chapter 54

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4 de outubro. Milão, Roma.

VICTORIA'S AND DAMIANO'S POV

Victoria: Eu não poderia não ajudar. Eu tinha todos os privilégios e dinheiro para conseguir um julgamento justo, mesmo que isso não fosse sair em meu favor. Mas foi difícil para caralho voltar para Paris depois de quase 3 anos. Para o lugar em que tudo aconteceu. Para o desaparecimento do meu querido amor. Para os detalhes, para os mesmos lugares eu estava anos atrás. Para investigações, questionários, interrogatórios.

Damiano: É óbvio que eu me lembro do momento em que eu soube de tudo.

Os meus primeiros 6 meses de reabilitação foram os meses mais tristes da minha vida. Ninguém consegue alguém que não quer ser ajudado. Eu não mostrei nenhum sinal de melhora em 6 meses, e fiz de tudo para conseguir tocar de novo em substâncias, não porque eu queria, mas porque eu necessitava. Mas de alguma forma, aceitei que estava doente, e que tinha de ser ajudado, e aos poucos, as coisas foram voltando. Os dias estavam voltando a ser coloridos, e as conversas dos terapeutas começaram a fazer sentido. E assim, ganhei o direito de fazer telefonemas, de partilhar um quarto, de ouvir música, e com isso, conhecer a minha filha. Leo me mostrava fotos raras dela, ou me contava os seus progressos, e a forma como ele a descrevia era sem defeitos. 6 meses antes de eu ter alta, recebi uma visita dos meus advogados com uma convocatória em mãos para testemunhar em um tribunal estrangeiro. E só dois meses depois me informaram que era sobre Angel.

Victoria: Eu não parava de pensar no julgamento. O medo era constante, um medo de tudo à minha volta. Ninguém sabia se Dam estava capaz de dar um testemunho decente, ele estava enfiado em uma clínica psiquiátrica por quase 1 ano, e nenhum detalhe escapou por mim se não fosse por Leo. Mas tínhamos conseguido uma saída temporária de quase 15 dias para a viagem para França.

Damiano: O meu guarda-roupa estava baseado em roupa desportiva, tênis sem cadarços e uma política de quando usar jóias. As únicas coisas que me lembravam de quem eu era antes eram minhas tatuagens, e a minha aliança, recuperada depois de eu ter feito todos os exames que precisava. Mas a coisa começou a ficar real quando Leo chegou para me visitar com uma mala de viagem, e 3 roupas formais diferentes que me ficavam em sua maioria largas. 

Victoria: Eu fiz questão de eu ir o buscar à clínica. Eu precisava de fazer isso, de ver a situação com olhos de se ver, e sabia que bem poderia pegar um voo direto da Dinamarca para França e não trocar nem uma palavra com ele. Mas eu queria explicações, mesmo que não fossem verbais. 

Damiano: Eu não sabia quem é que iria me tirar daquele sítio, apenas assumi que era Leo. O medo consumia o meu corpo na medida certa, porém a sensação de que estava liberto ultrapassava tudo. A sensação que era de novo eu mesmo. A minha mala estava perto da porta de saída, à espera de sair de um ciclo tão escuro. 

A enfermeira chegou ao meu quarto e me informou que o meu transporte já tinha chegado. E foi aí que eu vi Victoria encostada na parede no corredor, em um impasse entre o interior do quarto e o exterior, com um semblante sereno, e uma boina na cabeça.

Victoria: Eu não conseguia acreditar que aquele era o Damiano que eu tinha encontrado em Glasgow. Porque não era. Ele renasceu.

Damiano: Sei que naquela hora eu não sabia o que dizer. Tinha medo do que poderia sair da minha boca. Mas do outro lado, Vic elevou o olhar e disse "Vamos?". O sentimento que palpitava dentro de mim era o mesmo conforto que uma criança sente quando adormece em um lugar e sente a sua mãe a levar para a sua cama calmamente, até chegar ao conforto do seu colchão que já é familiar.

Victoria: Sabe, eu queria estar neutra. Mas eu não conseguia. Vê-lo daquela forma despertava algo em mim. Não era ódio, não era amor, não era felicidade. Era muita saudade. Saudade foi aquilo que eu deixei naquele quarto de hotel dos Estados Unidos antes de ir para Dinamarca. Saudade foram aqueles meses em que eu jurava que já não sentia nada, mas o coração apertava. Saudade, eram também as fotografias, os vlogs editados em um portátil estragado, um par de bilhetes de avião e o amor que fica. Saudade não se explica, se sente.

Eu conseguia perceber que ele estava com medo. Por vezes via a sua boca a abrir no desejo de falar algo, e de lá só saírem palavras mudas. Via também a forma de como ele enrolava os seus braços à volta do seu corpo e desejava um abraço, mas não o pedia. 

Damiano: Eu queria tanto tocar nela. Queria porque eu não tinha muito bem a confirmação que aquilo tudo era real. Mas eu não fiz nada disso, e apenas permaneci neutro pelo resto da viagem. 

Victoria: Aquela viagem de carro foi silenciosa, apenas acompanhada de uma música na rádio com um volume muito baixo. Eu até conseguia ouvir a respiração dele. 

Damiano: Ela estava linda. Eu poderia gastar todo o meu tempo apenas observando a cartilagem perfeita do seu nariz, ou o formato dos seus olhos.

Victoria: Eu acho que nunca imaginaria Damiano de cabelo comprido e barba de novo até aquele dia. Mas ele estava assim mesmo ao meu lado, parecendo Jesus. Foi... foi incrível.

Damiano: Ela me levou para um hotel, nas proximidades, mas um pouco afastado do centro da cidade, que já por si é pequena. Foi confuso entrar em contacto com a realidade depois de tanto tempo, de ver coisas como elevadores, espaços com muitas pessoas e pessoal com roupa formal. Me perguntava porquê que estávamos naquele local, já que o nosso voo era supostamente dentro de pouco tempo.

Victoria: O que eu fui fazer naquele hotel? Buscar minha filha, ué. (risos) Ela não iria ficar sem mim por 2 semanas. Mas Dam não sabia disso.

Damiano: Do outro lado da porta do quarto, conseguia ouvir uma risada familiar. Eu poderia reconhecer o riso do Leo em qualquer lugar e em qualquer circunstância. 

Victoria: Mais emocionante do que ver o nosso grupinho todo junto de novo, foi apenas quando na meia lua que eu, Damiano, Jacopo, Leo, Laura e Thomas formávamos, apareceu, entrando nos seus próprios pés pequeninos, Harper com a mão entrelaçada em um dos dedos de Ethan, com um macacão de ganga e um body do Snoopy, com o cabelo solto e uma pequena mala que ela gostava de levar para todo o lado. E eu vi o olhar de Damiano brilhar como uma bola de espelhos.

Damiano: Você conhece aquele sentimento de que você pertence a algum lugar? De que aquele é o seu espaço, a sua casa, o seu porto de abrigo? Se conhece, então, foi exatamente isso que senti ao ter na minha frente uma menina de olhos azuis que em todos os movimentos imitava as expressões do amor da minha vida.

Victoria: Eu vi ela olhando ele, ele olhando ela. O seu corpo pequeno e estreito se inclina para mim e diz, entre palavras imperfeitamente formadas 'Mama, chi è'. 

Damiano: E o meu coração doeu, muito.

Victoria: Eu não sabia o que responder. Apenas disse 'É o Damiano, amor.'

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