chapter 33

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Foram 14 cidades, 14 estados, 14 viagens de avião, 14 vezes que eu atuei sempre com milhares de pessoas assistindo. Após 2 meses intensos, a nossa tour pela América do Norte tinha acabado no Paramount Theatre em dezembro, em Seattle.

Entre correrias, muita pressão, viagens, entrevistas e eventos, eu continuava grávida. 13 semanas de gestação, o que equivale a três meses. O cansaço excessivo, as mudanças corporais e os enjoos matinais eram bem presentes, mas eu sabia como disfarçar isso. Via todo mundo à minha volta preocupado comigo, porque enquanto eles saíam depois de um show, eu estava me arrastando para ir para o hotel. Não sabia se lhe ia contar sobre isso, sobre o bebê. Tinha medo da sua reação, de ver isso mesmo a acontecer. Por vezes, nem parecia real que aquilo tinha mesmo acontecido. Tipo, como é que é possível? Ele supostamente não poderia ter filhos, e ele tentou dezenas de vezes com a sua companheira. E na primeira vez que ele tem um one night stand com a sua melhor amiga, ela engravida, de um bebê saudável. Porquê não abortei? Porque se algum dia eu o perdesse por alguma razão, aquele pequeno ser humano iria sempre ter uma parte dele, e uma parte de mim. Muitas vezes, pensava que isso não era real. Mas era, e tinha acontecido. Eu estava grávida. Não era mentira.

Na consulta que tive em Seattle, descobri muita coisa. Existem três trimestres na gravidez, e eu tinha acabado o primeiro. Essa fase era crucial, porque se estavam formando os seus órgãos, e o seu funcionamento começa. A minha data de termo era perto dos dias 26 a 30 de maio, perto da tour acabar. Eu sabia que eu não iria conseguir esconder isso tudo até ao fim mas por enquanto, escolhi ignorar esse facto. O bebê também já conseguia ouvir sons, por isso poderia falar com ele. Nesse caso, ele ouviria muita música rock, pessoas gritando. Coitado do meu pequeno.
A minha barriga tinha começado a aparecer, e só de olhar para ela me sentia estranha e feliz ao mesmo tempo. Lentamente, ao longo dos dias, os enjoos começaram a diminuir, e comecei a ter mais fome. Sentir que alguém estava crescendo dentro de mim era muito impressionante, e me fazia sentir mágica, apesar de isso ser também assustador. Ao sair da consulta, peguei um Uber e voltei ao meu hotel, para arrumar as minhas coisas. O voo para Vienna era em pouco tempo, e eu tinha prometido à equipe que não iria chegar tarde. Aquele dia era daqueles cheios de pressa, coisas marcadas. Mas apesar de tanta pressão, me mantinha calma. Mas os outros, não. Sentia Damiano muito tenso nos últimos dias. Desde que aquilo aconteceu em agosto as coisas não voltaram a ser as mesmas, mas por vezes o meu senso de empatia consegue ver tudo. Mas à mesma, ele se preocupava comigo, falava comigo, trabalhava comigo. Porém de um momento para o outro, ele mudou para toda a gente. Há quase 1 semana que se encontrava mal com nós os três, e isso tudo estava sendo um caos. Mal socializámos por essa semana, muitas vezes permanecíamos nos nossos quartos de hotéis em vez de sair. Coisas dessas acontecem, brigas acontecem. Afinal, apesar de tudo, somos uma banda, com 4 pessoas diferentes, 4 personalidades diferentes, 4 cabeças pensando em coisas diferentes. O voo ainda era longo, de aproximadamente 16 horas, com escalas. Muitas vezes, como não tinha tempo para descansar, a única oportunidade que existia eram esses voos longos. Era perto das 5 da tarde na Áustria, e estava um dia lindo, com imenso sol. Estava há 24 horas em aviões para chegar lá, porque fizemos escala longa na Islândia, de mais ou menos 6 horas. Mal chegámos ao país, tínhamos de ensaiar, porque em 5 horas, estaríamos fazendo um concerto, esgotado de gente. Por isso, não tive tempo suficiente para descansar, nem para comer. Apenas tinha tempo de ensaiar, tocar, e de ainda aproveitar o tempo para descansar minimamente enquanto era maquilhada. E isso, nunca corre bem.

No momento que entrei no palco com aquele fato todo preto, ouvi dentro da minha própria cabeça as palavras que a minha médica me tinha dito: "Se você ficar sem comer, o bebê também não come. Se você não come, a tensão baixa, e a glicemia também. E se a glicemia ou a tensão baixarem, você já sabe o que acontece... Bradicardia". Durante o concerto, não parava de pensar nisso. A minha cabeça andava às voltas, e a minha visão estava ficando turva. Quando não aguentava mais, larguei o baixo no chão do palco e andei até ao interior do palco. "Vic, você está se sentindo bem?", perguntou um dos assistentes. "Não.", respondi.

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