chapter 37

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DAMIANO'S POV

"Hora da morte: 17:34".

Muitas vezemos olho para trás para o dia que as nossas vidas mudaram. E é difícil lembrar como enfrentei isso. Como amei a menor coisa que já vimos. Desde o primeiro momento dela, estávamos comprometidos com aquela amostra de gente. Com o seu nariz minúsculo e olhos lindos, dedos que mal podia tocar.  Dava ela do meu colo para o colo da enfermeira em vez do colo da sua mãe ou da sua família. E queria fazer muitas coisas com ela. Queria lhe ler uma história ao adormecer, cantar uma balada, levar ela comigo para os palcos. Mas, de um momento para o outro, me retiraram esse direito.

Logo que os médicos foram atualizar os outros, todos tentaram ir ter comigo. Mas eu, eu não respondia. Tinha bloqueado, estava em choque. Só sabia chorar nos braços da médica, que me sentou em uma cadeira fora da UTI. Quando tínhamos dado à nossa filha o nome de Angel, nunca pensamos que ela iria ser realmente um anjo. Angel Grace de Angelis David. Esse era o nome dela. Grace foi em honra de uma grande amiga nossa, a Gigi, como a gente chama ela. "Se lembre sempre que, apesar de não parecer, você é mais corajoso e forte do que você pensa.". disse uma das enfermeiras, colocando uma mão nas minhas costas.

Depois de uns minutos, me deram a oportunidade de a pegar no colo, sem ventilador, sem fios. Só ela, a minha pequena. Estava embrulhada em uma manta lilás, e já não estava com a pele azul como tinha antes. Ainda a sentia quente, mas não sentia mais nada. Os médicos disseram que provavelmente a sua síndrome teve complicações, e que, ela acabou por sofrer um infarto. Para mim, isso não era justo. Nunca deveria ser justo perder alguém que amamos, por mais pequena que ela seja. Por trás de cada um de nós que já perdeu um filho, estava um pai e uma mãe com pequenas roupas dobradas dentro de um armário novo, um stock de fraldas atrás da porta, a primeira chupeta, o primeiro brinquedo, os móveis novos que eram difíceis de montar. Apesar de esse novo mundo da paternidade ter sido um completo choque para mim, foram essas coisas todas novas para experimentar que me entusiasmavam, e me deixaram com vontade de aprender mais. Considerava pela primeira vez avançar com um pedido de divórcio para a Giorgia para poder começar uma vida nova com a Victoria, como uma pequena grande família, rodeada de um bom ambiente, pessoas incríveis e privilégios.
E do sexto andar do hospital vieram ainda mais notícias: Vic estava caminhando lentamente para um quadro de Coma Diabético. Isso não poderia ser real. Como era suposto eu passar por isso tudo sem ela, sem o suporte dela, sem ela nem nunca ter segurado na sua própria filha? Ninguém sabia como responder a nada.

Me levaram para uma sala, com uma doutora muito simpática, compreensiva e gentil. Os psiquiatras são mesmo assim desse jeito. Ela era italiana, por isso foi muito bom conseguir expressar o que sentia na minha própria língua, com as palavras mais apropriadas. O meu diagnóstico de transtorno de ansiedade veio quando a banda saiu do X Factor, após ter começado a me sentir mal antes de performances live sem algum motivo aparente. Comecei a ser medicado semanas antes de eu descobrir tudo o que se passava com a Vic, antes de vencermos o Eurovision, depois de estar a me sentir anormalmente ansioso com tanta pressão do concurso. Depois, tudo começou a piorar, mas ninguém sabia nem podiam saber, especialmente Vic. Naquele momento, estava a tomar conta dela depois da sua primeira tentativa de suicídio, e não estava me permitindo preocupar com outras coisas sem ser ela e o seu bem-estar. Depois, quando as coisas começaram a ficar complicadas e os meus sentimentos se tornaram confusos, não haviam medicamentos que me fizessem ficar bem, por isso, comecei a beber muito, de um jeito muito involuntário. E quando percebi, isso já se tinha tornado uma rotina diária. E um tempo depois, depois de eu melhorar, notei que quem estava passando pela mesma coisa que eu estava passando era Vic. Mas eu fui um idiota e vi isso tudo passar à frente dos meus olhos e não fiz nada. Até que, aquilo aconteceu, pela segunda vez. Essa vez me fez ver muita coisa diferente, e me mudou ainda mais como pessoa. Sim, só percebemos o quanto uma pessoa é verdadeiramente importante para nós quando estamos na iminência de a perder. 

Fiquei cerca de 2 horas conversando com a médica, e outras 3 levando ansiolíticos na veia. Estava instável emocionalmente de uma forma inesperada, que eu nem sabia que poderia ficar assim tão mal. E finalmente, aceitei o tratamento, vesti a roupa do hospital e fui internado.  Apresentava batimentos cardíacos acelerados, desidratação, tonturas, para não falar de uma enorme falta de apetite. Leo estava sempre que podia comigo, me acompanhando em tudo. A minha mãe e o meu irmão também, mas teriam de voltar para Roma dentro de pouco tempo. Nica não estava nada bem, e não largava a cama da Vic, mesmo que ela estivesse inconsciente. 

Enquanto estava falando por celular com o nosso empresário, a mesma médica que nos acompanhou desde a nossa entrada no serviço de urgência até ao óbito entrou no meu quarto, com alguns papéis. Sim, era a certidão de óbito da Angel. Tenho quase a certeza que derramei uma lágrima no papel, mas não me lembro muito bem. Depois, ela disse que iria falar com nós os dois mais tarde, para tratar do que fazer ao corpo dela.

Nica, Thomas e Ethan tinha acabado de chegar ao meu quarto quando estavam a me mudar o soro, e traziam alguns donuts. Os olhos dela estavam inchados de tanto chorar, como os dos outros. Me vieram todos me abraçar, embora eu parecesse apático por vezes por causa da medicação. Como Ethan e Thomas não chegaram a ver a Angel ao vivo, mostrei as últimas fotos que tinha com ela, as mais apresentáveis. Tinha outras duas de Leo e Nica com ela no colo, e um vídeo da minha mãe a ver ela pela primeira vez. Aqueles vídeos e fotos me traziam conforto, mas me colocavam a lidar com uma dor demasiado forte que eu ainda estava tentando reconhecer.

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oi gente!
precisaram de agarrar os lenços nesse capítulo? eu também😭
de novo, preciso muito do vosso feedback! Tenho muito a agradecer por terem me dado os melhores leitores <3.

mel:)

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