chapter 42

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DAMIANO'S POV

De volta ao estúdio, à composição de músicas ao som de Arctic Monkeys. Dessa vez, não na nossa pequena villa em Roma, mas em uma casa gigante, em L.A: a casa das estrelas, das festas, da música. Em Los Angeles, todo o mundo é uma estrela. Onde os sunsets são mais bonitos. Onde o trânsito consegue parar tudo e todos.

A inspiração das minhas músicas sempre veio de situações pontuais que aconteceram na minha vida, ou uma série delas seguidas, em mais de 1 música. Como por exemplo, Le Parole Lontane é a continuação de Torna a Casa. If you Were Sober surgiu por causa de Rehab. E agora, tinha um tema principal nas minhas composições: o luto, a dor de perder alguém. Perder a pequena Angel me influenciou em coisas que nem eu próprio imaginava. E apesar de não a poder ver mais, continuava a pensar muito nela, na estrelinha que estaria olhando pela sua mãe e pai para sempre. Evitar escrever algo sobre isso era inevitável. Mas não poderia arriscar revelar muito sobre isso ao mundo. Era uma questão de tempo até alguém descobrir alguma informação e ligar os pontos. Por isso, eu, Thomas, Ethan e Vic criámos uma fábula todos juntos, sobre Aidan e Nádia, algo inspirado em uma música do grupo Legião Urbana.

 Aidan era estudante de informática, e Nádia era uma estudante de medicina. Ele sempre tinha sido amigo dela desde que a conheceu, e se tornaram inseparáveis, companheiros de casa. Ela era introvertida, ele era extrovertido. Eram dois opostos que se complementavam nas suas diferenças. Não é atoa que o nome Aidan ao contrário também é Nádia. Após Aidan descobrir fantasmas assustadores do passado de Nádia, ele lutou contra eles junto com ela, e assim, eles venceram muitas batalhas juntos. Quando Nadia concluiu a universidade, ele já estava trabalhando há 2 anos em uma seguradora, e aí eles começaram a ficar mais ausentes um do outro, mais distantes. Mas no último dia do ano em que Nadia concluiu o seu primeiro ano de residência, Aidan a beijou em frente de uma janela com vista para as montanhas, em uma casa de um amigo deles, em Londres. A partir daí, as coisas nunca tinham sido as mesmas: além de Nádia ter a começar a namorar outra garota, Aidan não conseguia esquecer ela. Eles continuaram a viver juntos, mas simplesmente, já não era como de antes. Demoraram 5 anos para Nádia realmente conseguir enfrentar os seus sentimentos sobre Aidan, que estava quase noivo de outra mulher. E quando ela estava a tirar a sua especialização em pediatria, eles tiveram um caso, durante meses. Eles deixaram de morar um com o outro porque a namorada de Aidan o convenceu a se mudar para uma casa da sua família rica. Foram 2 anos, 2 anos de uma farsa. Até que, Nádia engravidou, contra todas as espectativas. Aí, ela considerou em abortar, mas ela não queria perder aquele que poderia ser um dos reminders que ele sempre iria estar com ela, de uma forma ou outra. Foi com esse bebê que eles redescobriram como se amar, com um produto resultante do quanto eles se amavam e eram vulneráveis um ao outro. Oliver, o pequeno Oliver, não sobreviveu. E obviamente, passaram um processo de luto muito complicado. Foi assim que surgiram as faixas Aidan and Nadia e Ollie. Depois, If I Were There é a perspectiva do Aidan se ele não tivesse desistido de Nadia, se Oliver tivesse sobrevivido. Algo que me lembrava demasiado um acontecimento que tinha tudo para dar certo.

Aquele que era o nosso quarto álbum de estúdio estava a ser preparado aos poucos, e por enquanto tínhamos ponderado o lançamento do EP Aidan and Nadia, junto com If I Were There e Ollie. Agora, ninguém nos colocava limites do tipo de música que queríamos escrever, e após muita experiência, descobrimos que a sonoridade mais sentimental é uma coisa que além de nós gostarmos, somos bons nisso. O álbum tinha muitos tipos de música diferentes: hard rock, indie, soul, alternativo. Exploramos sons vindos do Bossa Nova, como a parte icónica da Garota de Ipanema, Desafinado. Começamos o trabalho em uma música que tinha até ao momento 7 minutos, uma expressão criativa que Ethan e Victoria começaram de madrugada antes de uma festa. Nunca tivemos uma criatividade tão bem explorada, em que cada um tem muitas ideias.

No bolso mais pequeno da mochila que levava para todo o lado, levava uma pequena caixa preta. Era um anel, um anel de noivado, que tinha encomendado na Pandora. Era lindo, era uma peça única, feita especialmente para Vic. Tinha uma pedra azul da cor dos olhos dela, outra branca, com detalhes prateados. Foi feito para que no momento que ela o visse, se apaixonasse por ele e o pusesse no dedo e não se recusasse a tirar. Eu queria casar com ela, queria muito. A cada dia que passava, sentia que tinha mais a certeza disso, a cada minuto que passava com ela. Não sei como nunca tinha apercebido disso mais cedo. Passaram quase 5 anos até a gente se encontrar um ao outro, e outros 3 para percebermos o que realmente sentíamos. E esses quase 2 anos que estamos juntos, parecem uma eternidade. E eu só quero que sejam muito mais. Ter a minha companheira de banda como a minha namorada nunca foi uma coisa com a qual eu contava, mas penso que foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Thomas descobriu isso quando andava a vasculhar a minha mochila à procura de cigarros. Olhei nos seus olhos na hora e ele fingiu que não tinha visto nada. Depois, quando chegamos a casa, ele me encontrou na varanda do quarto do Leo.

— Você vai pedir a Vic em casamento?— o loiro pergunta, curioso.

— Você não sabe de nada, ok?

— Certo... ela não está grávida, pois não?

— Thomas?? Porquê?

— Ela anda muito no banheiro ultimamente, muito sentimental, como da última vez.

— Isso é impossível Thom, não oiça às vozes da sua cabeça.— eu rio.

— Ela também tem falado muito na Angel...

— Eu sei Thomas, eu sei... Aidan e Nádia tocou muito na alma dela.

Depois de um tempo fazendo praticamente nada, encontrei Vic, dormindo profundamente na minha cama. A sua pele já morena parecia que era perfeitamente iluminada pelo sol.

Se eu sou romântico? Sou, admito. Mas eu não sabia mesmo como fazer isso. Não queria fechar um estádio de futebol para fazer o pedido, mas também não queria que fosse numa conversa banal. Tinha de estar no intermédio. Enquanto olhava para ela, pensava em inúmeras possibilidades. Um jantar num restaurante chique. Um passeio pela Venice Beach. Uma declaração em uma música. 

A minha saúde não andava nos seus melhores dias. Depois de uma amigdalite que me estragou as cordas vocais, a única coisa que conseguia fazer era ler. Thomas e Vic vinham sempre me tirar da cama, me levar para apanhar algum ar. Precisei de ser operado, por um defeito congénito no único instrumento que sabia dominar. Agora Vic, quem eu costuma cuidar, passava os seus dias ao meu lado, me ajudava a me levantar, me trocava os pensos. É a isso que eu chamo amor. Amor não é só atração física, ou sexo. São as caminhadas ao fim da tarde, as noites de cinema, os carinhos na cabeça, os jantares cozinhados em conjunto, cuidar um do outro, na saúde ou na doença.

— Amor? Você está aí?— ela me pergunta. Estávamos na última temporada de Sex Education, pela quarta ou quinta vez, deitados na cama. Naquele ponto, quase que sabia os díalogos todos, e o sono estava chegando embora ainda fosse 11 da noite.

— Eu.— eu respondo. 

— Posso te perguntar uma coisa?— ela diz, com os olhos brilhando. Por aí, já sabia o que estava vindo.

— É claro.

— Essa é a forma mais foleira de fazer isso, mas...— ela comenta, apontando para um cartaz pendurado na varanda. Sposiamoci, trapani?

Foi nesse momento que eu senti que podia respirar de alívio.

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gente!!! feliz natal para aqueles que o celebram! amo vocês<3 gostaram dessa "surpresa"?

mel.

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