Capítulo 19 - A ilha

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Costumam dizer que: ou as missões começam do nada e agitadas, ou elas têm seu período de calmaria. Nunca achei que calmaria seria tão incômodo, mas é como se eu esperasse a cada segundo o momento em que as coisas vão ficar difíceis, como se eu esperasse os desafios. Sou uma tonta.

  Estamos há duas horas vagando pela água em nosso barquinho, em uma direção totalmente aleatória. Resumindo, estamos cercados de água e não sabemos onde estamos.

- Então, o que fazemos agora? — pergunta Sophie. Ela está aqui no andar de cima comigo, só que eu estou na popa do barco observando o mar bater em pequenas ondas no barco. A vontade que eu sinto de mexer com a água, trazê-la até mim, é absurda, exige muito controle, mesmo assim não consigo me afastar.

  Desvio o olhar da água para ver Sophie. Ela está encostada no mastro, e a — única — vela está fechada e forma uma enorme linha azul escura acima da cabeça dela.

- Não sei. O verso diz claramente que acharemos a Deusa Inesperada, então não devemos procurá-la, ela vai aparecer... — respondo.

- Portanto, seguiremos sem rumo até lá. — Completa Sophie.

- Exato. Vamos confiar no destino e deixar o vento ir nos levando até lá.

- Nunca vi estratégia mais esquisita.

- Não é uma estratégia. É só... o que temos que fazer.

- E se demorar dias até encontrarmos a Deusa Blábláblá? Vou morrer de tédio!

- Nesse caso, acho que vamos todos. — Observo sorrindo.

-  Bom, claro que você pode estar achando muito interessante ficar ai olhando a água como se fosse um pássaro caçando peixes, só a espreita, mas eu estou achando a vista um saco. Você pode ficar aí se divertindo, ou, ir tomar café da manhã comigo, porque aposto que não deve ter comido nada.

  Continuo sorrindo e respondo:

- Vai na frente.

- Está bem. — E logo que diz isso ela desce pelas escadas, eu a sigo, logo atrás.

  É um lance curto de escadas, mas bem íngreme. Quando estamos passando pelo corredor, lembro de que o quarto de Nathan é o próximo.

- Sophie, pergunta para o Nathan se ele quer comer alguma coisa. Eu vou indo na frente e arrumo a "cozinha".  — Enfatizei cozinha porque é um mini cômodo com uma bancada numa parede, um armário na outra e na de frente para a porta, uma pia (não faço a mínima ideia de como é possível esse barquinho ter uma reserva de água potável e encanamento).

- O.k.

  Vou me dirigido ao final do corredor onde fica o banheiro, e do lado, a cozinha. Só há esse banheiro, e por incrível que pareça, ele é aprova de som, nem caso você derrube o chuveiro vão te ouvir da cozinha, é algo bom e ruim.

  No mini cômodo com uma bancada, eu coloco uma toalha xadrez verde escuro, que estava no armário, em cima da bancada. Em cima da toalha coloco espaçadamente três pães com uma bolacha recheada ao lado, a pasta de amendoim no meio e uma faca em cima dela. Sempre fui de organizar as coisas para que fiquem visivelmente práticas e bonitas. Não há pratos, deve ser por algum motivo do gênero: o barco pode tremer e os pratos quebrariam, virariam cacos pulsantes e nos cortariam; não posso dizer que é ilógico.

  Sophie aparece com Nathan logo atrás. Parece que ele resolveu parar de amolar espadas.

  Todos nós estamos como partimos, afinal, só fazem duas horas e meia. Eu estou calçando um tênis preto e vestindo um short jeans e uma camiseta cinza, tirei meu casaco preto há mais ou menos uma hora. Sophie está exatamente como estava na praia, de regata rosa bebê, sapatilha de plástico — provavelmente porque assim não há problemas em molhar — e um short-saia preto, achei que ela fosse maluca, mas na verdade foi bem esperta, porque agora que o sol já subiu um pouco, está ficando bem quente. Nathan está com um jeans escuro, botas de coturno marrons e uma camiseta preta que já está ficando levemente colada nele, evidenciando o contorno dos músculos. Ele não pode descansar um pouco? Parece que tem fobia de ficar sem se esforçar.

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