Epílogo

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  Hoje é Natal. Significa crianças de mais na rua e perigo dobrado, ou seja, trabalho triplicado, mas as visitas à vovó compensam. Moramos perto dela, não perto o suficiente para visitas constantes, mas também não é longe o suficiente para nos impedir de vê-la todo fim de semana se quisermos. Nos períodos de festa, as visitas a Sally são constantes, praticamente nos mudamos para lá.

  Estou no parque, eu e Nathan estamos levando Felipe para brincar na neve. Ainda bem que hoje só tenho ele para olhar, quando Leo e Calipso decidem nos visitar, ganho mais dois pestinhas para cuidar – e comparado a John e Lorraine (a pequena, encrenqueira e elétrica, Lory), até que Felipe é comportado.

- Ei, garoto! Nem pense em engolir isso aí! Mamãe me mata – grito.

  Ele deixou a neve que ia colocar na boca de lado, mas mostrou a língua para mim. Ainda bem que o pestinha aparentemente ainda não tem poder algum. Felipe é meu amado irmãozinho. Até que é espertinho para um garoto de quatro anos, mas é muito irritante quando quer... Annabeth nos contou que estava grávida algumas semanas depois de Apolo cumprir o prometido e vencer Nyx fazendo com que ela retirasse minha maldição. Nós nos mudamos para Nova York um mês depois. Todos extasiados de felicidade.

  Nathan ri.

- Você supostamente devia me ajudar a cuidar dele – reclamo.

- Você faz isso muito bem sozinha, Marie.

- Está zombando de mim?

- Claro que não. Você é mesmo uma ótima irmã mais velha. Felipe pode ser difícil às vezes, mas você é quem mais consegue botar ele na linha.

- Além de você, né? Ele gosta muito mais de você.

- Se serve de consolo, gosto muito mais de você.

- Não. Não ajudou muito. – Dou de ombros.

- Não, né?

  Rimos.

- É que você tem que fazer o papel de irmã de dezesseis anos rabugenta, eu só sou o namorado legal da irmã chata. – Franzo o cenho. – Na visão dele.

  Contraio os lábios numa linha fina.

- Mas aposto que vai ser uma mãe incrível, e se quiser eu troco de papel com você para ser o pai chato.

  Bato de leve no ombro dele.

- Idiota – murmuro.

- Eu te amo, você sabe, né?

- Se não me amasse eu não estaria perdendo tempo com você.

- Sei que não. Acha que eu não percebi o tamanho da fila? Minha vontade é escrever "propriedade privada" no seu braço para que parem de olhar pra você.

- Acha que minha fila está grande? Já olhou para sua? Se eu te deixar por uma semana já vão ter vinte em cima de você.

- Que exagero.

- Exagero? Acha que eu não vejo as malditas filhas de Deméter flertando com você?

- Não é minha culpa que elas acham meus poderes tão úteis para agricultura.

- Todas devem ter trigo na cabeça. Tenho vontade de ceifar elas quando ficam dando risadinhas quando você passa. Luz pode ser a a fonte de vida das plantas, mas se elas continuarem atrás dessa luz, vão acabar mortinhas.

- Adoro quando faz ceninha de ciúme.

- Não é ceninha. – Viro o rosto.

- É sim.

- Nem sou ciumenta.

  Ele sorri.

- Talvez só um pouco – confesso. - Mas você é muito pior, sabe disso.

- Eu sei. Você é bonita demais para ficar em exposição garota.

- Você quase bateu naquele garoto da escola que assoviou quando eu passei ao lado dele semana passada!

- Era um babaca, não devia ter me segurado.

- Era um babaca, sem dúvida. Mas ele achou que éramos irmãos, coitado.

- Coitado de mim que consigo ser confundido como irmão da minha namorada. Isso é falta de demonstração de afeto.

- Tecnicamente também somos irmãos. Você vive como filho dos meus pais na nossa casa.

- Sabe o que eu acho? Que devíamos nos beijar mais às vezes, só pra deixar claro.

- Huhum, vai nessa, interesseiro. Uma aliança dourada seria bem mais demonstrativo, não acha?

- Acho que sim. Mas você vai ter que esperar mais uns anos.

- Quem perde é você. – Mostro a língua.

- Como se eu fosse te deixar escapar. - Ele me puxa pela cintura.

- Como se eu fosse tentar. – Coloco os braços em torno do pescoço dele.  – Você sabe que eu tô nem aí pra um anel bonitinho, né? Não preciso desse tipo de coisa pra saber que não vai me deixar. Na verdade, não gosto da ideia de usar aliança. Não vamos casar na igreja um dia, nem nada assim, e acho incômodo usar o mesmo anel todo dia. Anéis são acessórios, para tirar e colocar quando convier, sabe? Por isso...

  Ele me beija.

- Adoro quando se empolga e começa a falar demais – diz.

- Se adorasse, não me interrompia.

  Ele dá de ombros de maneira cúmplice. Reviro os olhos, mas sem conseguir conter o sorriso.

 Ouço um barulho.

- O que acha? – indago.

- Acho que... é um ciclope e está no beco ali de trás – responde Nathan.

- Bom palpite. Acho que ele deve ter uns dez anos e acabamos com ele em três minutos.

- Um minuto. Apostado. 

- Prêmio de sempre?

- Isso aí.

  Dou um sorriso malicioso e coloco a mão nos bolsos do casaco, que possuem diversos shurikens, e olho de relance para minha bota direita, onde está escondida uma adaga. Nathan gira entre os dedos a caneta que na verdade é a espada Contracorrente, que meu pai costuma emprestar para ele quando saímos para que possa estar armado de maneira discreta.

- Hey! – grita Sophie. – Acabei de chegar e me disseram que estavam no parque com o garotinho. Nathan! Você tem que mandar  aquele projeto de dragão parar de morder meus sapatos, tipo agora!

- Sophie! Que ótimo que chegou – digo. – Pode olhar o Felipe pra gente uns cinco minutinhos? Temos coisas a tratar. Sabe, as de sempre. – Viro-me para Nathan:  – Vamos. Tenho uma aposta a ganhar.

Sangue DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora