chapter 25

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(3 meses depois)

"She is my best friend, and right or not, she was there when you weren't."- Cristina Yang, Grey's Anatomy.

Uma vida agitada, cheia de pressão, correria, cansaço. Bem vindo ao mundo da música.

Voltámos à estrada em junho. Desde aí, não tivemos quase nenhum dia para descansar, e aproveitávamos os dias livres para ir para o estúdio. Viagens, malas, viagens, mais malas. Essa tem sido a minha vida ultimamente.

Estar sem a minha companheira de aeroporto e brincadeira me fez estranhar essa rotina de novo. Ela fazia tudo ficar bem quando eu estava nervoso, e era a única que conseguia me consolar. Infelizmente, depois da Eurovision, ela nunca mais foi a mesma, depois dos problemas de saúde...

Uma grande notícia tinha nos chegado: outro convite. Para o Royal Albert Hall. No dia 30 de agosto, estaríamos tocando na sala de concertos. Sem a Victoria.

Quando soube que supostamente ela não iria poder tocar, fiquei fora de mim. Todos sabiam o quanto ela esperava por isso, especialmente eu.
Falei com o empresário da banda, e ele disse que não poderia fazer nada quanto a isso. A declaração médica continuava válida, e não poderia ser alterada. Quer dizer, talvez poderia.

Fui à clínica, tentar falar com a sua terapeuta e psiquiatra. Ambas me disseram coisas como "A Victoria talvez vai precisar de mais algumas semanas, ela não está completamente estável". Descobri indiretamente que ela tinha sido diagnosticada recentemente com stresse pós-traumático, o que era supostamente a razão do prolongamento da recuperação. Estava determinado a não sair daquele consultório até que conseguisse o que realmente queria. Conversei muito com elas, até que chegamos a um consenso. Vic poderia sim fazer os shows. Porém, tinha de ter um supervisor dos seus comportamentos na maior parte do tempo. E eu, fui "escolhido" para ser essa pessoa. Ou seja, teria que a vigiar, e ter muito cuidado com a maneira que iria lidar com as suas crises. Foi emitido um papel em que, os doutores da Vic teriam de assinar para que ela pudesse sair do país, desde que lhe fosse assegurada segurança para tal. Aquilo não era só um papel, era quase uma Bíblia. Autorizações do psiquiatra, médico pneumologista, cardiologista, e muitas mais que nem sei contar direito.
Só sei que, no fim do dia, tinha todos esses papéis assinados, só faltando uma assinatura. A da Vic.

Depois de 2 minutos de uma conversa levemente tensa entre eu e ela no celular, ela me disse que estava em casa, acabando de tomar banho. Logo depois, peguei no meu carro e tentei encontrar um caminho rápido até ao seu apartamento. Estava com Dreams do Fleetwood Mac no volume máximo, enquanto observava a beleza da cidade em um simples fim de tarde. Fiquei pensando durante o trajeto todo no que dizer, em usar as palavras certas, porque sabia que quando estava nervoso acabava tendo alguns erros de comunicação. O bicho da negatividade insuportável que vive sempre na minha cabeça começou a me dar a ideia que estava fazendo uma coisa sem noção, que tinha passado limites. Por minutos, pensei voltar para trás e simplesmente dizer a ela que tinha encontrado trânsito no caminho. Mas não, não fiz isso.

Quando cheguei à porta do seu prédio, já estava quase de noite. A temperatura baixou levemente, mas o edifício em si estava com um pequeno calor aconchegante. Subi no elevador, e me olhei no espelho. As minhas olheiras ficavam mais profundas a cada dia que passava, porque eu não descansava bem. Passava inúmeras noites em claro, sem conseguir dormir. Até a minha terapeuta não tinha uma resposta muito satisfatória quanto ao assunto, porque já tinha sofrido da mesma coisa outras vezes. O que eu não tinha contado a nenhum dos meus terapeutas era que, andava de luto pelos "filhos" que eu perdi. Quer dizer, eram embriões. Tivemos a notícia da gravidez 2 meses antes de Vic sair do hospital, e eu estava no auge da minha felicidade naquele momento, porque no meio de tanta escuridão, surgiu uma luz. Nada foi planeado, foi completamente for acidente. Mas, em um dos primeiros ultrassons, não detetaram nenhum batimento cardíaco. Aí, tinha se iniciado a nossa jornada da fertilidade, buscando respostas para o que aconteceu, e porque não conseguíamos engravidar. Depois de muitas consultas, análises e exames, descobrimos que ambos éramos praticamente estéreis. Por causa da sua doença crónica, uma parte do sistema reprodutor da Gio tinha sido comprometida, o que não ajudava nada, para não falar do facto que ela estava sofrendo muito com aquele processo. Quanto a mim, nada foi claro.
E sim, me lembrei disso tudo enquanto estive 15 segundos em um simples elevador. As lágrimas me vieram aos olhos, mas as limpei com a manga do meu sweater, e segui o meu caminho quando a porta abriu.
O apartamento dela fica mesmo à frente do elevador. Isso ajudava nos dias em que ela ficava muito bêbada, porque era mais fácil de a levar a casa. Tinha agora um tapete novo, de cor azul escura, com alguns pêlos de Chilli. Liguei a ela para me abrir a porta, e logo depois a porta se abriu. Lá estava ela, com uma expressão facial sólida e vestindo o seu sweater favorita, e com uma toalha na cabeça.

- Damiano, você não está bem, certo?- perguntou ela.

- Você me conhece melhor do que ninguém, Vitto.- disse eu. Logo depois, os seus braços se enrolaram em volta do meu tronco, de forma a me dar um abraço. É incrível como a nossa amizade consegue ser tão intensa. Por vezes, quando brigamos, ficamos sem falar por dias, mas em outras, deixamos o orgulho de lado e fingimos que nada aconteceu.

Gosto muito quando a Vic me abraça. Me lembra tipo uma criança abraçando um urso gigante ou os seus pais. O calor do seu abraço, por vezes, consegue até parecer que está tudo bem.

- Pode entrar, ele não está em casa hoje.- ela disse, me soltando.

A atmosfera da sua casa estava completamente calma. Os móveis estavam dispostos de maneiras ligeiramente diferentes desde a última vez que tive no local, e o espaço estava mais iluminado.

- Dami, você quer falar sobre o que você está sentindo, ou quer ficar assim comigo?

- Eu não quero falar sobre o que aconteceu, por favor.

Com um copo de água em uma mão e com a outra na minha coluna, ela me levou até à sala.

- O que são esses livros todos em cima da mesa, Vic?- perguntei, curioso.

- Pode abrir, se quiser.

- Isso... isso são manuais de geometria, desenho e história das artes. O que você está tramando dessa vez, de Angelis?

- Vou tentar a minha chance.

- Isso é mesmo o que eu tou pensando? Você vai concorrer a uma faculdade?

- Sim, senhor.

- Em que área? Não me diga que é música.

- Eu pensava que você iria chegar à conclusão correta mais depressa, mas pronto...

- Artes?

- Não, design.

- Wow Vic, parabéns! Isso é muito bom.

- Sim, mas eu não tenho as disciplinas. Ambos sabemos que eu acabei a escola há alguns anos. Estou ensinando a mim mesma isso tudo.

- E você sabe se vai conseguir estudar se a gente eventualmente voltar com você com a turnê?

- Vou sim. Não sei quando, mas vou, mas depois de saber toda a matéria. E então, o que trouxe você aqui? Foi outra coisa ou você já estava desse jeito?

- Não foi isso. Então... eu realmente não sei como te contar isso, mas... Recebemos outro convite para atuar no Royal Albert Hall.- disse eu, dando uma pausa na frase.- Dia 30 de agosto. E a sua baixa acaba a 5 de setembro. E acontece que... talvez eu tenha corrido atrás dos seus médicos e feitos eles assinarem isso, tudo.- mostrei a ela as folhas.- O ponto disso tudo é que, com essa tonelada de papelada, você pode sair do país.

Ficou um silêncio enorme naquele apartamento. Ela ficou durante minutos olhando para os papéis, até dizer alguma coisa.

- Damiano, isso é demais. Você é louco.- disse ela, surpreendida.- Então quer dizer que durante esses 5 dias só posso sair do país acompanhada de você?

- Você é muito boa a tirar conclusões.

- E eu só tenho de.. assinar?

- Sim, só falta a sua mesmo.

Ela pegou em uma das canetas que estava em cima dos cadernos, e fez a sua melhor assinatura naqueles papéis todos. Quando acabou de assinar tudo, o brilho dos seus olhos aumentou, chegando até a ficarem molhados.

- Sério Dami... depois disso, me apetece beijar você. Isso é tão louco de incrível.

O que... o que ela tinha acabado de dizer? Bem....
Bloqueei por uns leves segundos, pensando no que ela iria dizer. Olhei ela nos olhos, até que ela me olhou de volta.

- Pelo amor de deus, eu realmente não quis dizer isso na maneira que você entendeu.

- Sim, certo...

-
oiii :)
os próximos 3 capítulos irão documentar a jornada da banda em Londres, para a preparação do concerto no Royal Albert Hall, por isso, fiquem ligados!

tks for reading <3
mel.

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