chapter 22

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Depois de muito tempo, voltaram a falar comigo sobre uma das coisas que me deixava mais alegre: a minha banda. O Måneskin.

A banda se encontrava em uma pausa, por causa da minha condição de saúde. Não estava autorizada nem a retomar uma vida normal, quanto menos a subir a um palco com milhares de pessoas a assistir. Mas no meio de tanta memória má, ainda me lembro da primeira vez que voltei a tocar no meu baixo.

Tinha sido há meses atrás, quando saí do hospital. Apesar das restrições todas, Dam me ajudou a segurar o baixo no meu tronco. Me lembro que desabei em lágrimas quando me apercebi que não tinha força suficiente para simplesmente vibrar as cordas.

A banda se encontrava em uma pausa, há 6 meses. Perdemos um verão cheio de festivais, incluindo a porra do Rock in Rio. Esse aí, só perdemos porque Damiano se recusou a levar uma baixista de substituição. A minha situação já estava um pouco exposta para a mídia, o que é um pouco inevitável se você é uma pessoa famosa.
E eu necessitava de voltar aos palcos, mesmo que não tivesse forte o suficiente para a pressão e o trabalho que uma tour. E porquê? Porque a música salvou a minha vida, literalmente.

Tinha apenas 15 anos. Quando a minha mãe morreu, fiquei muito doente psicologicamente. Perdi um ano de escola, e não tinha capacidade de sair de casa. Trancada no meu quarto, encontrei felicidade em encher o meu quarto de posters, e em ouvir música 24 horas por dia. Descobri artistas incríveis, especialmente mulheres que estavam no mundo do rock. E eu me identificava muito com elas, porque elas reivindicavam a chance de ser elas mesmas, em um mundo constituído por uma sociedade patriarcal fazendo parte de uma vertente da música que era liderada pelo sexo oposto. E cada vez que pensava em desistir, olhava para os posters. Por vezes, também falava com a lua, como se estivesse falando com eles.

E pela primeira vez na minha vida, me vi em uma cama de hospital não tendo a capacidade de fazer o que mantia a minha alegria de estar viva. Por isso, levei uma guitarra para a clínica de reabilitação. Criei imensas melodias, todas contando o meu processo de abstinência. Umas, muito mais profundas do que outras. E haviam umas que tinham uma melodia tão confusa que eram muito difíceis de tocar. Depois de essas composições terem ficado guardadas no gravador de voz do meu celular, decidi as mostrar a alguém.

Era um sábado à noite, na casa do Dami. Decidimos à última hora fazer um sleepover, já que não conversávamos há séculos e a Giorgia estava fora do país trabalhando. Eu, com os meu pequeno cropped preto, e ele, com um branco.

Depois de muita conversa, peguei em uma guitarra e comecei a tentar recriar as peças perdidas de uma das melodias e tentei acompanhar com a letra que tinha escrevido.

- Vic, o que você está tocando?- perguntou ele, curioso.

- Eu não estou apenas tocando. Estou contando uma história.- respondi.

Tentei tocar aquelas 5 músicas como as sabia tocar, ou como me lembrava que elas costumavam ser. As gravações de voz e melodia não estavam muito boas, por isso acho que também inventei uma parte dos acordes. Quando me apercebi, Damiano estava chorando, bem na minha frente.

- Vic, isso... isso é uma obra de arte.- disse ele, limpando as lágrimas com o seu braço.

- Eu disse que você não estava autorizado a chorar!

- Posso cantar?

- Claro, sem problema.- respondi.

Em uma madrugada inteira, além de termos dado uns retoques nas músicas, ele compôs uma música. Uma música inteira. É a isso que eu chamo um pico de criatividade.

Estava na sua cozinha, enchendo um copo com água para ele e outro para mim. Quando voltei para a sala, vi ele, com a guitarra à volta do seu tronco.

-Vitto, acho que eu criei alguma coisa.- disse ele, um pouco animado.

- Me mostra, então.- respondi.

- Eu já tenho a letra, a melodia está ainda meia perdida.- disse ele, bebendo um pouco da bebida.

Na primeira vez que ouvi a melodia, fiquei hiptonizada naquela sequência de notas. E a letra... a letra, era sobre mim. Eu notei isso.

-O que você acha?

- Está...está linda. Você já tem um nome?- respondi.

- Estava pensando na última frase da música...

"The things would be easier if you were sober."

- If you were sober?

- Exatamente.

- É uma frase muito poderosa, e significativa... Acho que já temos um nome.

Depois de compormos mais duas músicas, começamos a discutir o nome do nosso pequeno projeto, que poderia dar um álbum.

- Poderíamos lançar esse álbum a solo... só nós os dois.- disse ele.

Estávamos os dois deitados no tapete suave da sala, olhando para o teto. Quando ouvi o que ele disse, nem quis acreditar.

- Eu... eu nunca tinha pensado nisso.

- Tipo, os outros não sabem de nada.

- Nem têm que saber, certo?

- Claro, Vic.

- Sei lá, começo a achar que isso foi uma má ideia...- disse eu, começando a fnbicar um pouco nervosa.

- Victoria, Vic. Olha para mim, por favor. - disse ele, segurando na minha face. - Eu te entendo. Não deve ser fácil ficar assim tanto tempo trabalhando em um projeto baseado em uma experiência tão forte. Eu posso te dar o tempo que você quiser. Quando você se sentir confortável, começamos em mostrar isso ao público. Mas enquanto isso não acontece, essa obra de arte vai ser a nossa coisa, ok?
Quer ir apanhar um pouco de ar? Ou mais água? Está tudo bem?

Ele sempre era um querido quando via que eu não estava bem, especialmente quando tinha pequenos ataques de pânico. Era um dos únicos que conseguia me acalmar naqueles momentos, e ele sabia disso.

- Sim, está. É só um pequeno aperto no peito.

- Você quer um abraço?

- Isso nem deveria ser uma pergunta. - disse, sorrindo.

-
heyyy :)

esse é um capítulo também de introdução aos acontecimentos, é por isso que é mais pequeno.

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tks for reading <3
mel.

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