chapter 52

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— Victoria, podemos dizer que está tudo pronto?— Diana questiona.

—Está.— e suspirei de alívio.

Com noites irregulares de sono, olheiras marcantes e ainda usando uma fralda, eu estava na reunião final com uma equipa que me acolheu por meses com muito amor, os co-fundadores dessa ideia maravilhosa. Eu nem estava formada, e tinha fundado um pequeno atelier, e isso era inacreditável.

Os meus dias estavam organizados de forma a que tivesse a flexibilidade de trabalhar à noite, para que de manhã eu conseguisse cuidar do meu pequeno pacotinho de amor. Eu não queria permitir eu mesma de ficar magoada com tudo o que tinha acontecido, que parecia que vivia sem pagar renda na minha mente. Eu tinha um ser para criar.

Eu achava que estava pronta para o encarar, mas eu não estava, de todo. Porque lá no fundo, tudo entrava no meu coração com a mesma profundidade de uma navalha. Por isso mesmo eu o evitei ver.

Me lembro perfeitamente de que eu estava de 3 semanas pós-parto quando o casamento aconteceu. Ainda náo tinha recuperado completamente, e perdia peso a cada que passava, e a rotina de antes começava a voltar aos poucos. 

Flores com uma leve tonalidade champanhe decoravam quase todos os arredores da Pollok House, que tinha paisagens dignas de um romance de fim de verão. Cada vez que entrava naquela capela, a fotografava internamente cheia de pessoas, com uma guitarra acústica tocando no fundo, e a minha Harp no meu colo.

Os dias finais de preparação se assemelhavam a um cenário de guerra, com materiais saindo e entrando, escadas deitadas em corredores, pessoas falando sem parar e todo o mundo chamando os responsáveis. O departamento da moda tinha sempre coisas para fazer, e o de catering parecia que conseguiria decorar melhor os nomes de todos os países do mundo do que não esquecer alguém da lista de convidados. Quando o grande dia chegou, isso tudo duplicou de dimensão.

Fui das primeiras a ficar pronta, e a ter a maquiagem e o cabelo arrumados. Ana tinha pensado em me colocar com o meu signature look: a sombra carregada na medida certa e o cabelo em camadas. E ela não poderia estar mais certa. Aquele visual já me acompanhava há tanto tempo que a sua singularidade me trazia conforto e nostalgia de momentos tão bons. A minha roupa era aquele tipo de peça que misturava o atemporal com o intemporal, que estava entre um vestido clássico e um macacão sem sentido, que mudava de descrição cada vez que alguém o via. Foi essa a mensagem que eu queria passar, porque aquela era a verdade, era isso que eu estava sentindo durante aqueles últimos meses. E não nego que eu estava insegura com o meu corpo, eu tinha ganhado 12 quilos e é difícil você amar você mesma daquele jeito, depois de fases em que você deixou o seu corpo em jejum até ele cair no chão.

Tive a oportunidade de ajudar Laura a se vestir, de ver o primeiro vestido que eu tinha projetado para outra pessoa sem ser eu encaixando no seu corpo como uma luva, a primeira peça entiquetada como Aria Project. O terno de Ethan tinha sido feito por um atelier local na Costa Rica, com alguma ajuda minha.

Harp usando um vestido de manga bufante feito de linho com flores azuis bordadas que eu tinha comprado na primeira vez que comprei roupas de bebê, e o par de Doc. Martens mais pequeno que eu tinha visto na minha vida. Ela era tão miniatura que todas as suas roupas ficavam largas, e tão sensível que não era adequado a levar para um sítio com tanta gente. As palmas das suas mãos eram pequenas e os seus dedos compridos, como os de Dam, e tinha o mesmo sinal que eu tenho abaixo do meu olho. No meu colo ela dormia tão serenamente que parecia que apenas esse gesto curava todos os meus problemas. 

Estava na entrada do hotel pronta a sair no carro que transportaria Laura até à capela, até que encontrei uma figura no reflexo do vidro esfumado. Ethan estava rodeado de pessoas e com um sorriso contagiante, Thomas estava a seu lado super elegante com Lavínia na sua mão, que corria para ir na nossa van — afinal, o que seria dele e dele sem chegarem atrasados a tudo. Mais pessoas se aproximavam, porém a van saiu do local logo a seguir.

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