Noite Violeta

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Mais tarde, depois de não descer para o jantar, ouço batidas na porta e faço um esforço enorme para levantar da cama e ir abri-la.

Eunwoo segurava um mochila na mão direita e a chave do carro na outra. Além disso, um sorriso verdadeiro estava estampado no seu rosto como se nada fosse mudar daqui para frente.

⎯ O que é tudo isso?

⎯ Surpresa!

⎯ Ah, não.

⎯ SIM...

Ele guardou a chave no bolso do casaco e segurou minha mão me puxando para fora do quarto. Eu ainda estava deprimida, mas aceitei aquilo imediatamente. Entrelacei nossos dedos até finalmente estarmos do lado de fora entrando no carro.

Eunwoo parecia tão empolgado para sei lá o que, que não importei que ele dirigisse. Se eu pudesse escolher, desejaria que ele fosse o mais lento possível para onde quer que estivesse me levando.

⎯ Eunwoo... ⎯ Chamei, com uma voz quase que silenciosa. Ele olhou para mim por um segundo até desviar o olhar para a estrada novamente. Isso indicou que eu poderia começar a falar. ⎯ Você também sabia que Kevin é meu avô?

Eunwoo pisou nos freios assim que terminei aquela pergunta o que me fez acreditar que ele também não sabia daquilo.

⎯ O que?

Hoje, descobri que Kevin é meu avô. ⎯ Expliquei sem empolgação.

Ele teve que parar o carro para olhar para mim. Eu não sabia como estava minha aparência, mas não me importava. Eunwoo enxergava muito além de uma simples aparência física.

⎯ Isso quer dizer que ele é pai daquela mulher horrível. ⎯ Aquilo não foi uma pergunta, embora seu tom de voz fez parecer que sim.

⎯ O que minha avó acha disso? Aposto que...

⎯ Ela também sabia. ⎯ Interrompi porque embora eu tivesse começado aquela conversa, queria que ela terminasse. Eunwoo estava muito empolgado antes de eu ter contato aquilo e eu não queria que isso tivesse acontecido. ⎯ Mas... eu só queria saber se eu era a única que não sabia sobre isso. Fico feliz de não ser.

Eunwoo sorriu e segurou minha mão, antes de começar a dirigir novamente. Ele entendeu que eu não quera continuar aquela conversa.

⎯ Tudo bem. ⎯ Ele começou mudando totalmente de assunto. ⎯ Estamos indo para a praia.

⎯ Praia? Á noite?

Ele parecia tranquilo de mais, já eu comecei a ficar um pouco tensa. Eu não tinha saído com as roupas adequadas para ir á praia... à noite.

⎯ Não precisa se preocupar. ⎯ Ele disse como se aquilo fosse me deixar despreocupada. ⎯ Tenho tudo sob controle.

Quando chegamos, Eunwoo voltou a segurar minha mão que estava um pouco fria. Portanto, ele colocou nossas mãos juntas dentro do bolso do seu casaco e então começamos a andar até uma barraca cor amarela. Tudo estava iluminado por pequenas luzinhas.

Duas cadeiras dobráveis estavam posicionadas de frente para o mar e uma pequena fogueira queimava o que imaginei ser para nos aquecer.

⎯ Quando você preparou isso tudo? ⎯ Perguntei fascinada.

⎯ Eu disse que tinha tudo sob controle. ⎯ Ele riu convencido.

Nós dois sentamos nas cadeiras dobráveis. Eunwoo me ofereceu uma xícara que aceitei imediatamente pois o vapor subia o que indicava ser algo quente. Meu corpo ansiava por algo assim, pois o vento estava me fazendo congelar.

⎯ Tive muito trabalho em organizar tudo isso, mas não consegui fazer com que o céu também ficasse bonito. ⎯ Ele brincou.

Olhei para o céu que estava apenas escuro, sem nenhuma estrela. Não que importasse, eu não me precisava ver as estrelas se estivesse com ele.

⎯ Aconteceu alguma coisa, não é? ⎯ Ele perguntou quando não respondi.

Fiz que sim e dei um gole sonoro no chocolate quente da xícara.

⎯ Por que não me contou? ⎯ Eu perguntei sem olhar para ele. Era fato que depôs que Si-a se casasse, ele ia embora. ⎯ Por que não me disse que já estava indo?

Um silêncio profundo nos envolveu, mas Eunwoo tratou de afastá-lo um minuto depois.

⎯ Eu quem queria contar. ⎯ Ele suspirou, provavelmente estava frustrado por não ter tido a oportunidade de contar primeiro. ⎯ Eu sinto muito. Preciso voltar e terminar a faculdade.

⎯ Mas não é isso que você quer.

⎯ Mas é isso que preciso fazer. ⎯ Ele se virou para mim. Seus olhos estavam tristes. ⎯ Depois que eu terminar, posso fazer o que eu quiser. Vou poder jogar basquete sem que minha mãe fique enchendo a paciência. Além disso, também vou cuidar da empresa da minha família. É isso que preciso fazer, Ye-Jin.

Naquele momento, comecei a ter pensamentos ruins. Íamos ter mesmo a oportunidade de ficarmos juntos no futuro sem que nada atrapalhasse ou realmente não fazíamos parte do mesmo mundo?

Quando tempo ele iria demorar dessa vez? Quatro, cinco, seis anos? Ele não iria me esquecer nesse tempo?

⎯ Isso vai acabar, certo? ⎯ Eu disse não querendo ouvir as próprias palavras que saiam da minha boca. ⎯ Isso que a gente tem.

⎯ Claro que não. ⎯ Ele se apressou em dizer. ⎯ Não vou ficar lá para sempre. Vou voltar pra você, Ye-Jin.

⎯ É muito tempo...

⎯ Você não consegue esperar por mim?

⎯ Não é isso, eu só... ⎯ Me calei, pois me precipitar não ia fazer as coisas funcionarem. ⎯ Eu só não queria que acontecesse tudo de novo.

⎯ O que?

⎯ As mensagens... ⎯ Lembrei de todas as vezes que elas foram perdidas ou desisti de enviar porque as anteriores não foram respondidas. ⎯ Você nunca respondeu.

⎯ Espera! ⎯ Ele pegou o celular e depois de um tempo entregou ele para mim. ⎯ Por acaso, enviou as mensagens para esse número?

Chequei o número cuidadosamente. Eu havia decorado todos os dígitos. Porém, não eram os mesmo.

⎯ Você mudou de número?

⎯ Não, esse sempre foi o meu número.

Esse tempo todo eu tinha enviado mensagens para um número aleatório e tomei decisões precipitadas por achar que ele estava me ignorando?

A resposta é SIM.

⎯ Todos os dias, eu me perguntava porque você nunca me ligava. ⎯ Ele disse. ⎯ Eu esperei durante vários dias e noites, até perceber que você não enviaria nenhuma mensagem. Quando eu ligava para minha vó, você nunca estava em casa. Achei que isso era uma desculpa para não me atender. Era impossível uma pessoa ser tão ocupada assim.

Com todos os desencontros, iríamos nos encontrar alguma vez no futuro?

⎯ Você não vai me esquecer?

JUVENTUDE: Algum Lugar Que Só Nós ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora