Sem descanso

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Eu estava andando com meus pequenos sapatos amarelos enquanto segurava a mão de alguém que eu não conseguia ver o rosto. Era estranho e confortável ao mesmo tempo porque tudo parecia familiar.

De repente começou a chover e tivemos que correr rápido para a chuva não nos molhar, mas acabei ficando muito encharcada e com frio.

Paramos em uma casa que por algum motivo me fazia sentir um conforto inesplicavel, mas estava ainda mais frio que lá fora. Soltei a mão que segurava antes para sentar no tapete vermelho que tinha na sala. A televisão estava ligada e aquilo me deixou distraída por um momento.

⎯ Por que está chegando tão tarde? ⎯ uma voz gritou alto e uma porta bateu atrás de mim.

Não me virei para trás, mas tive a estranha sensação de saber o que estava acontecendo. Cobri os ouvidos com as mãos e fechei os olhos, ouvindo minha própria voz pedir por ajuda.

Quando abri os olhos, eu estava suando frio, minha boca estava mais seca que o normal. Um alívio me preencheu quando percebi que tinha finalmente acordado e estava segura no meu quarto, embora ainda tivesse com dificuldade de respirar.

⎯ Yejin! ⎯ Jin-ah entrou no quarto apressada acompanhada de todo mundo.

Olhei para ela com a expressão assustada. Jin-ah veio rapidamente até mim e ligou o abajur que ficava ao lado da minha cama para poder me ver melhor.

⎯ Você gritou. ⎯ Disse Cha Eunwoo que parecia estar ainda mais assustadoo que eu. Seu cabelo estava bagunçado e seus olhos estavam quase se fechando. Isso me deixou tranquila já que parecia que ele finalmente conseguia dormir à noite.

⎯ Você está bem? ⎯ Si-a sentou do outro lado da cama e começou a secar meu suor com alguns lenços que antes estavam na minha gaveta.

⎯ Me desculpem... eu... ⎯ Tentei dizer, mas minha garganta estava muito seca.

Jin-ah se apressou, encheu o copo com água que também estava ao lado da minha cama e deu para mim.

⎯ Calma querida, estamos aqui com você. ⎯ Jin-ah disse quando comecei a beber o copo de água rápido de mais. Minhas mãos estavam um pouco trêmulas, portando deixei um pouco de água cair na minha roupa.

⎯ Acho que tive um pesadelo. ⎯ Consegui dizer. ⎯ Não queria ter acordado vocês.

⎯ Não precisa se preocupar. ⎯ Si-a segurou minha mão. ⎯ É bom saber que você está melhor agora.

Fiz que sim e continuei tentando lembrar o que tinha visto, mas ao mesmo tempo não queria ter que voltar ao momento que estava presa naquele sonho ruim. O que me deixava mais assustada era que eu não conseguia ver o rosto de ninguém.

⎯ Vocês podem sair? ⎯ Jin-ah pediu. ⎯ Eu vou ficar aqui com Yejin.

Todos hesitaram um pouco, porém, aceitaram depois que Jin-ah insistiu mais um pouco. Então a porta foi fechada e me senti um pouco melhor quando aqueles olhos curiosos pararam de me olhar. Apenas Jin-ah ali era mais do que o necessário.

⎯ Você quer me explicar o que aconteceu?

⎯ Eu não sei porque gritei. ⎯ Expliquei e tentei parar de pensar no momento em que cobri meus ouvidos com as mãos. ⎯ Tenho certeza de que estava sonhando. Mas tudo parecia... tão... tão real.

⎯ Isso já aconteceu antes? ⎯ Ela questionou. ⎯ Alguma vez quando você ainda morava no orfanato?

⎯ Eu não lembro.

Lembrar da minha infância era algo difícil. Não lembrava quando cheguei no orfanato, mas eu era só um bebê, então fazia sentido não recordas. No entanto, eu não lembrava sobre nada de quando eu tinha seis, sete, ou treze anos. Eu não tinha nenhuma memória que correspondesse à esses momentos.

JUVENTUDE: Algum Lugar Que Só Nós ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora