Canção de Sombras. CONCLUÍDO.

28

Azriel estava sentado a mesa na casa do rio durante aquele jantar, todos estavam ali, como sempre faziam, mas ele... Estava apenas o corpo, nem mesmo duas sombras que sempre estavam a vista tinham vontade de aparecer.

O macho não dormia há dias, desde quando Gwyn se fora, comer? Podia dizer que beliscava uma coisa ou outra, mas do resto, não tinha mais nada que queria mais do que ela de volta perto de si.

— Az? — chamou Feyre fazendo com que ele a olhasse sem emoção alguma. — Você quase não tocou na comida...

O mestre-espião olhou para o prato que já estava frio e não havia comido nem a metade.

— Estou sem apetite — disse ele.

Cassian soltou um riso nasalado.

— Está assim desde que Gwyn foi para a Diurna. Ela não morreu, sabe? — disse o general para o irmão que o olhou impassivel.

— Bom, — disse Amren acariciando o ventre volumoso, ao seu lado Varian que sempre estava calado. — Ela deve estar se divertindo, então não fique tão deprimido.

— Como assim se divertindo? Ela foi numa missão — respondeu Emerie por Azriel. A fêmea sentada ao lado de Morrigan olhou de olhos arregalados para Nestha que limpou a garganta.

— Gwyn é muito séria quando se trata de missões, então aposto que ela só deve estar enfurnada nós arquivos da Diurna... — ia dizendo a fêmea.

— Você disse que ela e Lucien estavam fazendo amizade — soltou Elain olhando para a irmã e um clima tenso encobriu toda a sala de jantar.

Azriel olhou para a ex-amante sem nem mesmo mover a cabeça, seu rosto estava praticamente precificado, as sombras começaram a espiralar pelas asas e braços de Azriel, mais escuras do que nunca.

Rhysand, que estava com Nyx sentado em seu colo, colocou o filho no chão e pediu para que Nuala o levasse para o quarto, pois já era hora de dormir. O Grão-Senhor colocou os cotovelos sobre a mesa e olhou para Azriel.

— Na verdade, a missão de Gwyn já acabou — disse ele fazendo com que Azriel e Elain o olhassem. — Amanhã de manhã ela e Lucien estarão aqui.

A cor pareceu sumir do rosto de Elain que engoliu em seco.

— Se já acabou, por que ela não voltou ainda? — perguntou Azriel e todos olharam para Rhysand que respirou fundo.

— Hoje é o Festival das Luzes na Corte Diurna, como Lucien é o herdeiro ele tem que participar, então não poderia vir...

— Eu não estou perguntando de Lucien — disse Azriel com sombras e frieza na voz.

— E eu estou falando que os dois vão vir juntos — disse Rhysand. — Se acalme, ok? Amanhã sua parceira vai estar aqui — olhou para Elain que fitava o próprio prato. — E Lucien também.

Azriel rapidamente se levantou e se retirou da sala de jantar deixando apenas o silêncio para trás. Ele fora para o jardim onde respirou fundo, colocou as mãos na cintura e andava de um lado para o outro, levou uma mão a cabeça passando pelos cabelos e apenas parou ao sentir uma presença próxima e olhou para ali vendo Elain se destacando em meio a noite com o vestido rosa claro.

— Você está se sentindo bem? — perguntou ela.

Azriel engoliu em seco e respirou fundo.

— Sim — mentiu.

Não, ele não estava nada bem, um dia atrás ele sentiu o medo de Gwyn pela ligação entre eles, alguma coisa tinha acontecido e por mais que ela o tenha acalmado ele sabia que tinha algo e agora ela e Lucien estavam próximos, talvez fosse um dos pesadelos de Azriel.

— Está com medo — disse Elain se aproximando e Azriel a olhou. — Está com medo de eles fazerem o que nós fizemos...

— E você se importa? — disse Azriel e suas sombras chiaram em sua volta.

— Claro que sim — disse Elain. — Por você, pelo jeito que está... Já se olhou no espelho? 

Azriel estalou a língua e resmungou levando as mãos ao rosto as passando por ali.

— Eu vejo que gosta dela de verdade — disse Elain e ele a olhou. — Se você quiser, eu posso ver o que vai acontecer daqui alguns minutos, se isso se deixar tranquilo...

— Veja — pediu Azriel se aproximando. — Por favor, veja.

Elain assentiu uma vez com a cabeça e fechou os olhos, era possível ver que eles se moviam por debaixo da pálpebra fechada e então ela os abriu de uma vez os mostrando de uma cor branca leitosa e logo voltaram ao normal.

Havia literal angústia nos olhos e na expressão facial da fêmea.

— O que você viu? — perguntou Azriel e ela engoliu em seco. Ele então levou as mãos aos braços pela os agarrando. — O que você viu?!

— Eles vão se beijar — disse ela com a voz trêmula. — Eles vão...

Não fora preciso mais nenhuma palavra quando as sombras de Azriel rugiram em volta dos dois como uma tempestade furiosa e logo as duas figuras desapareceram do jardim.