- Eu não sou como todos aqui! Eu tenho meus pais aqui. Isso não deveria me ajudar em alguma coisa?
- Não. Não deveria. – Minha mãe diz de uma maneira tão melancólica que visivelmente da para saber que ela não gostaria de dizer isso.
- Você quer me ajudar. Eu sei que quer!
- Se você se acostumar com a nossa ajuda... filha... nós não vamos estar aqui para sempre.
- Mas vão estar por um bom tempo! Não fale como se fosse morrer logo. Vocês dois são bem novos. – Afirmo de maneira fria e raivosa.
- O que sua mãe quer dizer é que, às vezes, só temos a nós mesmos e não há saída a não ser contar com as próprias habilidades. Não quer dizer que vamos te abandonar de novo. – Percy intervém.
- Ah, é? Porque parece que já estão fazendo isso! – Sinto a fúria me dominando, os anos em que eu sonhei em ter meus pais de volta. – Vocês me deixaram por conta da minha vó por anos e agora que eu finalmente tenho vocês por perto querem que eu conte apenas comigo mesma? Isso não é justo! Vocês não me contam nada. Eu não sei quase nada sobre vocês, e sinceramente eu já sinto como se tivesse perdido vocês de novo. Porque eu não sinto que são meus pais! – Digo me levantando, me virando para o outro lado e elevando o tom de voz.
Os dois parecem extremamente magoados. Mas não podem estar mais magoados que eu. Eles não tiveram que ser criados pela avó... mas... também perderam um dos pais por muito tempo, eles sabem o que eu sinto, sim. Meus deuses! O quê eu estou fazendo?
- Sinto muito. Eu... não quis dizer essas coisas é só que... – Digo passando a olhar para areia.
- Quis. Foi exatamente o que quis dizer. – Minha mãe sussurra. Vejo uma lágrima escorrendo pela sua bochecha.
- Mas... mas eu não devia. Me desculpem.
- Não tem nada com o que se desculpar. Você tem razão. Não podemos forçar tanto você agora. Você não é como eles, querendo ou não, precisa de mais ajuda que eles. – Ela olha para baixo tentando esconder, mas não há como, uma lágrima escorre atrás da outra, e para mim é como se cada uma fosse uma gota do meu arrependimento dando pontadas no meu coração. Por que eu sou tão impulsiva? Que droga!
Annie se vira para Percy, que está ao seu lado, e ele a abraça. Ela enterra a cabeça em seu peito. Nenhum deles olha para mim até que meu pai decide levantar o olhar e diz:
- Também tem razão sobre o fato de que sabe muito pouco sobre nós. Tem o direito de saber o que quiser. – E então olha para baixo para ver como está Annabeth, ela pisca os olhos, ainda muito brilhantes e meche a cabeça em concordância a ele.
- Vocês também tem o direito de escolher quando querem contar as coisas. A vida não parece ter sido fácil para vocês. – Digo levantando mais o olhar para eles, mesmo que parte de mim quisesse simplesmente começar a fazer perguntas.
- Nem por isso devemos dificultar a sua. Ser nossa filha já é dificuldade suficiente.
Aquela mesma parte insensível de mim queria gritar "ISSO MESMO. Vocês me devem isso!", porém, graças aos deuses, tenho uma consciência que sabe gritar mais alto na minha cabeça. Eu tenho que sair daqui antes que fale mais besteiras.
- Não devem se culpar por amar um ao outro. Eu... vou deixar vocês sozinhos um pouco. Depois podemos conversar. – É o que consigo dizer forçando um sorriso de apoio ao meu pai.
Viro sem mesmo perceber para onde estou indo. É instintivo - pelo menos em garotas, acho -, para buscar uma amiga, não se tem que pensar. Quando me dou conta estou na frente do Chalé de Afrodite e me sento ao lado de uma garota que está fazendo lacinhos cor de rosa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sangue Divino
AdventureUma garota que foi criada pela avó é raptada e acorda em um estranho acampamento, onde descobre que seus pais estão vivos e mais perto do que ela imaginava, melhor ainda, são dois dos maiores heróis atuais. Sua vida esconde mais segredos e sofriment...