Se precisar de ajuda, eu venho te salvar.

Reviro os olhos.

— Sabe, você revirando os olhos me faz imaginar outras coisas...

Ignoro sua fala e saio do carro.

— Até mais, SnowFlower. — ela se despede, dando partida com o carro logo depois.

— Até mais, Felicity...

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SNOWFLOWEROnde histórias criam vida. Descubra agora