FLASHBACK - My Little Love

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DAMIANO'S POV

Ao abrir os olhos, vejo o padrão azul na fonte das letras do hospital logo à frente dos meus olhos. É o meu quarto dia ligado a fios transparentes que atravessavam a minha mão. Plop-plop, eu finjo ouvir cada gota que sai do soro para o conta-gotas, que passa dentro de segundos para dentro do meu corpo. A cor da pulseira que diz 27/02/24 Damiano David se desvanece a cada vez que 2 enfermeiras simpáticas aparecem no meu quarto às 11 da manhã, com gestos e toque carinhoso já programados para me fazer entrar no chuveiro e deixar que as suas mãos desconhecidas passem pelo meu corpo.
Pela primeira vez, em vez da enfermeira dar uma túnica nova, me deu um fato de treino. Ao fim do primeiro dia de internamento, quando todos já tinham ido para casa, eu a vi outra vez. Era a enfermeira que tinha me consolado ao passar no corredor e ver um pai que tinha acabado a sua filha, se chamava Desirée. Uma enfermeira de plantão que parecia não ser pouco valorizada para o que conhecia. Ter alguém da minha idade sendo responsável de mim numa unidade de saude me fez ver o quão velho eu estava ficando. Em um piscar de olhos, eu tinha 24 anos. Eu estava mais perto dos 30 do que dos 20. Olho para trás e vejo todas as inseguranças que tinha aos 22, com toda a pressão da indústria e obrigado a ser o suporte em um relacionamento onde só a outra pessoa importava, com partes de mim mesmo para descobrir e com necessidades escondidas.
Ela chegou ao meu quarto no turno da tarde, quando eu já tinha dormido e o pessoal estava nas horas de visita prolongadas.

— Você deve estar se perguntando porquê que eu te dei um fato de treino de manha. Você vai ver a Victoria. Os valores dela aumentaram e ela pode estar acordando.— ela disse. Eu tinha ouvido bem? Eu iria ver a Vic, depois de tanto tempo?

Com toda a força que tinha embrulhei os meus braços na pequena estatura da jovem, que me agarrou com força.
— Ao menos você consegue se segurar em pé. — ela sorri.— Vamos?

— Obrigado, sério.

Ludovico, o enfermeiro italiano que teve infinitas conversas comigo, entrou no quarto com uma cadeira de rodas.
— Andiamo?— ele pergunta, com um brilho nos olhos.— Para todos os efeitos, foi Desirée e eu que falamos com a chefe da UTI.

— Tudo bem.— eu aceito.

Ao entrar e saír de elevadores privados para o internamento, dou de caras pessoas que não conheço de lado nenhum. Dei de caras com a anestesista de Vic, que me acenou, sorrindo apesar de a sua boca estar tapada com uma máscara cirúrgica. O que era comum naquelas que eram pessoas que se dedicavam a salvar vidas é que todos sabiam os nossos nomes. Eram os únicos que sabiam de alguma coisa, e que não poderiam expor isso a qualquer custo.

Vesti uma bata descartável cor de rosa, e entrei na direção norte, onde Victoria estava. Encontramos pelo caminho o meu irmão junto com Nica. O casal de irmãos. Normalmente, eles não se falavam muito, mas por agora estavam inseparáveis. Os dois perderam a sua primeira sobrinha, e tinham irmãos que estavam longe de estar bem. A negação em mim predominava desde o momento que assinei os documentos finais de Angel. A gente fez tudo. A gente viveu em idas e voltas, discussões, affairs, separações e os nossos momentos em apenas 4 anos de fama internacional que eram suposto terem sido os melhores. A gente merecíamos isso. Nós merecíamos a oportunidade de criar a nossa filha na nossa família escolhida, dentro do nosso mundo, e fazer de ela uma pessoa boa. Isso não era justo. Nunca foi e nunca será.

O meu anjo adormecido estava ao lado de uma cama de outra mãe. Claire, mãe de gêmeos. Tinha enfrentado complicações graves e tinha perdido o seu terceiro bebê, e estava lutando forte, tal como Victoria. Conheci o seu companheiro no Neonatal, que me contou a sua história.
— Bem aparecido!— a ruiva exclamou. — David, certo?

— Certo.— eu sorrio. Não iria me chatear outra vez por terem me chamado pelo sobrenome. — Como ela anda?— pergunto, inclinando a cabeça para a direita, onde Vitto estava.

— Não sei, eu... Bem... eu acordei de um coma induzido há 1 dia e meio. Você me conheceu antes disso, certo?

— Penso que sim.— eu respondo. É nesse momento que eu começo a voltar para o dia 18. A pensar de como iriam contar a Vic que Angel tinha ido embora.

— Eu ouvi o que aconteceu, eu lamento a sua perda. Já me aconteceu 2 vezes.— ela suspira. No seu olhar cansado, vejo que sabe do que estava falando.— Mas sabe, em vez de nos preocuparmos em tentar recuperar o que já perdemos, temos de cuidar daqueles que ficam aqui. Como ela. Eu a conheço desde o momento que a vi entrar nesse mesmo quarto, e vi o quanto ela é amada. E ouve. Ela vai chorar no seu colo, gritar, rezar. Você está enfrentando essa realidade de chapada, e não pode abster-se de fazer o seu luto para ajudar no dela. E quando for preciso, você vai fazer o mesmo que ela.

— Eu acho que isso nunca vai passar.

— Para ser honesta, você está certo. Você... você apenas vive com isso.


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oi pessoal! 

posso finalmente dizer que chegámos ao fim da nossa saga de 8 flashbacks! qual foram os vossos favoritos?

se quiserem ajudar uma escritora em ascensão (eu), passem no meu Linktree (que está na minha bio) e podem lá encontrar as minhas redes sociais, e se puderem me sigam! ah, e podem também aceder à playlist oficial da GOLDWING, que nada mais é do que um conjunto de músicas que me inspiraram a escrever essa história ou que nela são citadas :)

amo vocês,

mel.

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