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Ela tentou fugir o máximo que podia da companhia dele ficando no quarto durante a parte da manhã, mas totalmente sozinha, seus pensamentos não a deixavam em paz, a culpa de ter praticamente tirado ele das festividades em família, por que se ela não estive ali, Azriel não estaria. Ainda não entendia muito bem a insistência do macho, mas lá está a ele no andar de baixo... Sozinho.
A sacerdotisa então ponderou e decidiu que tentaria, iria conviver com Azriel, mas com limites impostos, sem muita aproximação, tudo o que menos queria era que ele sentisse o laço.

Quando Gwyn escutou a porta da frente bater com tanta força que a casa tremeu ela se sobressaltou sentada na beira da cama. Alguma coisa tinha acontecido. Então decidiu descer e quando encontrou Azriel e as sombras dele e soube que havia tido uma visita que levara um ótimo almoço ficou mais tranquila. Não que ela achasse que alguém no Refúgio tentaria se aproximar com Azriel ali, era o mesmo que assinar uma sentença de morte.

— Então, o que pretende fazer agora? — perguntou ela ao terminar de guardar a louça que Azriel havia lavado e secado.

— Acho que tem alguns jogos de tabuleiro, podemos jogar se você quiser — ele disse recostando o corpo na pia, as enormes asas se ajustando.

Gwyn tentava evitar olhar demais para o corpo de Azriel, aquele corpo grande e forte que até mesmo pelas armaduras e roupas era capaz de imaginar os músculos por debaixo. Quando usava camisas mais casuais o peitoral se delineava e os músculos das costas marcavam. Além das pernas longas e torneadas... E que a Mãe a perdoasse, havia espiado mais de uma vez o traseiro do guerreiro.

— Pode ser, se aceita ser um bom perdedor — disse convencida e Azriel arqueou a sobrancelha escura.

— Agora me sinto desafiado, Berdara.

— Pois era isso mesmo que eu queria, encantador de sombras.

Ele sorriu mostrando os dentes brancos perfeitos. Azriel quase nunca sorria, mas quando o fazia, era como uma estrela iluminando o céu escuro. Bom, ele não fazia muito no meio de muitas pessoas, mas Gwyn havia notado que ele sorria mais e ria mais na presença dela, desde aquele Solstício que ele a encontrou treinando para cortar a fita.

— Então, que comece a batalha, valquíria — se desencostou da pia e andou até alguns armários abaixo das escadas. Gwyn observou o andar... O andar como Emerie havia dito uma vez... Gwyn engasgou com a própria saliva e ficou vermelha feito um pimentão, o rosto ficou quente como se molho de pimenta tivesse sido passado ali. As sombras de Azriel dispararam para ela a acudindo. A sacerdotisa correu pegando um copo e tomou água desesperadamente.

— Tudo bem aí? — perguntou Azriel com o corpo inclinado para fora do canto da parede.

— Sim! Tudo bem! — respondeu quase desesperada.

— Ótimo, quero você bem para quando acabar com você...

— Como?! — ofegou em espanto e levou a mão ao peito dramaticamente. Olhou Azriel se aproximar da mesa da cozinha com três caixas de madeira nas mãos e em cima delas um deque de cartas.

— Nos jogos, Gwyn... Está bem mesmo?

— Mas é claro que estou! — respondeu ela ainda vermelha e rindo nervosamente. Ela pigarreou limpando a garganta. — Então, qual deles vai fazer você chorar primeiro?

— Quanta confiança — ele disse sorrindo. As sombras dançando em sua volta mesclando com a luz das luzes feéricas. Pela Mãe, ele era mesmo lindo, lindo demais, lindo para ela, demais para ela.

— Vamos, quero te ver chorar — ela disse indo até a mesa e puxando a cadeira para se sentar. Az imitou o gesto e permitiu que ela escolhesse o jogo. Damas. Primeiro acabaria com ele nas damas.

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora