Não achou que perderia a cabeça quando Emerie chegou para o Solstício naquele dia, não achou que teria a idéia estúpida de ir de mala e cuia para o Refúgio do Vento. De certa forma, Azriel sabia que Gwyn não aceitaria voltar, então fez as malas já esperando pelo não e então ele ficaria na casa qual passou bons anos de sua infância, junto da sacerdotisa. Ela querendo ou não.
Mas havia uma coisa que Azriel não esperava... Que a tempestade de neve permeasse por tanto tempo. Ele achou que pelo menos ele e Gwyn poderiam sair de casa, evitando o silêncio da fêmea que apenas dissera bom dia a ele.Az não esperava que ela fosse tão rancorosa, sendo uma sacerdotisa, ela não deveria saber o valor do perdão? Mas agora ela também era uma Valquíria e Gwyn tinha muito orgulho. Mas ela disse que o perdoava então... Por que?
Suspirou sentado no sofá próximo a lareira e olhou para as escadas que subiam para o andar dos quartos. Desde o café da manhã, Gwyn esteve trancafiada no quarto que era da mãe de Rhys. Bom, se ela achava que o evitando o faria ir embora, estava muito enganada.
Batidas soaram na porta e o encantador de sombras arqueou a sobrancelha escura. Quem seria o louco de ir até ali numa tempestade de neve? Além dele é claro.
Azriel se levantou, movimentou as asas e suas sombras despertaram, o guerreiro andou em passos lentos até a porta e a abriu se deparando com um macho illyriano jovem, provavelmente havia acabado de passar pelo Rito de Sangue. Os cabelos escuros eram na altura dos ombros, olhos castanhos, pele bronzeada escura, era tão grande quanto Azriel. As asas estavam cobertas de branco e ele em si vestido com roupas pesadas de frio, na mão carregava um embrulho. Se o macho o reconheceu, não pareceu surpreso ou intimidado com sua presença ou suas sombras.- Achei que a ruivinha estivesse sozinha - ele disse erguendo as sobrancelhas.
Azriel fechou o cenho, as narinas dilataram, suas sombras ficaram mais agressivas em sua volta, suas asas se abriram levemente. Ruivinha. Quem ele pensava que era para chamar Gwyn daquela forma? E por que tinha incomodado tanto Azriel?
- A Senhorita Berdara - enfatizou como se dissesse para você. - Está descansando.
- Ah... - disse o macho tentando olhar para dentro da casa, porém as sombras e as grandes asas de Azriel tampavam sua visão. - Bom, que pena, eu queria ver ela, estou com saudades, sabe - o macho deu um sorriso preguiçoso e arrogante. Azriel quis pegar uma adaga e enfiar na garganta dele, arrancar sua cabeça.
- Enfim, pode entregar isso? Minha mãe enviou para ela. Disse que não era bom ela passar fome e que a convidou para passar o Solstício conosco. Pode dar essa informação? - estendeu a mão segurando a marmita embrulhada no pano e Azriel arqueou a sobrancelha olhando para ela. - Diga a ruivinha, que minha mãe gostou muito dela.
De novo aquele sorriso de macho arrogante. Azriel o olhou de maneira mortal, suas sombras diziam para matar o macho, esconder o corpo e Gwyn jamais saberia. Mas não faria aquilo.
- Entrego - disse Azriel com a voz mais grossa do que o usual.
- Quando ela vai voltar aos ringues de treino? - perguntou o macho.
- Não sei - respondeu o mestre-espião entrando e fechando a porta na cara do macho, não iria se dar o trabalho de se despedir.
Az olhou para o embrulho de pano que segurava com mais força do que o necessário, aquilo parecia pesar uma tonelada. Com passos duros e pesados ele levou até a mesa da cozinha e depositou ali em cima. Escutou os passos de Gwyn no corredor e então descendo as escadas, assim que ela desceu o último degrau ele a olhou, sério, impassível como era de costume.
- Seu amigo deixou isso - ele disse e a sacerdotisa olhou para o embrulho de pano em cima da mesa.
- Que amigo? - perguntou curiosa e se aproximando da mesa. Levou os dedos longos e delicados as amarras as desatando.
- Não sei, poderia me dizer.
Gwyn terminou de abrir o embrulho e uma panela de ferro ainda aquecida surgiu. Ela abriu a tampa vendo o conteúdo ali, um típico prato illyriano e sorriu.
- Ah... Theon - disse sorrindo. - A mãe dele fez um igualzinho outro dia.
- Fora ela quem mandou - replicou Azriel com dureza e frieza.
Gwyn soltou uma risadinha e mordeu o lábio inferior. Os olhos de Azriel fitaram aquilo, quase nem piscou, a forma de como os dentes dela deslizaram pelo lábio avermelhado... Por que era tão atrativo?
- Pelo menos temos o almoço pronto - ela disse pegando a panela e levando até o fogão. Azriel a observava. - Mas acho que posso fazer mais alguma coisa...
- Desde quando são amigos? - questionou ele enquanto suas sombras se esgueiravam até Gwyn. A sacerdotisa deu de ombros.
- Logo após o primeiro dia de treino das meninas. Ele e outros machos estavam assistindo e debochando. Eu os desafiei e Theon aceitou. O nocauteei em alguns minutos de luta mano a mano.
Azriel engoliu em seco, seu sangue se aqueceu ao imaginar Gwyn derrubando um macho quase com o dobro o tamanho dela, como ela deve ter ficado... Interessante.
- Acredito que conseguiu o respeito deles - disse Az cruzando os braços enquanto avaliava Gwyn de costas. Não que nunca tivesse notado, mas a valquíria tinha um belo corpo esguio.
- De alguns, mas não de todos - disse ela pegando alguns temperos para a salada que montava. - Ainda tem aqueles que não aceitam a minha vitória e de Emerie no Rito de Sangue... Cansei de ver eles me olhando com desdém e raiva.
- Esqueceu a inveja.
Gwyn riu e aquilo deixou Azriel surpreso, não que ela nunca tivesse rido para ele, mas fazia tempos que não ouvia tal canção.
- A mãe de Theon me convidou para a casa deles depois que me viu treinando com ele e o derrubando várias vezes. Ela disse que eu era digna de respeito por derrubar o guerreiro illyriano mais promissor.
- Não o achei promissor - disse Az com sinceridade ao se sentar a mesa. - Ele não chega perto de um guerreiro promissor.
- Ele tem quatro Sifões - disse Gwyn o olhando por cima do ombro. - É mais do que os outros.
Azriel trincou os dentes fazendo com o músculo de seu maxilar repuxasse.
- Então ele é meio termo - disse dando um sorriso arrogante e Gwyn arqueou a sobrancelha. A linda fêmea se voltou para ele e cruzou os braços.
- Entendi, ele não é tão formidável quanto você, não é? Encantador de sombras.
- Nem passa perto - ele disse tamborilando os dedos na mesa. - Mas é um garoto esforçado aparentemente.
- Ele tem mais de duzentos anos.
- Ainda é um garoto.
- Então eu sou o que? Um bebê? - perguntou com diversão. Azriel ergueu as sobrancelhas, as vezes se esquecia que Gwyn havia a pouco entrado na casa dos trinta anos. Az soltou uma risada nasalada.
- Pode se dizer que sim.
Gwyn revirou os olhos e suspirou.
- Sabe, Az... - ela disse indo até a mesa e se sentando na cadeira ficando de frente a Azriel. As sombras do macho começaram a brincar entre os dedos de Gwyn que começou a brincar com elas também. - Eu acho que fui um pouco dura demais com você... E mesmo assim você está aqui para não me deixar sozinha. Muito obrigada, eu acho... E bem, se vai mesmo ficar aqui...
- Vou.
Gwyn deu um pequeno sorriso.
- Então acho que temos que ter uma boa convivência... A casa não é tão grande e não planejo ficar no quarto.
- Fico mais aliviado em saber disso - respondeu Az vendo as sombras extremamente confortáveis em volta de Gwyn, até mesmo ronronavam como um gatinho domado. - Gostamos da sua companhia - ela o olhou com aqueles olhos azul mar e sorriu largo, um sorriso iluminado, ela brincou com as sombras as olhando.
- Eu gosto delas... - disse baixinho e uma das sombras passou pelo rosto da sacerdotisa como se a acariciasse.
Az ficou em silêncio observando, era tão... Natural, tão certo ver Gwyn e suas sombras juntas, diferente de quando estava com Elain, quando suas sombras se escondiam e desviavam dela a todo momento, como se não suportasse a fêmea, mas com Gwyn... Elas eram livres, soltas e contentes, como ela era.
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Canção de Sombras. CONCLUÍDO.
FanfictionEsta é uma fanfic da série de livros ACOTAR, pertencido a Sarah J. Maas. Focado no casal Gwynriel. Durante o aniversário de Nestha, Gwyn usara o colar dado a ela por Azriel durante o aniversário de Nestha, entretanto, Elain, ao reconhecer a peça di...