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Gwyn se preparou para aquele treino, vestiu seu couro, amarrou os cabelos bem firmes num rabo de cavalo alto com uma tira de couro, colocou suas melhores adagas embainhadas nas pernas e na cintura. Ela conhecia bem Azriel para presumir que ele iria treinar menejo com adaga com ela. Na verdade, aquela era a "modalidade" que eles mais gostavam de praticar juntos. Ela achava que era por conta da adrenalina de lutar corpo a corpo, mas depois que o laço surgiu... Ela sabia por que ambos queriam aquela proximidade, mesmo que sem intuitos românticos, se tocavam muito nasqueles treinos, imobilizavam o outro... Tudo por uma migalha de toque, de estar junto.

Fora essa uma das razões pela qual Gwyn se afastou dele, medo de durante aquela proximidade ele descobrir. E no fim não adiantou de nada.

A valquíria chegou ao portal que dava ao ringue de treinamento e parou subitamente quando os olhos azuis esverdeados viram Azriel ali no meio, de costas para ela, as asas... Gigantes, abertas como se ele estivesse se alongando.

Quanto maior a envergadura...

Pensou ela ficando totalmente vermelha e balançou a cabeça freneticamente apertando bem os olhos.

— Não pense nisso, Gwyn... — ela disse baixinho apenas para si mesma e então recompôs a postura, ombros para trás, queixo erguido e marchou para o ringue.

— Boa noite, encantador de sombras — disse sem deixar o nervosismo transparecer na voz.

Azriel deu uma baixa risadinha e fechou as asas, ele se voltou para ela e sorriu casto.

— Boa noite, valquíria — respondeu coridalmente e até fez uma leve reverência com o corpo.

Gwyn empinou o nariz.

— Preparado para sua derrota?

— Acho fofa a forma que realmente acha que pode me derrubar — ele disse já começando a andar circulando a fêmea que ergueu as sobrancelhas.

— Eu derrubei muitos machos illyrianos quando estava no Refúgio do Vento, alguns até maiores do que você.

Os Sifões de Azriel, quatro ao total, um em cada costas das mãos e os outros dois nos ombros, brilharam, mas não como os olhos avelã que pareceram se incendiar.

— Ah... De certo eles te subestimaram — disse Azriel. — Mas eu não subestimo.

— Está me subestimando agora mesmo.

— Digo que vou vencer, mas sabendo que você é uma oponente formidável — havia um sorriso de pura satisfação nos lábios bem desenhados.

Gwyn retribuiu aquele sorriso e então desebanhou uma adaga já ficando em posição de ataque.

— Bela adaga — disse ele desebanhando uma propria.

— Obrigada, um certo mestre-espião me deu dicas de como escolher uma boa arma — Gwyn deu um sorriso travesso de canto. — Ele é tão obcecado com adagas que ele até dorme com elas, como uma garotinho com a mantinha.

Azriel gargalhou, suas sombras se agitando no ritmo daquele som que fazia todo o interior de Gwyn tremer.

— Sabe — ele disse parando de rodea-la. — Eu achei que iria querer algo em que não chegassemos muito perto do outro.

— Achou? — ele assentiu. — Por que?

— Sei que ainda está muito brava — ele disse virando a adaga entre os dedos longos e grossos. Gwyn olhou para aquela mão ágil coberta de cicatrizes, ela se lembrava perfeitamente da sensação dos calos da palma roçando seu rosto, e como aquilo fora bom. — Então achei que quisesse distância. Eu nem sabia se iria aceitar meu convite.

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora