Me arrependendo tardiamente

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A semana passou lentamente depois de quase invadirmos o orfanato. Embora não tenha dado certo, San-ha, Se-wan e eu tínhamos um plano em mente que não tinha como dar errado.

Era sexta-feira e eu estava consertando alguns tons desafinados na música que eu iria tocar no casamento de Si-a quando ela tivesse entrando. A melodia, ritmo e harmonia estavam em perfeita sincronia segundo Se-Wan, mas na minha cabeça faltava alguma coisa. Eu teria que descobrir logo já que o casamento era no dia seguinte.

⎯ Está faltando alguma coisa, Se-Wan. ⎯ Reclamei porque ela não estava me dizendo o que eu queria ouvir.

⎯ Não está faltando nada. Eu sei o que estou falando. ⎯ Ela parou na minha frente e colocou as duas mãos nos meus ombros. ⎯ Dessa vez, você vai se sair bem.

⎯ Como tem tanta certeza? ⎯ Perguntei abaixando o olhar. ⎯ Não lembra o que aconteceu da última vez? Você teve que tocar no meu lugar.

⎯ Isso não vai acontecer.

⎯ Se acontecer... ⎯ Fiz uma pausa querendo que minhas próximas palavras realmente não acontecessem. Eu não podia decepcionar Si-a logo no seu casamento. ⎯ Você pode me salvar de novo, certo?

⎯ Claro que posso. ⎯ Ela sorriu. ⎯ Mas não vai acontecer.

Respirei fundo e voltei a praticar. Fazia horas que eu tocava a mesma música que Si-a tinha escolhido depois que eu insisti muito para ela escolher. Ela disse que eu poderia escolher, mas não era meu casamento para que eu fizesse a escolha. Então, ao invés da tradicional marcha nupcial, Si-a escolheu uma sonata de Brahms em Ré menor.

Aquela melodia me trazia uma paz de espírito sempre que eu tocava. Portanto, eu não me cansava de começar, terminar e começar novamente quantas vezes fossem necessárias.

O fato do casamento de Si-a já ser no dia seguinte me deixava um pouquinho mais tranquila, pois na semana seguinte começariam os exames que eu teria que passar horas estudando. Eu não teria tempo para praticar a música que iria tocar no casamento caso fosse na mesma semana dos exames.

⎯ Hora de ir para casa. ⎯ Se-Wan pegou seu violino e, depois de uma breve olhada pela janela, ela acenou para mim e saiu da sala de música.

⎯ Hora de ir para casa. ⎯ Repeti as palavras para mim mesma, pois decidi que já era suficiente, mesmo que eu não tivesse encontrado o que faltava. Decido confiar no que Se-Wan disse. Se ela estava gostando, Si-a também iria gostar.

Quando cheguei em casa, a porta da frente estava fechada novamente e por isso já sabia que devia entrar pela outra que fica nos fundos da casa.

Ji-Woo veio correndo até mim de braços abertos e tive que erguer meu violino para cima porque ela estava toda molhada. Violino e água não eram palavras para se colocar na mesma frase. De jeito nenhum.

⎯ O que aconteceu com você? ⎯ Perguntei enquanto ela me abraçava deixando minhas roupas encharcadas.

⎯ Estamos brincando. ⎯ Olhei para onde ela veio e vi Eunwoo e Emma com uma mangueira espirrando água para todo lugar. ⎯ Você não quer se juntar a nós?

Balancei a cabeça dizendo que não e depois disse que estava muito ocupada para ela. Isso não era uma mentira. Eu tinha que decidir o que ia vestir no casamento e nada vinha a minha mente fazia uma semana.

Ji-Woo assentiu e voltou correndo de onde veio para se molhar ainda mais. Se isso ainda fosse possível.

Eu não entendia que tipo de brincadeira eles estavam fazendo, mas não podia deixar de sentir uma pontada de inveja. Não que eu quisesse me juntar a eles, eu só... só... estava com ciúmes. Porque isso era a única coisa que eu sabia sentir desde que disse palavras irreversíveis para Eunwoo.

JUVENTUDE: Algum Lugar Que Só Nós ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora