27.

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- Vê aqui? - apontou Gwyn numa linha de um livro antigo para Lucien enquanto uma luz feérica flutuavam entre as cabeças de ambos. - Segundo a tradução que conseguimos, parece que essas coisas foram como uma doença.

- Sim, e aqui diz que quase conseguiram acabar com os feéricos... Mas não diz nada sobre os humanos.

- Nenhuma notícia dos bibliotecários das terras humanas? - perguntou Gwyn vendo uma figura num pergaminho da criatura demoníaca arrancando o esqueleto de um feérico de dentro da dele, com carne e tudo mais.

- Apenas o que já sabemos - Lucien bufou espalmando as mãos largas sobre a madeira do tampo lustrado da mesa. - O que precisos saber é como essas coisas foram presas no interior do planeta e agora de alguma forma elas decidiram voltar.

Gwyn acenou uma vez para o companheiro de pesquisa enquanto estava na mesma posição que ele, inclinada sobre a mesa, mãos espalmadas na madeira, diversos livros e pergaminhos espalhados em sua frente.

Porém, Gwyn olhou novamente para a figura desenhada há milhares de anos naquele pergaminho, a coisa arrancando a pele do feérico e seguiu o desenho que parecia seguir uma linha de história e a cada passo dos traços, a criatura vestia a pele da vítima e então...

- Vestem a pele... - disse a sacerdotisa fazendo Lucien a olhar. - Fizeram isso com Elena, mas o corpo verdadeiro da coisa estava apodrecendo o disfarce... Talvez... Talvez não seja todo feérico compatível com os monstros.

- Talvez seja apenas os grão-feéricos - disse Lucien se debruçando sobre a mesa espalmando as mãos na madeira.

Gwyn olhou para o macho ao seu lado, os cabelos de tamanho mediado ruivos como fogo estavam atrás da orelha pontuda, os músculos do braço marcados pelo tecido da túnica clara e a luz feérica sobre ele dava ainda mais contraste para as velas feições de Lucien. Um verdadeiro príncipe feérico.

Ela o olhava pensativa, lábios levemente entreabertos, os olhos azuis esverdeados brilhando sob a luz feérica. Lucien era um macho lindo, uma beleza no mínimo única, talvez tão bonito quanto Azriel... Bom, não era errado achar Lucien lindo e atraente, era?

- Tudo bem? - perguntou o príncipe fazendo com que Gwyn voltasse de seus devaneios.

- Sim, tudo... Eu acho que por hoje é só - disse tentando conter o nervosismo e recolhendo os livros e pergaminhos. - Tivemos bastante avanço, não é?

- Sim, tivemos - disse Lucien dando um sorriso singelo. - É... Eu não sei se é adequado o que eu vou pedir.

- Hm? - resmungou a fêmea o olhando de sobrancelhas erguidas e uma feição confusa no rosto.

Lucien deu uma baixa gargalhada.

- Aqui, em Solano - disse ele. - Temos uma tradição, todos os anos, como a Queda das Estrelas em Velaris. O Festival das Luzes.

- Ah! - exclamou Gwyn com animação. - Eu ouvi falar! Toda a população da cidade se reúne em volta do Lago do Sol e solta lanternas flutuantes e na água. Dizem que é lindo!

- Isso, exato - disse Lucien ainda rindo e Gwyn corou um pouco e com um sorriso tímido nos lábios. - A família do Grão-Senhor tem presença garantida, soltamos as primeiras lanternas. E eu... Eu queria convidá-la para ser meu par. Se não for algo muito ruim para você.

Gwyn abriu a boca e piscou os olhos algumas vezes, mas então ela sorriu largo, um sorriso que iluminou o olho de Lucien.

— Eu vou adorar ser seu par, Lucien — disse ela pegando na mão do macho com as duas dela. — De verdade, vai ser uma honra ser acompanhada pelo herdeiro da Corte Diurna.

Lucien sorriu pequeno e de canto, fechou os dedos em volta de uma das mãos de Gwyn olhando para aquele enlace.

— Tem certeza? Eu não quero causar problemas entre você e... O seu parceiro.

A sacerdotisa diminuiu um pouco o sorriso, mas continuou firme.

— Somos amigos, não somos? Então eu acho que está tudo bem — ela disse soltando a mão de Lucien.

— Sim, somos amigos — ele disse com uma calma que parecia que há muito não flutuava em sua voz. — Bom, é amanhã a noite, você precisa de alguma ajuda Lara se arrumar?

— Não, eu vou vestida com o manto mesmo, sacerdotisa até o fim — ela disse dando um leve soquinho para cima e suspirou. — Vai ser divertido.

— Assim eu espero — disse Lucien desviando o olhar para a mesa, para o monte de arquivos de Gwyn. — Espera um pouco...

O macho delicadamente tirou Gwyn do caminho e tomou o lugar dela a mesa, ele começou a mexer, virar, reposicionar várias páginas e pergaminhos até que então Gwyn viu algo que fez até os cabelos de sua nuca se arrepiarem e a espinha congelar.

Era um mural que se formava comi uma quebra cabeça com as folhas e páginas e pergaminhos.

Tudo começava com o que se parecia um feiticeiro, mas não um feiticeiro feérico, era um feiticeiro humano. Pq figuras mostravam aquela feiticeiro criando as criaturas, batizadas por ele de nocturnos. Aquela coisas, sem pele, com asas palmadas encouraçadas pálidas, nariz de morcego, dentes afiados e sem orelhas, eram praticamente demônios criados pela ambição humana, a ambição de aniquilar com a raça feérica da face daquele mundo.

Mas não havia ocorrido como os humanos queriam, as criaturas saíram do controle, evoluíram sendo capazes de tomar a pele e a memória de grão-feéricos e se passarem por eles, já que a luz do sol era fatal.

Com medo de que tudo caísse em total desgraça e rios de sangue, os humanos e os feéricos fizeram uma aliança para aniquilar aquela criação medonha. Mas por mais que matassem aqueles coisas, mais e mais saiam das cavernas e tocas, eram centenas de milhares.

Até que então, não havia outra maneira a não ser lacrar aquelas coisas em um lugar de onde jamais sairiam e assim, com uma aliança entre os povos, um feitiço poderoso fora criado enviando os nocturnos para o mais profundo dentro do planeta, de onde jamais sairiam.

— Mas que feitiço foi esse? — perguntou Gwyn ombro a ombro com Lucien.

— Acho que não temos a respostas aqui — disse ele. — E além disso, os humanos não tem magia... Pelo menos não agora.

— Se for necessário uma magia dos humanos para o feitiço funcionar...

— Estamos muito fodidos — disse Lucien fazendo com que Gwyn o olhasse completamente assustada e pálida, marcando ainda mais as sardas de seu rosto e aquele medo, aquela apreensão sem querer correu pela ligação dela e de Azriel e que fora respondida tão rapidamente que fez com que Gwyn desse um sobressalto.

Lucien a olhou arqueando a sobrancelha e envergonhada ela pediu um minuto, se afastou escondendo-se atrás de uma estante de livros, escorou as costas ali e respirou fundo levando a mão sobre o coração. Controlou sua respiração para ficar mais calma e transmitiu aquela calma pela ligação dela com Azriel. Estava tudo bem, tudo bem, ele não precisava se preocupar, logo ela estaria em casa para relatar junto de Lucien o que haviam descoberto... Depois do Festival das Luzes

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora