Annabeth chega uns quinze minutos depois de mim, meio cansada, como se tivesse corrido muito, o estanho é que não vi ela chegar, apareceu do meu lado, do nada. Dez minutos de silêncio depois, chega Percy e entramos na sala. Os dois se sentam lado a lado no sofá à minha frente e ela diz:
- Pode perguntar sobre aquilo que mais te incomoda, apesar de já saber o que você quer.
- Vamos lá - digo. - Qual a primeira coisa que me vem na cabeça? Quem são os meus pais?
- Sabia que ia perguntar isso, mas não sei se está pronta para saber ou... perdoar. - A moça fala com tristeza o que me faz perceber o quanto o sorriso dela é radiante diante de tanto visível sofrimento interno.
- Annabeth. - Chama Percy - Quanto mais tempo escondermos dela pior vai ser!
- Eu sei. - Ela responde melancolicamente.
- Ei! Oi?! Quero respostas! E vocês já estão me assustando. -
- Courtney... nós... - Annie começa a explicar se conseguir terminar consumida pelas lágrimas que escorriam de seu rosto. - Desculpa. Eu não consigo.
- O quê foi? Vocês falaram que meus pais estão vivos! Vocês disseram! Então o que há? - questiono.
- Ela só não gosta de falar sobre esse assunto, apesar de nunca parar de pensar nisso. Ela morre de remorso, mas sabemos que foi o melhor para você. - Explica Perseu.
- Respondam logo, só estão me confundindo! - Quase grito.
- Nós, Court. - O homem responde calmamente enquanto acalma Annabeth, que está chorando em seu ombro. - Nós somos seus pais, Courtney.
Como sou burra. É tão óbvio. O cabelo, os olhos, os poderes... "seu pai tem o nome de um herói mitológico". Perseu. Óbvio.
Mil coisas passam pela minha cabeça naquele momento, mas só a raiva de ter as duas pessoas que me abandonaram na minha frente se sobressalta, e tudo que eu consigo dizer, segurando o choro, é:
- POR QUÊ? POR QUE VOCÊS ME ABANDONARAM?
- Nós não te abandonamos. - Afirma Percy.
- Abandonaram sim!
- Deixar sua vó te criando foi o melhor a fazer para você. - Ele diz.
- Por quê?
- Court, monstros sentem cheiro de meio-sangues, o meu cheiro é muito forte por ser filho de um dos três grandes, e somado ao da sua mãe fora do acampamento colocaria nós três em risco! Principalmente você. - Explica calmamente para não agravar o estado da Annabeth. Mas não é convincente... ele parece omitir algo.
- Mas se vocês são heróis, poderiam me defender, certo?
- Talvez, querida. Mas faz ideia de quantas vezes quase morremos? Se nos mantermos vivos já é difícil... se algo acontecesse a você não nos perdoaríamos.
- Ah. E me deixar sem proteção, aos cuidados da vovó, foi a melhor opção?
- Você é que pensa, sua avó é muito mais esperta do que imagina, acha que se ela não soubesse me esconder dos monstros eu estaria vivo até hoje? Ela me manteve vivo e a salvo sozinha por doze anos mesmo meu cheiro sendo maior do que o dos outros, aumentando a tendência para encrencas também.
- E por que eu não podia saber de nada? Nem seus nomes ou uma foto? Ehn?
- Quanto menos soubesse sobre a nossa realidade melhor seria...
- Eu descobri o nome dos meus pais hoje. Onze anos depois!
Annabeth desenterra a cabeça do ombro do Percy, mostrando um rosto vermelho e uma expressão de dar dó, para falar pela primeira vez desde que começou a chorar.
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Sangue Divino
AvventuraUma garota que foi criada pela avó é raptada e acorda em um estranho acampamento, onde descobre que seus pais estão vivos e mais perto do que ela imaginava, melhor ainda, são dois dos maiores heróis atuais. Sua vida esconde mais segredos e sofriment...