chapter 53

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VICTORIA'S POV

 Harper estava sempre com fome e não gostava de ficar sozinha. Ela só queria ficar no meu peito, dormindo silenciosamente. Ela gostava de colo, de música pop e de tentar desenhar. À noite, não dormia sem um paninho lilás perto da sua cabeça. De todas as comidas, ela se amarrava no abacate. No canto do seu berço, ela colocava quase todos os seus brinquedos. Quando a gente dizia que não para ela, ela insistia muito, como alguém que eu costumava conhecer. Amava usar meia, odiava usar tênis. Me chamava mama o tempo todo, Vitto quando viu que Nica me chamava assim. As suas pessoas favoritas eram maioritariamente figuras maternais. 

365 dias com ela passaram rápido. Ver ela abrir mais os olhos, começar a ver cores, a chorar menos,  me reconhecer, a agarrar em objetos, a sorrir, a gatinhar, a andar. Com o tempo, as suas expressões faciais assentaram melhor à sua face, o seu cabelo loiro começou a ficar ondulado. O seu sorriso e expressão de raiva davam algumas parecenças ao seu pai.

Todos amavam Harper. A mídia, a minha família, os meus amigos, os nossos fãs. 6 meses depois de nascer, ela foi comigo, com Ethan e com Thomas para o Tonight Show do Jimmy Fallon, para apresentar o nosso EP que foi adiado muitas vezes, Aidan (Nadia). Levar uma bebê, a minha bebê, para um programa de audiência quase internacional me assustou muito, mas ao mesmo tempo sentia a pequena necessidade de levantar ela ao mundo e dizer, essa é a minha filha.

 Voltei a Trastevere após quase um ano, agora com um carrinho de bebê rolando sobre a estrada. Vi aquela que era a casa que eu ajudei a desenhar na vida real. Vi que tinham plantado lavanda e girassóis nos arredores, como eu queria. Usei a chave que tinham me dado há uns tempos atrás, e entrei. Estava vazia, ainda cheirava a tinta fresca. Vi o meu quarto, o nosso quarto. Sem lençóis. Sem quase nada. Apenas um quadro A3 que costumava estar na minha casa, do nosso casamento. Revi aquele dia assim que vi aquele quadro. A noite de núpcias, o vestido, a festa, o ambiente, as pessoas. Ele. Quando ele era meu. Apenas meu.

Agora Harper estava no meu colo, com um brinquedo ao peito. Pela primeira vez, tinha entrado no seu quarto. Estava ainda com móveis dentro de caixas, roupas em uma caixa com o nome ANGEL. As paredes eram creme, com uma pintura de uma árvore. Era totalmente diferente do seu quarto em casa, que era com as coisas que ela mais gostava. Os brinquedos favoritos, as roupas favoritas, os livros mais bonitos, imagens dela quando mais pequena. Nesse quarto, ainda repousava em cima de uma mesa de apoio à cadeira de embalar um quadro meu e dela, na primeira vez que nos conhecemos. Coloquei isso lá para me lembrar que todos os dias havia sempre uma razão para ficar, uma razão para ficar, apesar de tudo não ser perfeito como eu antes imaginava. Que apesar do seu pai não ser presente, eu conseguia fazer os dois papéis ao mesmo tempo. 

Eu estava em casa, lendo um livro, após de ter tido uma tarde divertida tentando gastar a energia de Harp para ela adormecer. Enquanto ela adormecia, eu amarrava suavemente o seu cabelo em dois elásticos. Quando ela começava a ressonar, era sinal que o seu sono profundo tinha começado. 

Em uma mensagem que tinha recebido há uns dias atrás, os meus amigos me convidaram para sair. Por sorte, a babysitter de Harper estava livre e poderia passar lá a noite. Apesar de agora ter uma responsabilidade maior, não tinha deixado de me priorizar por vezes. Momentos sem ela também são importantes, para eu ficar mais calma e me divertir. Mas eu era a maior mãe galinha do mundo. A cada hora, via as imagens na câmara de vigilância, para ver como ela estava. E quando notava algo de errado, telefonava logo para a babá. Nessas câmeras já vi coisas muito engraçadas com ela roubando um dos brinquedos de Chilli, que só aceitou a derrota e ficou a observar a pequena. 

O pós-parto tinha me feito mudar um pouco o meu estilo, e sofrer bastante também. Perceber que celulite era normal, que estrias eram inevitáveis e que o meu corpo nunca iria voltar ao que era me deixou muitas vezes sem comer. O diagnóstico de um transtorno alimentar no pós parto veio, e estava começando terapia.
Me vesti em uma camisa de botão branca, com uma calça bege. Essa roupa nunca costumava falhar. Saí de casa enquanto Harp dormia com outra mentalidade, a que agora tenho responsabilidades e não posso me esquecer disso.

Em um vespa, Anthony estava me esperando, no início do estacionamento. Martina estava atrás, com o seu novo Benz. Chegamos ao restaurante, com uma vibe intimista, junto ao mar. Deni e Tom chegaram atrasados, como sempre. Sentia saudade daquele ambiente, que me lembrava levemente daquele verão que tínhamos passado em Ibiza, há um tempo atrás. Ou das semanas em Puglia.
O meu celular vibra sem parar, de novo.

Chamada perdida. De França.

França? Como de França?

Não me importei muito, até que o mesmo número não parava de ligar. Aprendi a ser mais paciente desde que fui mãe, por isso atendi, quer fosse a pessoa que estava por trás.

"Fala do escritórios de advogados Soares. Boa tarde," uma mulher simpática diz.

"Boa tarde. De certeza que não é um engano?"

"Não. Posso perguntar uma coisa?"

"Sim, óbvio."

"Você por acaso foi paciente da área obstétrica ou de cuidados intensivos entre os dias 17 de fevereiro e 7 de março de 2026?"

O meu coração gelou. Eu fiquei quase imóvel.

"Não se preocupe, a gente tem um contrato de confidencialidade."

"Sim, suponho que sim."

"A minha cliente quer falar consigo. Talvez pode se lembrar do nome dela," ela passa o telefone. "Victoria," reconheci logo a voz, "É a Claire."

Claire. A minha colega de quarto, a mãe dos gêmeos, que nasceram na mesma altura da Angel. Ela estava no mesmo quarto que eu por complicações com diabetes. Eu nunca mais tinha sabido nada dela, ela teve alta quando eu estava em coma.

"Uh, uau. Ao tempo," respondi, um pouco confusa.

"Olha, eu odeio dizer isso a você primeiro, não sei se os seus empresários já receberam a notícia. A minha advogada conseguiu os informar."

"Pode falar, o que é?"

"Pode não se lembrar dela, mas sabe quem é a enfermeira Corinne?"

"Ela foi quem me informou da Angel..." suspirei.

"Eu me lembro disso. O hospital descobriu que existiram inconscistências nos casos de 18 bebês pelo menos durante esse tempo. Todas ligadas a ela. Ela... ela.... desculpe, eu não estou muito bem. Ela soltou as informações Victoria, quer dizer, tem chances grandes de ela ter espalhado informações privados sobre os nascimentos no hospital. Eu vi o sobrenome do seu marido lá. Tava tipo, David, Angel. Tem a nacionalidade, o peso, causa da morte, tudo. Eu queria saber se você apoiaria nós a lutarmos por justiça."


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