O meu pior pesadelo

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Depois de chegar da Universidade no dia seguinte, subi para o quarto cambaleando. Eu tinha feito a prova de música mais difícil de todos os tempos e se existia alguém infinitamente cansado, esse alguém era eu.

Quando cheguei no quarto, meus olhos foram imediatamente para a caixa que eu havia trazido do orfanato na noite passada. Lembrei que não havia visto todas as coisas que tinha dentro dela. Embora eu estivesse com medo de ter mais uma decepção ao descobrir mais sobre minha vida, fui até a caixa e comecei a ler os papéis que antes apenas tinha dado uma olhada rápida. Eu não podia deixar nada passar dessa vez.

Ao revirar os papéis, encontrei no meio deles um que eu reconhecia muito bem. Porque foi por causa dele que passei o dia trancada no banheiro da escola depois de milhares dos mesmo papéis estarem nas mãos das pessoas. Ao ler o nome órfã, senti o mesmo aperto no coração que daquela vez. Mas diferente da primeira vez, eu não iria me esconder em um banheiro.

Foi ela esse tempo todo. Sra. Choi espalhou os papéis. Enquanto, por um bom tempo, desconfiei de San-ha, por que naquela escola, apenas ele e Eunwoo sabiam sobre meu passado. Eu deveria ter imaginado que San-ha jamais faria alguma coisa para me ridicularizar na frente de todas aquelas pessoas. Ele era meu amigo e amigos verdadeiros não fazem esse tipo de coisa.

Ao revirar mais os papéis, encontrei outra foto. A foto estava em péssimo estado, mas reconheci minha mãe um tempo depois de analisar e o homem ao seu lado não me era estranho. Aproximei o rosto da foto, usando toda a força do meu cérebro para lembrar onde eu teria visto aquela pessoa antes.

Depois de desistir tentar, fechei os olhos e respirei fundo antes que começasse a ter outro colapso. Até que uma luz iluminou meus pensamentos e após olhar a foto novamente, eu tinha certeza de que era.

Deixei o quarto com o papel em mãos e corri para o quarto de Eunwoo. Precisava mostrá-lo o que havia descoberto. Porém, após não encontrá-lo no quarto, desci as escadas correndo. Ele deveria estar na cozinha ou no jardim.

⎯ Onde está indo, Ye-Jin? ⎯ Jin-ah perguntou quando atravessei a sala correndo. Jin-ah era tão silenciosa em tudo que fazia que mal percebi que ela estava sentada na poltrona lendo um dos seus livros difíceis.

Foi ótimo ter encontrado ela naquele momento. Jin-ah era a melhor pessoa para responder as inúmeras perguntas que tinha depois de reconhecer Kevin na foto com minha mãe. E por que ele estaria com ela?

⎯ Eu quero que me explique isso. ⎯ Me aproximei dela e entreguei a foto.

Jin-ah mudou a expressão instantaneamente quando ajeitou o óculos e observou a foto. Sei que ela reconheceu Kevin quando ficou desconfortável. Aquilo respondeu todas as minhas incertezas sobre ela saber alguma coisa.

⎯ Ye-Jin... ⎯ Jin-ah fechou seu livro e com as mãos um pouco trêmulas fez gesto para que eu me sentasse na outra poltrona. ⎯ Por que não se senta por um instante?

Eu queria apenas a verdade, mas parecia que estava difícil de aquilo se concretizar.

⎯ Pretendo que não esconda nada de mim. ⎯ Sentei-me encarando minhas próprias mãos.

Por obra do destino, Kevin adentrou a sala com um copo de água com alguns cubos de gelo e colocou na mesa próximo à Jin-ah.

⎯ Que bom que está aqui, Kevin. ⎯ Eu disse e ele me olhou confuso. ⎯ Creio que precisamos esclarecer algumas coisas.

Ele e Jin-ah se olharam como se soubessem o que viria a seguir. Porém, Kevin não parecia preocupado e isso me surpreendeu. Jin-ah entregou a foto para ele e diferente dela, Kevin apenas sorriu ao observar a si mesmo.

⎯ Onde conseguiu essa foto, Ye-Jin? ⎯ Jin-ah perguntou. Ele estava nervosa, mas era tarde demais. Ela sabia que deveria me contar o que quer que soubesse.

⎯ No orfanato.

⎯ Você voltou lá?

⎯ Bom, a pergunta certa não é essa. ⎯ Para variar, meu coração não estava prestes a sair pela boca. ⎯ Por que você está nessa foto, Kevin?

Kevin sentou-se também é depois de alguns minutos em completo silêncio, ele disse:

⎯ Eu estava esperando a hora certa para falar disse com a senhorita.

Por um momento, pensei no porquê as pessoas faziam isso? Por que eu tinha que me esforçar para descobrir alguma coisa quando alguém que sabia morava na mesma casa que eu?

⎯ Quando Kevin começou a trabalhar nessa casa... ⎯ Jin-ah começou quando percebeu que Kevin não iria conseguir começar aquela história. ⎯ Eu tinha acabado de perder meu filho e para me consolar, ele provou que eu não era a única pessoa no mundo a ter problemas.

⎯ Sua mãe era a pessoa mais importante pra mim. ⎯ Kevin conseguiu dizer. ⎯ Mas nos afastamos quando ela se casou porque eu não aceitei isso. Depois de muitas discussões ela foi embora e nunca mais nos encontramos.

Todas aquelas informações não estavam se encaixando na minha mente. Minha cabeça logo começou a doer e tive que fazer mais esforço para prestar atenção.

⎯ Minha mãe tinha uma irmã. ⎯ Falei para acelerar aquela conversa e fazer chegar na parte em que eu estava realmente curiosa. ⎯ Você a conhece?

⎯ Como eu não reconheceria minha filha?

⎯ Filha?

⎯ Isso mesmo, Ye-Jin. ⎯ Os olhos dele brilharam. ⎯ Sou seu avô.

Engoli em seco pois minha garganta ficou seca de repente. Se antes meu coração não estava acelerado, agora ele estava realmentr querendo sair do meu peito. E a única pergunta que vinha na minha mente era: Por que?

Por que esconderam tudo isso de mim?

A resposta sempre esteve tão perto. Porém, continuaram escondendo a verdade que estava bem debaixo do meu nariz.

⎯ Quando você me adotou... ⎯ Perguntei para Jin-ah com os olhos marejados. ⎯ Não foi por que gostou de mim assim que me viu?

Jin-ah abriu a boca inúmeras vezes, mas nenhuma palavra realmentesaiu de lá. Foi assim que descobri o que, na verdade, não queria.

⎯ Passei um bom tempo procurando por você e sua mãe, Yejin. Choi também foi embora para procurar sua mãe, mas ela nunca voltou e tive que procurar outros métodos para encontrar vocês. ⎯ Kevin disse. ⎯ Quando eu soube que a diretora do orfanato onde você morava era minha filha, pedi que Jin-ah me ajudasse e trouxesse você para perto.

Todas aquelas informações estavam me matando lentamente. Levantei-me de onde estava porque não queria ouvir mais nada. Eu estava desolada. Saber daquilo foi muito pior que descobrir que Sra. Choi era minha tia. Eu tinha uma família de mentirosos e a pessoa que me adotou não fez isso por vontade própria.

Comecei a andar de volta para o quarto, mas parei quando me aproximei da escada.

⎯ Vocês poderiam ter se apressado em me achar. Não sabem o quanto sofri nas mãos daquela mulher?

Subi as escadas e eles não tentaram me impedir.

Eu estava me sentindo péssima. No fim de tudo eu realmente tive uma família, mas a única que provavelmente me disse a verdade não estava mais perto de mim. Kevin sabia que sua outra filha era um monstro e por isso pediu que Jin-ah fosse me tirar daquele inferno?

JUVENTUDE: Algum Lugar Que Só Nós ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora