Capítulo 24 - Passeios

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Graças aos deuses, nossas armas e todos os outros pertences estavam no barco, até mesmo os deixados pela praia. Hécate fez um serviço de primeira, é uma deusa confusa, mas pelo menos não é má, devo muito a ela.

  Descobri que não podemos lutar na cidade, por que portar armas lá é contra as regras. Sinceramente, isso é muito sem noção, se sentem seguros até demais, mas essa deve ser uma boa sensação. Aqui é bem estranho, muito grande e organizado, e com muitos espaços vazios, só de terra, e escolhemos um deles para treinar, um bem longe do riozinho. Não quero nem olhar para a água. Continuo no estágio permanente de "tenho medo do que posso dominar". Maravilha, isso é realmente a situação mais ridícula por qual já passei — bom, espero que um dia passe.

Falaram que tem um campo de treinamento, mas é muito aberto e não estou a fim de chamar a atenção, então escolhemos um lugar qualquer, meio longe de tudo. As pessoas são muito disciplinadas, parecem estar em seu devido lugar o tempo todo, então não acho que vão reparar em nós, e se repararem, não acho que farão algo.

  Estamos em uma área coberta por algumas árvores que escolhemos para que não nos sentíssemos muito observados; em campo aberto as pessoas poderiam nos ver de quase todo lugar pelo qual passassem. Reyna disse que voltaria para avisar quando fosse hora do almoço. Ainda não me sinto muito confortável estando aqui quando devia esta seguindo com a missão, mas eu realmente estou acabada pelo susto de ontem, e Sophie parece bem, mas Nathan nem tanto. Por mais que não admita, sei que Nathan está abalado, e vou conversar com ele sobre isso, estou convencida que terei uma oportunidade para isso.

  Estou praticamente deitada no chão praticando com os shurikens. Sinceramente, eu já cansei disso, todos sabem que não preciso treinar isso, consigo acertar as árvores bem no meio sem nem mesmo olhar, só estou fazendo isso para matar o tédio mesmo. Sophie decidiu treinar com o meu arco e flecha porque o chicote seria destrutivo demais para uma área arborizada, mas ela realmente não parece muito interessada no próprio treinamento, só observa Nathan enquanto ele corta o ar e alguns galhos de árvores com aquela espada que parece um S. É serio, a filha de Afrodite está tão concentrada nele que estou com medo de que ela acerte um passarinho inocente com alguma flecha; ver ela toda distraída segurando uma arma está me dando pontadas no coração.

— Nathan, por que não ajuda a Sophie? — Me arrependo do que disse no momento seguinte, enquanto ele assente quando vê o desastre. Ele vai até ela e posiciona as mãos dela direito no arco, Sophie não para de tentar esconder sorrisos e isso me mata por dentro. Por que eu estou morrendo por dentro? Qual é! Eu não me importo com isso, ela gosta dele, e daí? Por que meu cérebro idiota está incomodado a ponto de me fazer esquecer de lançar shurikens?...  Isso é até bom, porque eu poderia me distrair e, sei lá, matar um passarinho inocente.

  O filho de Apolo se afasta, Sophie sorri para ele, que não se dá o trabalho de retribuir. Sinto-me mal e satisfeita ao mesmo tempo. O que há comigo? Devo estar ficando maluca.

  Achei que minha amiga fosse fazer uma cara raivosa, indignada ou chateada, ou no mínimo olhar o chão. Filhas de Afrodite tem emoções intensas, é o que me lembro. Ela devia estar esperneando ou devia continuar persistente em cima dele. Mas não. Ela continua sorrindo e dá de ombros. Simplesmente isso. Parece que eu subestimei Sophie, ela não vai desmoronar por causa de um garoto ou persistir, vai ficar indiferente, porque tem mais inteligência emocional do que eu. Sophie é realmente especial. Foi por isso que ela não deu a louca ou desmaiou depois de ter sido a primeira atacada, foi por isso que se manteve firme, por isso ela parece a mais normal de todos nós, superando com facilidade a batalha, e por isso ela não liga para o quem gosta ou não dela. Sophie controla a si mesma independente do que sente. Ela obviamente não nasceu assim, algo fez ela assim, não deve ter sido pouca coisa se conseguiu fazê-la endurecer o coração quando precisa. Foi um simples dar de ombros, mas nesse momento eu percebi que a mais calorosa de nós é também a mais sangue frio. Não podia ter feito escolha melhor para "time", isso me faz sorrir involuntariamente.

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