Capítulo 12

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Felicity

Fecho a cafeteria soltando a fumaça pela boca, fazendo desenhos em arabescos pelo ar gelado. Sei que não deveria fumar, mas às vezes me acalma. Miles anda um pouco ocupado com a faculdade, pois está prestes a terminar. Meu irmão já tinha começado a faculdade de medicina por dois anos, mas desistiu e viu que seu talento era comandar a empresa junto com o papai.

Às ruas estão escuras e quase vazias por causa do horário. Destravo meu carro, coloco uma caixa de doces que estou levando para mamãe em um dos bancos e começo a dirigir. Parou de nevar, agradeço por isso.

Batuco meus dedos no volante, cantarolando “All too Well” da Taylor Swift. Eros e Miles morreram de rir quando confessei que a loirinha era minha artista favorita. Acho que na cabeça deles eu era do tipo que gostava de rock.

Franzo o cenho ao ver uma cabeleireira loira sentada no banco da praça local. Sei muito bem de quem se trata...

Estaciono o carro por perto, ajeitando o casaco em volta do meu corpo. Angel está usando apenas um conjunto de moletom e me pergunto se ela não está com frio.

— SnowFlower? — chamo. Ela me olha com sua expressão cansada, suspirando com os ombros caídos.

— Oi, Felicity... — sussurra, voltando a se virar para frente.

— O que está fazendo aqui? — questiono me sentando ao seu lado.

— Nada. — responde, dando de ombros.

— Quer que eu te leve até em casa? — continuo e Angel nega. — SnowFlower...

De repente, sinto sua cabeça encostar no meu ombro. Eu até poderia ficar feliz, se não percebesse seu pequeno corpo mole e sua pele quente.

— Angel? Querida? — chamo começando a ficar nervosa. A pego no colo ao constatar que a mesma desmaiou. — Merda...

Volto para meu carro, me sentando com Angel no banco de trás. Ligo o piloto automático, colocando no GPS a localização do hospital.

Sua pele está pálida, sua cabeça está apoiada no meu peito e seguro seu pequeno corpo como se a mesma fosse desaparecer.

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— Se trata de anemia megaloblástica e perniciosa. — a médica me explica ao voltar com os resultados dos exames de Angel. Volto meu olhar para a garota que toma conta dos meus pensamentos diariamente, a vendo descansar com alguns fios ligados a si. — Estes dois tipos de anemia acontecem devido a uma diminuição acentuada nos níveis de vitamina B12 no organismo, sendo tratada com suplementos dessa vitamina e uma alimentação mais rica em vitamina B12.

Assinto com a cabeça, avisando que estou entendendo.

— Vou receitar outras vitaminas, e uma lista de alimentos onde ela pode começar uma nova dieta, mas recomendo consultar um nutricionista. — finaliza, me entregando um papel com todas as instruções.

— Certo, obrigada. — dou um pequeno sorriso.

— Com licença. — a médica sai do quarto, nos deixando sozinhas.

Me aproximo de Angel, acariciando sua bochecha. Ela é tão linda, e apesar de se mostrar tão dura, sei que é apenas uma mulher frágil que já passou por muitas coisas na vida.

— Eu só queria que você me deixasse cuidar de você, SnowFlower... — sussurro, depositando um beijo casto em sua testa.

Talvez ela nem vá acordar hoje, então, ligo para minha mãe avisando que não voltarei para casa. Me sento na poltrona ao lado da cama, ainda segurando sua mãozinha. Fico velando seu sono e nem percebo quando também durmo.

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— Felicity? — abro meus olhos ao ouvir uma voz desesperada me chamar. — Aonde... o que aconteceu?

Me levanto rapidamente, tentando acalmá-la já que ela parecer estar prestes a chorar.

— Ei... SnowFlower, está tudo bem. Você acabou desmaiando ontem de noite, se lembra? — Angel nega com a cabeça. — Eu te trouxe para o hospital depois que você desmaiou na praça.

— Eu... que horas são? — pergunta aflita. Olho no relógio de pulso, avisando que são oito da manhã. — Não, não, não... eu tenho que ir.

— O que?! Mas não vai mesmo. Angel, você desmaiou ontem! Está com anemia grave. Aposto que não se alimentou ou tomou suas vitaminas, certo? — Angel me ignora, tentando se levantar da cama. — Angel!

— Você não entende, eles vão... — começa a dizer. — Eu tenho que ir, Felicity.

Por que ela está assim?

— Me explica o que está acontecendo? — peço tentando pegar em seu rosto. Ela se afasta com lágrimas nos olhos, negando com a cabeça.

— Eu tenho que ir. — Angel arranca os fios que estavam ligados em seu braço, se levantando da cama com rapidez, o que a faz cambalear alguns passos, mas a seguro antes que caia. — Onde estão minhas roupas.

— Angel... — a chamo novamente.

— Não! Por que você não me deixa em paz? Para de ficar correndo atrás de mim, isso é irritante. Deixa de ser inconveniente e vai embora! — suas palavras raivosas são como socos em meu estômago. Angel pega suas roupas que estavam perto do criado mudo ao lado da cama.

— Certo... — ajeito a postura, engolindo o nó que se formou na minha garganta. — Fica bem, Angel.

Saio do quarto, batendo a porta com um pouco de força. Já deixei tudo pago no hospital, os papéis da alta ela terá que buscar depois.

Respiro fundo tentando controlar a agitação no meu interior. Eu gosto muito da Angel, e na verdade eu nem sei o porquê. Desde que nos conhecemos ela só me trata com grosseria, mas eu sempre insisto em voltar.

Mas não mais, se ela quer que eu a deixe em paz, irei fazer isso.

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SNOWFLOWEROnde histórias criam vida. Descubra agora