Capítulo 8 - As certezas são poucas

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  Tantas coisas passaram pela minha cabeça. Como assim icor? Icor dourado é o sangue dos deuses. Como eu posso ter sangue dos deuses?  Por que isso só se manifestou agora? Por que as pessoas não podem parar de olhar pra mim por um minuto? Está bem, eu sei a resposta dessa última pergunta, mas isso não retira o fato que é incômodo demais!

  Annabeth e Percy correram até mim, mas Clarisse só se moveu para dar alguns passos para trás, como se eu tivesse alguma doença grave e contagiosa. O ferimento já tinha desaparecido por completo, porém eu estava tão faca e tonta que caí no colo do meu pai antes dele conseguir pronunciar uma única palavra. Eu não sentia mais nada ao meu redor, não ouvia, não cheirava, e aos poucos minha visão foi sumindo também.

Quando acordei ainda estava um pouco tonta, antes mesmo de abrir os olhos percebi que estava no Chalé de Poseidon, o cheiro de mar é inconfundível, e era possível prever que iriam me levar para lá, onde haveria menos tumulto, já que era mais vazio. Abrindo um pouco mais os olhos, vi que minha mãe se encontrava bem à frente, vagando de um lado para o outro, pensando, e Percy olhava nos meus olhos fixamente. Annabeth percebe que eu acordei e então se ajoelha ao lado da cama e me encara também.

- Se sente melhor, querida? – ela pergunta.

- Não muito melhor, mas inteira. – Então me lembro do ocorrido e questiono: - O que foi aquilo? Meu sangue... estava dourado?!

  Annie respira fundo, suspira longamente e explica:

- Sim, estava. Você possui sangue divino.

- Como isso é possível? – digo, me levantando um pouco para ficar sentada na cama e poder olhar melhor eles.

- Filha... há muitos poucos casos registrados em que isso poderia acontecido, até porque semideuses normalmente não tem uma vida longa ou filhos, e mais difícil ainda é encontrar um filho de dois semideuses. Um filho ou filha de dois semideuses que possuísse sangue dos deuses na forma pura... de caso confirmado só há você, Court.

  Durante as explicações, meu pai me olhava triste e quieto, com pena e compaixão, como se eu acabasse de descobrir que tinha câncer terminal, só que o problema não era morrer, com certeza.

- Isso não é possível! Não posso ser a primeira!

- Meios-sangues que tem filhos com outros meio-sangues – ela continua calmamente, ignorando minha revolta - podem gerar meros mortais, semideuses ou em casos muito raros onde a criança prevalece com apenas a parte divina dos pais e há uma sobrecarga de sangue divino e isso acaba por tomar o corpo todo dela... um deus ou uma deusa.

- Se eu tivesse nascido assim acho que teria percebido todas as vezes que me machuquei quando criança, não acha?

- O sangue "diferente" começa a se destacar quando você toma partido de quem realmente é, isso aumenta seu poder e quanto mais você demonstra ele, mais o sangue dos dois deuses em você se sobrepõe ao mortal. O sangue mortal ainda existe em você, você viu... mas provavelmente é uma questão de tempo até que desapareça por completo.

  Senti o mundo girar a minha volta de novo. Isso quer dizer que eu não tinha escolha? Me tornaria imortal? Uma deusa olimpiana? Isso ainda não me parecia real, não podia ser possível, mas como ultimamente o impossível tem se tornado possível, não tenho muita dificuldade em acreditar. Eu queria sinceramente estar resistindo, negando a mim mesma com todas as forças, mas sou muito realista para isso, apesar de ainda não conseguir processar muito bem a frasezinha ecoando em minha cabeça: "Você é uma deusa".

- Você acordou, garota! Teríamos pensado que você morreu se não fosse im... – Disse Mark, antes de ser cortado pelo olhar fuzilante de Annabeth.

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