chapter 40

99 7 2
                                    

"You float out at sea, and then one day you find a port, say, I'm going to stay here a few days. A few days becomes a few years. And then you forgot where you were going in the first place. And then you realize you don't really give a shit about where you were going because you like where you're at." A Star is Born (2018).

DAMIANO'S POV

Roma, Zurique, Estocolmo, Budapeste, Cracóvia, Istambul, Atenas, Amsterdão, Dublin, Copenhaga, Viena, Madrid, Lisboa, Milão, Praga... Quase 2 meses depois, tínhamos acabado de chegar a Paris, França, no dia 18 de junho, aniversário de meses da Angel, para fazer o último concerto da tour. Estávamos exaustos, mas felizes. Foram 5 semanas intensas, mas que valeram totalmente a pena.

Após aterrarmos em solo francês, apenas tivemos tempo para ir para a arena fazer o sound-checking e para nos vestirmos. Durante os 20 concertos que demos, usamos roupas desenhadas por ela, Vic de Angelis, todas iguais, mas de cores diferentes. Vestimos rosa, azul escuro, lilás, preto, indigo, verde escuro, vermelho, castanho, fuschia, pistachio, ...e o creme ficou para o fim. Isso ficou como uma tradição: vestir creme nos momentos mais importantes. O estilo de Vic tinha mudado completamente, e agora, ela já tinha mais vontade de vestir vestidos a partir do momento que começou a desenhá-los, a pensar nos seus detalhe, que ela conseguia colocar o seu lado feminino e a sua essência única. Nas noites que ela tinha dificuldade em adormecer, via ela presa ao seu caderno de rascunhos, que estava cheio de desenhos. Desde que ela recebeu a notícia que as inscrições na faculdade de moda, ela tem ficado super animada com isso. E eu tenho a apoiado mais do que nunca. Sentia que ela está cansada, mas de certa forma, mais satisfeita do que nunca. Reparo na forma que ela se deita junto a mim à noite, e cada vez mais noto que ela adormece mais depressa, muito profundamente, na forma que ela consegue gerir o seu tempo. Essa tour em vez de trazer o inferno até ela, a ajudou de uma maneira incrível. 

Uma pequena parte das pessoas que viram os nossos concertos nos contavam as suas histórias. Suicídio, depressão, drogas, dependência emocional, transtornos alimentares e ansiedade eram as mais comuns. Nos agradeceram por termos retratado temas ainda não são falados na nossa sociedade, e por termos abraçado os seus maiores pesadelos com mensagens de esperança e leveza. Em cada uma das noites que contavam histórias desse género à Vic, ela chegava ao nosso quarto de hotel e chorava no meu ombro, de tão emocionada que ela ficava. "Vic, você nunca teve sozinha nessa luta," eu lhe dizia muitas vezes. Uma única vez, uma jovem em Dublin nos contou a sua história, de que tinha perdido a sua bebê prematura, após ter saído de uma clínica de reabilitação para toxicodependentes. O nome da mulher? Gigi, diminutivo de Grace. O nome do meio da Angel. Foi uma coincidência enorme que nos comoveu imenso, porque nunca tínhamos conhecido mais alguém que tivesse passado por uma situação parecida com a nossa. Deixei escapar uma lágrima nesse momento, mas a Vic se manteve forte. Foi a nossa forma de dizer que ela não estava sozinha sem o propriamente dizer por palavras. Queríamos lhe dizer que entendíamos a dor dela como fosse nossa, mas não poderíamos. A perda de Angel, tanto como a internação de Vic foi um processo que somente as pessoas mais chegadas a nós tinham conhecimento.

Lá estávamos, eu e ela, sentados em cima de uma daquelas caixas que eles levam para o backstage com os instrumentos e as nossas roupas, conversando sobre o novo sabor dos Dunkin' Donuts que tínhamos provado na noite anterior e ficado viciados atrás de um holofote de luz roxa. Faltavam poucos minutos para subirmos ao palco, mas dar o concerto final da tour em vez de me deixar nervoso, me deixou descansado. Naquele mês, me senti finalmente livre, sem segredos. Me sentia livre para amar Victoria - coisa que por muitos anos tinha que esconder - para demonstrar isso tanto para ela como para o mundo, para recuperar o tempo que perdemos descobrindo sentimentos confusos dentro de nós mesmos. E isso era o mais importante para mim: ela. Porque eu não queria a deixar ir embora, queria ficar com ela para sempre. Clichê, mas é verdade. Ela é especial, e nunca tive um relacionamento tão próximo com alguém em toda a minha a vida. Esse amor já me fez fazer coisas malucas, mas eu acho que é assim mesmo que isso mesmo funciona. Para amar, você tem que ter coragem.

A música de fundo parou, a multidão começou a gritar e os holofotes de luz quente se acenderam. E entrámos no palco de mãos dadas, como sempre. Nos esperavam em cima do palco 2 cadeiras altas, um microfone à altura delas e 1 guitarra. Connosco, se juntavam alguns instrumentos de fundo, que foram a "nossa banda" durante esse pequeno período de tempo. As 11 músicas ecoaram no espaço, e os vários minutos de aplausos também. Quando estou prestes a pegar no tripé do microfone para cantar a última música, Vic o inclina para a sua direita.

- Esta música foi escrita por mim de madrugada em um quarto de hotel em Viena, Áustria, é das faixas mais recentes. É para todos aqueles que, de alguma forma, já perderam alguém ou algo que não sabiam que era tão importante até o perderem. Queria também dedicar esta música e este concerto a alguém que eu queria muito que estivesse aqui, mas que infelizmente não pode estar presente. Senhoras, senhores, outros, para encerrar a nossa última noite de Lullabyes on Tour, My Little Love. Obrigado a todos.

Aquilo parecia ensaiado de tão bonito que foi. Mas não foi, ela nunca tinha dito aquilo antes. Ela estava falando da Angel naquela música, da capacidade que amar uma coisa tão pequena. Um assunto que ainda lhe era muito sensível. E mesmo assim, ela teve a força de tocar bem de leve naquele assunto. Se tudo tivesse corrido bem, Angel estaria algures na audiência com alguém do management, com apenas 4 meses de vida. Provavelmente, a sua identidade ou parentalidade ainda não tinham sido revelados ao público, como tínhamos planeado, e só iríamos tocar no assunto assim que ela tivesse 1 ano de idade. Agora, não a tínhamos presente nos nossos braços, mas nos nossos corações.

Quando ela acabou de tocar o último acorde da música, agarrei a sua face e a beijei em frente daquela audiência gigante com muito orgulho. Orgulho dela, orgulho de nós.

Paris, 18 de junho vai sempre ficar marcado como um dos concertos mais tocantes que já fiz na vida. Saímos da arena em lágrimas, abraçados um ao outro. 

Chegando ao hotel, em vez de irmos jantar a algum restaurante bom e voltarmos para casa, decidimos ficar mais uma noite, e fazer as coisas como eram antes. Uma noite, uma pizza, um filme. Mas desta vez, com muito amor pelo meio.

-

"I'm off the deep end, watch as I dive in

I'll never meet the groundCrash through the surface, where they can't hurt usWe're far from the shallow now." in Shallow, A Star is Born. Lady Gaga and Bradley Cooper.

GOLDWINGOnde histórias criam vida. Descubra agora