- Ei. Psiu. Querida, acorda!
- Hum...
- Você tem escola hoje, meu bem.
- Vó...
- Ah, vamos. Levanta.
Confesso que é extremamente difícil acordar com a voz serena da minha vó, debaixo de uma coberta quentinha no friozinho e um sol ainda começando a aparecer como se tivesse tanta preguiça de acordar quanto eu.
Hoje é minha volta às aulas depois da pausa semanal de fim de ano (spring break de inverno), estou no sexto ano escolar. Vamos ao que sei sobre minha vida, até agora, meu nome é Courtney Marie Jackson, moro com a minha avó, Sally, e meu avô, Paul, em Nova York. Tenho onze anos, e sobre meus pais... Não os conheço, minha vó não fala muito sobre eles, ela só disse que são dois heróis e que só queriam o melhor para mim (mesmo eu não sabendo o que isso significa). Eu achava que sabia pouco sobre a minha família, mas mal sabia que minha vó tinha razão, eu era tão nova, era melhor assim.
Eu me levantei, ganhei um convencional beijo de bom dia da minha vó na testa que sempre me deixava mais confortável comigo mesma e me dava força para levantar. Coloquei meu uniforme, que não era muito confortável, da escola desse ano, já estava sendo quase expulsa - digamos que eu não duro muito em uma mesma escola -, mas minha vó parece lidar bem com isso, ela diz que conhece o problema, porém não creio que ela saiba como é ter déficit de atenção e dislexia.
Fui até a cozinha e o cheiro de incenso invadiu meus pulmões como sempre. Sentei-me a mesa que estava toda arrumada, com uma toalha vermelha com renas de natal que vovó adora usar. Meu vô já estava lá, ele é bem rápido de manhã, o que eu acho bem sobrenatural, mas já que ele é professor, não tem como ser mais de outro mundo - eu achava. Sentei na cadeira da ponta, como sempre, já sentindo o frio da janela em meus braços descobertos. Comi minhas panquecas azuis com o melado rosa. Sally sempre fazia todo tipo de doce em azul, então eu perguntei porque azul e ela disse que era uma coisa entre ela e meu pai, ou seja, ela não falaria mais.
Dai por diante ela passou a colocar coisas rosa na comida para ficar mais ''eu'' - se ignorar o fato dela ter colocado gênero nas cores, sinceramente não tenho nada contra, até acho legal o café da manhã colorido dela. Enquanto escovava os dentes, meu vô já tinha ido trabalhar e minha vó se trocava em seu quarto para irmos a minha nova escola ''College Seventeen'', não posso dizer que o nome é original mas é melhor que muitos.
Saímos de casa, uma cena que eu ia lembrar para sempre: minha vó e eu passando pela porta, ainda colorida pelos adornos de natal, ela de casaco vermelho e jeans preto e eu com meu uniforme, uma camiseta branca com o nome da escola na vertical e uma sainha azul meio anos sessenta. Se eu não estava com as pernas dormentes ainda era por causa da meia de lã branca que eu vestia, conjunto das minhas sapatilhas azuis. Já no carro, sentada no banco do passageiro e me sentindo desconfortável, depois de muito tempo calada eu digo:
- Vó...
- Sim, Court?
- Qual é o nome do meu pai?
- Você sabe que não gosto de falar nisso.
- Mas eu tenho onze anos e nem sei o nome do meu pai, o seu filho, e nunca vi nenhuma foto dele! Acha isso justo? Você baniu as recordações dele para onde?
- Um lugar onde você não irá achar.
- Isso não é nada legal, tá?
O que eu falei pareceu aborrecê-la um pouco, talvez porque eu vivia dizendo que amava ela, que minha vó era legal - não é lá o melhor adjetivo, mas se tornou bem mais para nós duas. Chegamos ao colégio, um edifício que parece bem moderno: pintado de vermelho, azul e branco, novamente... ''muito original''. Desço do carro quase congelando e começo a ir em direção ao portão pegando minha blusa de frio (daquele tom sangue vivo, que entrava loucamente em contraste com o azul claro da saia) quando ouço Sally dizer:
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Sangue Divino
AdventureUma garota que foi criada pela avó é raptada e acorda em um estranho acampamento, onde descobre que seus pais estão vivos e mais perto do que ela imaginava, melhor ainda, são dois dos maiores heróis atuais. Sua vida esconde mais segredos e sofriment...