Capítulo 14 - Um tour pelo passado

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  Depois do almoço, o dia foi um tédio: encontrei Lola e Sophie em algumas aulas, Sophie prometeu me mostrar todos os chalés – o que me empolgou, mas bem pouquinho –, e eu jantei sozinha, porque aparentemente Annabeth estava conversando com Quíron sobre assuntos importantes e Percy está treinando com Nathan... como se ele fosse o filho dele... O que eu estou pensando? Estou com ciúmes daquele garoto? Urgh... Que pensamento idiota!

  Depois da janta, nem fui para fogueira.  Agora fico refletindo sobre meu dia e como as coisas parecem cada vez mais complicadas. Droga. Não vou pensar. Vou apenas dormir... dormir...

  Abro os olhos repentinamente e me vejo em uma cidade bonita, mas que nunca vi. O lugar tem uma arquitetura peculiar, bem elaborada, me lembra... Roma Antiga? Mas não tenho tempo de pensar muito bem, porque o mundo começa a andar como se eu estivesse sido jogada, direcionada a algum lugar, até que paro na janela de um prédio observando... meus pais? Estão obviamente mais novos, porém – posso perceber – eles não mudaram quase nada.

  Os dois estão sentados numa cama de madeira escura e lindos entalhes de símbolos, eles sorriem um para o outro, Percy passa a mão pelo rosto dela, que está radiante, a beija, se afasta um pouco e diz atônito:

- Pelos deuses, mal consigo acreditar!

  Annabeth suspira e diz sem parar de sorrir:

- Mas eu tenho certeza, cabeça de alga. Você vai ser pai. – É possível que eu esteja vendo uma cena do passado? Será que é possível que eu possa estar vendo o momento em que minha mãe contou ao meu pai que estava grávida? Eles parecem tão contentes...

  Percy a puxa para perto e a beija de novo e a cena se dissolve, mas logo se reformula e enxergo o mesmo quarto só que o clima de felicidade se foi, o ambiente até parece mais frio e meus pais não estão na mesma posição de antes, minha mãe está de pé, virada para parede, os cabelos emaranhados, meu pai está na cama, sentado e encarando o chão.

  Annie resmunga para parede enquanto Percy levanta o olhar e a encara com um olhar desesperado, impotente. E então ele diz:

- Deve haver algo que possamos fazer. – Ele fala com um olhar melancólico e desolado dirigido a ela.

- Não há! – Ela diz se virando para ele, está com um tom desesperado e os olhos vermelhos, as mangas da blusa lilás comprida de pijama estão molhadas evidenciando que ela limpou muitas lágrimas recentemente. Percebo com um arquejo de susto que ela está visivelmente grávida, uma barriga de mais de quatro meses, mas não muito visível ao dia provavelmente, só que a camisola parece destacá-la. – Não percebe? Essa é a vingança dela! Ela não pode nos punir, mas vai punir aquilo com que mais nos importamos. – Annabeth soluça e lágrimas escorrem com velocidade pelo seu rosto. Meu pai vai até ela e a abraça, permitindo que ela enterre a cabeça em seu ombro e chore apoiada nele. Percy não parece muito melhor que ela, sua expressão está muito desolada e preocupada, ainda assim ele diz em tom calmo acariciando os cabelos dela:

- Você não pode se desesperar, tem que acreditar que vai ficar tudo bem.

  Ela chora ainda mais intensamente, como uma criança assustada. E isso soa muito estranho combinado com a pessoa valente que ela é.

- Não vai ficar tudo bem, Percy. – Ela sussurra, sua voz quase não sai.

- Para nossa filha vai, e é isso que mais importa, mesmo que ela não fique conosco, vai ficar bem. - Isso faz Annie levantar o rosto, e os dois se encaram em total tristeza, até que ela deixa a cabeça cair novamente sobre ele.

  Abro os olhos enquanto me jogo para frente e quase caio da cama. Percebo que estou toda suada. Aquilo foi mesmo real? Não consigo tirar da cabeça os olhares desolados. Quando meus olhos se acostumam com a luminosidade no recinto vejo os livros que cercam o chalé de Atena. Um alívio percorre meu corpo como se minha mente dissesse: "está tudo bem, você está de volta". Apesar de nada parecer bem. Percebo com espanto que Annabeth está acordada, e me encarando, devia estar lendo antes. Ela corre até mim e senta na cama colocando as costas da mão na minha testa.

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