chapter 23

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"Friends are the family we choose." - Grey's Anatomy.

A recuperação é um processo difícil. E se há uma pessoa que sabe disso perfeitamente, sou eu.

Nem todos os dias são bons dias. Nem sempre acordamos com um sorriso no rosto. Em um dia, dormimos sorrindo, e em outro chorando. Às vezes, apetece continuar, e outras, desistir. Não é fácil ter motivação para recuperar todos os dias. Podem haver dias em que temos esperança de um futuro melhor, e outros em que ficamos presos tão presos nossos próprios pensamentos que parece que as coisas más nunca vão acabar.

Existem imensas formas de ajudar esse processo. E uma das únicas que de facto funcionava comigo era desabafar com alguém, mesmo que não goste de mostrar aos outros o que sinto.

Estava em minha casa, sozinha, como sempre. Estava passando por uma fase complicada, uma fase de mudanças. Nica tinha acabado de sair da minha casa, e o meu tratamento estava começando a ser menos agressivo, o que implicou mudanças na medicação, e uma dose grande de exames. Agora, se quisesse, tinha facas à minha vista e poderia beber quando quisesse. Mas foi para esse momento que me preparei nesses meses todos de terapia, e não poderia deitar isso a perder.
Os primeiros dias não foram fáceis. A independência, que era uma coisa que tanto desejava, agora me assustava, porque tinha medo de mim mesma. Não sabia do que a minha própria mente era capaz. Por isso, tinha muito medo de cometer uma loucura, apesar de por vezes desejar que eu não estivesse naquele lugar. Sei que sobrevivi a aquelas coisas todas por alguma razão, mas se há uma coisa que nos sentimos quando uma tentativa de suicídio falha, é frustração.

Me lembro que estava no estúdio, com os outros 3. Por uma porta, vi uma mulher ruiva de cabelo ondulado entrar. Que mais tarde, foi me apresentada sendo a baixista substituta da banda, a Alice, uma britânica. Era uma substituição temporária, enquanto eu não estivesse com capacidade de voltar aos palcos, mas mesmo assim, ver eles tocando sem mim doeu muito. Nada contra ela, ela até era mesmo muito querida e criativa, mas isso me fez sentir ainda mais substituível.

Quando saímos do estúdio, fomos para um jardim perto da zona, para conversar. À medida que ia caminhando, me sentia mais desorientada. A minha cabeça andava à volta, e sentia uma dor abdominal insuportável. Não comia quase nada há 3 dias, desde que tinha tido a minha recaída.

Depois de falarmos um pouco, Ethan e Alice tiveram que ir embora, e momentos depois, Thomas também já não estava lá. Ficou só eu e Damiano, olhando para o céu, observando o quão lindo um pôr do sol pode ser.

- Vic, você está bem? - perguntou ele, preocupado.

- Você quer que eu seja sincera ou que eu diga o que é mais aceitável de ouvir?

- Seja sincera, Vic.

- A vida... a vida anda uma merda. Mas ao menos, ainda tem muita coisa linda nesse mundo para ser admirada, como esse pôr do sol.- disse eu, apontando para uma parte rosada do céu.

- Eu tenho uma pequena ideia. E se a gente fosse a uma festa?

- Quando?

- Hoje!

- Mas você não gosta de festas, e eu não bebo...

- Sim eu sei mas... a gente pode se divertir sem álcool.

- É verdade... Me deixa então mandar mensagem ao Thomas, ele pode querer vir connosco.

- Não, Vic.- disse ele, pegando no meu braço.- Só nós os dois. Ultimamente temos estado sempre com eles, e acho que nunca fomos os dois sozinhos a uma festa.

- Uhhh, ok. Pode ser.

- Às 10 e meia quero ver você na frente do seu condomínio com a sua melhor roupa.- disse ele, dando um sorriso ligeiro.

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