Capítulo 5 - Lembranças e esclarecimentos

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Saí do carro e o cheiro de mofo se foi, mas o frio estava ainda mais cortante. Entramos no prédio, pegamos o elevador e tocamos a campainha daquele lugar que a mim era tão familiar. Fico pensando quanto tempo meu pai viveu aqui para depois ter que escolher deixar seu lar para minha segurança, me vem um novo aperto no peito por ter gritado com eles. Sally abre a porta mostrando uma expressão tão surpresa quanto radiante, é a segunda avó que eu visito hoje, mas essa é aquela que criou o filho e teve que aceitar sua partida e depois criou a neta sabendo que estava apenas preparando-a para voltar a seus pais, Atena pode ser a incrível Deusa da Sabedoria, porém nunca será minha vó como Sally é.

- Percy! Meu filho, quanto tempo... - Ela diz abraçando meu pai. - Querido, você parece tão para baixo, se anime. 

- Já me sinto bem melhor só de rever a senhora, mãe.

  Minha avó sorri e se volta para Annabeth que força um sorriso na hora, não para ser cínica, dá para perceber que ela gosta da sogra, só não quer chateá-la.

- Annabeth! Estou feliz em revê-la minha... nora. - Sally diz enquanto abraça Annie, a pausa para falar a palavra ''nora''... é como se ela nunca a tivesse dito e tentava lembrar como se falava, isso me faz perceber uma coisa, e eu acabo pensando alto.

- Vocês não eram casados quando eu nasci, não é? Quer dizer, eu fiz as contas e vocês tinham uns 18 anos. - Digo pensativa, olhando mais para minha mãe, acho que agora a enxergo como mãe e nem sei quando isso aconteceu, mas ainda tem muito que eu não sei.

  Todos me encaram, estupefatos por eu ter constatado isso, mas Annie trata logo de sacudir a cabeça e então fala aborrecida encarando o chão, já sem poder sustentar o sorriso que tentava manter:

- Alguma hora você iria perceber...

- Vamos entrar?! - Minha vó fala animada.

  Nós três entramos, andando num clima de enterro e nos sentamos no sofá. Percy e Annabeth de um lado, eu e Sally, de frente a eles, no outro lado. O ar quente do aquecedor na casa da minha avó penetra cada canto do meu corpo e eu me sinto muito mais aconchegada, apesar dos outros não parecerem muito confortáveis. Minha mãe não tirou o olhar do chão, então me dirijo a ela.

- Hum... acho que me deve uma explicação. - Quando digo isso ela levanta os olhos e me encara com tristeza. - Não sobre isso, eu percebi que no mínimo o assunto da sua adolescência te incomoda, mas você disse que falaria do assunto sobre a ''eternidade''. - Explico.

- Ah, sim, claro... - Annie diz aliviada. - Então, vamos lá. Quando tínhamos dezesseis anos seu pai meio que salvou o Olimpo, não sozinho é claro, mas...

- Aliás, se não fosse a sua mãe eu teria morrido naquela noite, ela quase morreu por mim, o que não teria ajudado muito porque sem ela eu dificilmente teria motivos para continuar vivo. - Meu pai diz cortando ela e sorrindo.

- Bobo! Você teria muito pelo que continuar, sim. - Minha mãe rebate.

- Espera ai. Como você o salvou? - pergunto.

- Ela levou uma facada no meu lugar, a faca teria acertado meu único ponto vulnerável e me matado. - Percy explica, me fazendo pensar quantas vezes eles já viveram esse tipo de aventura mortal, não parece ter sido só uma.

- Teria feito o mesmo por mim! - Ela afirma com tom que provavelmente deveria sair zangado, porém se perdeu em meio ao sorriso agora radiante que ela exibia. Parece esqueceram que estou aqui, mas eu fico feliz em vê-los relembrando esses momentos que deveriam ser trágicos se não tivessem se tornado tão heroicos e românticos, como num conto de fadas.

- Cookies azuis chegando! – Sally diz chegando da cozinha com uma bandeja cheia.

- Senti falta deles. - Meu pai constata, já pegando um cookie.

Sangue DivinoOnde histórias criam vida. Descubra agora