chapter 34

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(2 meses depois)

DAMIANO'S POV

Não foi fácil processar que... que eu era o pai daquela criança. Parecia impossível.

Naquele dia depois da discussão, ela me sentou ao seu pé na cama, e falamos por horas. Foi uma conversa calma, cheia de perguntas, e de muitas respostas, muitas explicações. Agora, tudo encaixava: as suas idas recorrentes ao hospital, os enjoos, o cansaço. Isso era apenas o seu pequeno... quer dizer, o nosso pequeno ser humano a dar sinais de vida. Quando ela me contou que era uma menina, eu fiquei cheio de alegria. Ficamos idealizando a sua aparência por muito tempo, discutindo sobre os seus traços físicos. Vic dizia que na ecografia ela tinha os meus lábios e o meu nariz. Já eu, dizia que ela iria ser loira de olho azul, como a mãe. E quando fosse para ela nascer, ela nasceria na terra natal da mãe dela, Dinamarca. E quando crescesse, iria ser a amiga feminista do grupo de amigos e iria ter uma personalidade confusa, como a minha. No momento, excluí todas as coisas negativas do meu pensamento. Não pensei na Giorgia, nem na carga que é ter um filho, nem na mudança que isso iria fazer no nosso futuro e muito menos se ninguém sabia que ela estava grávida. Estava demasiado feliz para pensar em coisas menos boas.

Por essa altura, tínhamos acabado de rodar a Europa com a tour. Foram 32 shows em 2 meses muito cansativos. Estávamos de volta à Itália, de volta a casa. De volta a um pouco de paz. Entretanto, o Hope Lullabyes - The Rooftop Sessions já era um projeto que o mundo conhecia. Decidimos organizar um evento algumas horas antes do lançamento oficial do álbum, planeado ao detalhe, em Paris, França, em um dos nossos espaços favoritos lá. Também conseguimos fazer alguns espaços temáticos ao redor da Europa, para espalhar o projeto. Ver as pessoas ficando interessadas em uma ideia tão nova me fez perceber que a arte é muito mais incrível do que qualquer pessoa imagina.

Vitto estava super entusiasmada com isso, com tudo. Mesmo de quase 5 meses de gravidez, ela fazia qualquer coisa, e não parava quieta. O que ajudava é que ninguém sabia da sua gravidez exceto as nossas famílias e os outros membros da banda, ou seja, não a restringiam de nada. Porém eu também impedia ela de fazer certas coisas quando via que ela estava sobrecarregada, como entrevistas ou algum trabalho. E quando estava quieta, via frequentemente ela estudando para os exames de admissão na faculdade, que seriam perto da data-termo da sua gravidez, por isso ela não sabia se iria os fazer ou iria esperar mais um ano.

Em uma das noites da tour, estávamos sentados juntos na cama do meu quarto de hotel, e ela começou a desenhar as nossas roupas que iríamos usar no dia da premiere do álbum. Dois fatos, em tons de branco - ao menos pareciam ser branco -até ela me dizer "Essa é a cor da folha, idiota.". Mas a minha teoria não estava assim tão errada, porque os fatos eram creme. Eram ambos iguais, mas o dela era ligeiramente mais largo, talvez para esconder a barriga.

Quando fomos para Paris, nos sentimos estranhos, por viajar sozinhos, sem Ethan, sem Thomas, sem Leo. 3 dias antes do evento, já estávamos no local, orientando as coisas. Normalmente, poderíamos contratar alguém para fazer isso, mas não iria ser a mesma coisa.

Recordo de ver a Vic na manhã da premiere dormindo até tarde, e de eu ter de a ir acordar. A sua desculpa foi a clássica "A bebê estava chutando muito e eu não conseguia dormir". Mas nesse dia tinha que a tirar da cama, porque teríamos entrevistas dentro de pouco tempo.
Demos 4 entrevistas, 2 por celular e 2 ao vivo. As perguntas eram similares, como "O que inspirou esse álbum?", ou "O álbum é sobre alguém?". Decidimos não mencionar que o álbum reconta a minha história na primeira pessoa, para preservar a nossa privacidade, por isso, "inventamos" que estamos a contar uma fábula. Uma vez que as entrevistas estavam feitas, acompanhei a Vic até a uma atelier de uma amiga dela, onde tinham sido feitas as nossas roupas. Elas estavam simples, mas lindas, e trabalhadas ao detalhe. No meu casaco, tinha um anjo bordado, e no dela também.

"Vic, porquê que tem um anjo aqui?"

"Anjo de Angel. Você sabe muito bem o que isso significa. Preste atenção nos detalhes da sua roupa, vai encontrar algumas coisas."

"Faz sentido. A sua roupa... te serve?"

"Damiano eu engordei 8 quilos, mas não sou assim tão burra. A calça tem um elástico."

Quando tirei a roupa, reparei em outro detalhe, na calça. Umas coordenadas. As coloquei no Google, e descobri que eram as coordenadas do estúdio em que a gente gravou o álbum. Por isso que eu digo para nunca duvidar do que Vic de Angelis é capaz.

No momento que voltamos para o hotel, fomos fotografados, entrevistados por alguns repórteres. Na receção, Ethan, Thomas, Leo, e alguns amigos nossos esperavam pela nossa chegada em um sofá gigante. Com eles, trouxeram de surpresa Chantal, que sempre faz as melhores maquiagens.

As últimas horas foram tensas. Após uma ida rápida ao espaço do evento para confirmar algumas coisas, voltamos para o hotel para nos arranjarmos, em uma correria que só Deus sabe. Sentia Victoria nervosa, como sempre. Mas o feeling que sentíamos era inexplicável. Aquele sentimento que, finalmente, tínhamos realmente feito isso, depois de tanto tempo, depois de tanto trabalho. Nos minutos antes de a van chegar, ficamos apenas no quarto dela, sentados nos bancos da varanda. Víamos muitos fãs do lado de fora do hotel, o que nos surpreendeu. Estávamos no auge da minha felicidade, com uma amizade mais forte do que nunca. Quando nos chamaram para ir para a van, Vic se sentou na cama, se encolhendo um pouco.

"O que foi?" Eu perguntei.

"Damiano, eu acho que ela se mexeu," disse ela, com uma mão na parte inferior da barriga.

Me aproximei levemente da sua barriga e disse: Bebê, eu sei que você consegue me ouvir. Por favor, deixe sua mãe em paz, só hoje.

Descemos pelo elevador, e caminhamos juntos até à saída do hotel. Fomos recheados de muito carinho e presentes pelos fãs, que foram super simpáticos. E à entrada do evento, estavam centenas de pessoas. A gente não estava esperando esse impacto todo, nem essas reações positivas. No tapete vermelho, maior parte das pessoas já tinha chegado, e nós fomos dos últimos a chegar ao nosso próprio evento. Todos os olhares estavam em nós, todas as câmeras tinham foco só para nós os dois. Não me sentia real, me sentia demasiado bem para ser verdade.

O evento começou com alguns agradecimentos, brindes, e um jantar. Depois, chegou a parte que a gente preparou mais: a performance. Em um pequeno palco, iríamos tocar ao vivo aquelas 8 músicas, à frente de centenas de pessoas. E para mim, foi a parte mais bonita e emocionante da noite. Ver as pessoas emocionadas a ouvir as músicas independentemente da língua em que cantávamos me fez sentir ainda mais realizado. A última música, If You Were Sober, me colocou ainda mais emocionado, porque me transportou de volta a tudo o que eu vi a Victoria passar. O vício, a queda, a abstinência, as recaídas, e a estabilização. O silêncio que se fez quando eu cantei a última frase da música "But the things would be easier if you were sober" contrastou com a quantidade de palmas que recebemos. Logo depois, ela largou a guitarra e me abraçou, enquanto chorava, e eu chorava junto com ela. Essa foto tinha circulado na Internet toda.

Quando o evento acabou, me lembro de ver a Vic correr até à van, e de me puxar pelo braço com ela. "Eu estou tão orgulhoso de você. Estou orgulhoso de nós", disse eu, lhe dando outro abraço, com uma mão acariciando a bebê. Não conseguíamos parar de chorar de alegria, e de rir sobre coisas inusitadas que aconteceram. Chegando ao hotel, ainda tinham alguns fãs nos esperando, e ficamos muito tempo falando com eles. Já eram quase duas da manhã quando tinha ligado o celular de novo, e eu e Vic estávamos subindo até aos nossos quartos. Quando me apercebi, Vic estava apoiada em um apoio de ferro, com uma mão na parte inferior da barriga.

"Ela está se mexendo de novo?"

"Não Dam, isso é pior," disse ela, se encolhendo ainda mais de dor.

"Então... vamos para o hospital?"

"E vamos para lá assim vestidos?"

" É claro, não vamos nos dar ao trabalho de mudar de roupa."

"Não, não, não, isso não pode estar acontecendo. Damiano, ela é muito pequena, ela..." ela dsse, chorando muito no meu ombro, interrompendo o choro com dores enormes.

"Eu sei, angel. Vai correr tudo bem, eu prometo."

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