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Quanto mais tempo se passava, mais vontade de comer, Gwyn tinha, tanto que nos cinco meses de gestação ela já estava com dificuldade de abaixar e pegar alguma coisa, Azriel havia se tornado seu ajudante particular quando estava estava e não em alguma missão. Ultimamente ele andava ocupado demais, isso que havia tirado parte das missões de sua lista, mas mesmo assim, ele era o mestre-espião, sempre iriam precisar dele.

Eles ainda não sabiam os sexos dos bebês, já que quando Madja iria verificar Azriel não estava. Gwyn pediu para esperar para saber quando o parceiro estivesse presente, mas, ao menos agora a sacerdotisa sabia que Nestha teria outra menina. Estava há dois meses de dar a luz, já que a gestação dos feéricos era de dez meses e deixando Cassian completamente maluco, novamente.

A sacerdotisa valquíria estava sentada no meio de seu sofá, a lareira acesa, enquanto ela tricotava um sapatinho da cor cinza, um da cor azul já estava pronto ao lado. Mas então a fêmea deu um leve sobressalto ao sentir os bebês se movendo, já estava conseguindo sentir eles fazia algum tempo, Azriel também não havia sentido ainda.

Os gêmeos se moviam, empurrando um ao outro, se espreguiçando e chutando a mãe que sugou o ar entre os dentes deixando as agulhas e linha de tricô para o lado se ajeitando no sofá levando as duas mãos sobre a barriga.

— Vocês dois aí dentro, se comportem ou vou ser obrigada a ir aí! — disse ela dando um tapinha sobre o abdômen avantajado e aos poucos os bebês foram se acalmando. — Isso, muto bem, quietinhos por que a mamãe tem muita coisas para fazer ainda — pegou de volta a linha e as agulhas, porém batidas soaram na porta e a sacerdotisa fechou os olhos respirando fundo.

— Eu espero que seja algo muito importante — deixou os materiais de lado novamente se se esforçou para se levantar do sofá. Deuses, estava de apenas cinco meses e meio, como iria aguentar mais outros cinco meses e meio?

Levou as mãos as costas e andou até a porta da frente, pegou na maçaneta de ferro trabalhada e a furou abrindo a passagem e quando viu quem estava ali um enorme sorriso abriu em seu rosto mais cheinho.

— Uau — disse Lucien sorrindo largo e olhando para a barriga de Gwyn. — Você está...

— Enorme, eu sei — disse a valquíria rindo e Lucien negou ainda com um sorriso no rosto.

— Eu ia dizer que está muito bem — ele respondeu.

Gwyn deu risada e então abriu espaço para que o macho entrasse em sua casa e ele o fez após pedir licença. Os dois ruivos então foram até a sala e se sentaram no sofá lado a lado.

— Azriel não está? — perguntou Lucien.

— Está numa missão — Gwyn colocou uma almofada atrás das costas. — Mesmo pedindo um pouco de folga, ele ainda é muito requisitado.

— Totalmente compreensível — Lucien sorriu de canto.

— E você? O que veio fazer aqui? — perguntou Gwyn. — Ah e obrigada pelas flores aquela vez, eu adorei.

— Ah não fora nada — disse Lucien. — Vim resolver umas coisas com Rhysand e Feyre, politicagem chata. Então aproveitei para visitá-la.

— Mesmo sendo príncipe de uma Corte você ainda é um emissário.

Lucien deu uma risada baixa.

— Eu faço questão de ser, na verdade, como tenho vários contados e boas relações entre as cortes é até melhor que eu faça o trabalho diplomático.

— Realmente.... Aí! — disse Gwyn dando um leve sobressalto e levando as mãos sobre a barriga, fazendo o macho ficar em alerta.

— Está tudo bem? — perguntou com preocupação e Gwyn deu risada.

— Sim tudo, é que eles estão terríveis hoje — ela disse soltando o ar pela boca. — Acho que estão lutando dentro de mim, não é possível.

Lucien deu uma risadinha.

— São meio illyrianos, afinal de contas — ele disse.

— Pois é — Gwyn respondeu sem tirar os olhos da barriga. — Eu já disse que não pararem eu vou dar um jeito em vocês.

— E como daria um jeito neles? — Lucien perguntou rindo.

— Comendo algo que eu sei que vão odiar — respondeu Gwyn o olhando de maneira convencida e o herdeiro da Corte Diurna negou com a cabeça.

Gwyn então encarou o macho, se lembrou do dia em que Elain havia ido até ali pedindo ajuda sobre a parceria entre eles, por que mesmo depois de rejeita-lo, ela ainda sentiu uma dor insuportável no peito ao ver Lucien se casando com outra fêmea numa visão.

— A propósito — disse Gwyn despretensiosamente. — Por um acaso você está se relacionando com alguém?

O ruivo arqueou a sobrancelha ao escutar a pergunta, ficou pensativo mas respondeu:

— No momento, não. Por que? Tem alguma candidata?

A valquíria sorriu pequeno e negou com a cabeça.

— Não, é que, é meio estranho um herdeiro de uma Corte tão poderosa como a Diurna ainda no ter uma amante.

— Ah, eu tenho amantes — disse Lucien deixando Gwyn surpresa. — Eu apenas não deixo tudo a vista de todos.

— E não tem uma especial? — ela perguntou parecendo uma garotinha fofocando.

O amigo deu risada e pensou um pouco.

— Talvez... Uma — respondeu fazendo Gwyn soltar um gritinho animado e se aproximar mais dele.

— E como ela é? — perguntou Gwyn apoiando o cotovelo no encosto do sofá e escorou o queixo na mão.

Lucien tomou fôlego para falar da tal amante quando a porta da casa de Gwyn e Azriel se abriu de uma vez e os dois olharam para ali surpresos, na verdade, mais do que surpresos ao verem Elain parada olhando para os dois, estava ofegante, usando um avental sujo de terra por cima do vestido, mãos sujas, também estava suada.

— Elain? — disse Gwyn piscando algumas vezes enquanto Lucien se levantava e ficava de frente para a fêmea que o olhou com os olhos castanhos.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Lucien sem emoção alguma na voz.

— É uma fêmea — disse Elain engolindo o ar em seguida. — Uma fêmea de pele marrom escura, cabelos negros e lisos longos, olhos azuis como o céu. Ela é a fêmea.

O queixo de Gwyn caiu totalmente chocada, ela olhou para Lucien que franziu as sobrancelhas fechando a expressão do rosto.

— Como soube que eu estava aqui? — perguntou ele. — Alguém te contou que eu vinha?

— Eu senti, Lucien! — exclamou Elain dando um passo adiante. — Eu senti que estava aqui!

— Não devia ter vindo aqui — disse Lucien com frieza incomum e Gwyn até mesmo se encolheu contra o encosto do sofá olhando de um para o outro. — Se eu peço discrição quando venho a Velaris é justamente para não importuna-la e por que eu não quero vê-la.

Cada palavra do macho pareceu acertar Elaine como socos no estômago, cada uma delas fez uma lágrima cair.

— Bom — disse Lucien olhando para Gwyn que o olhava erguendo as sobrancelhas. — Foi bom ver que está bem, Gwyn. Assim que possível virei visitá-la.

— Obrigada — respondeu Gwyn recebendo um aceno de cabeça de Lucien que se dirigiu para a porta ainda aberta, ele passou desviando de Elain mantendo uma distância quase absurda dela e então saiu da casa de Gwyn que se levantou do sofá e caminhou devagar até a fêmea de olhar perdido e mãos trêmulas.

Devagar, a valquíria levou as mãos aos braços de Elain que a olhou no rosto. Gwyn não tinha o que falar, na verdade, não sabia o que falar para ela naquela situação, mas poderia conforta-la de outra forma e Elain entendeu aquilo quando desabou em choro e abraçou Gwyn que a envolveu com os braços e lhe acariciou os cabelos castanhos enquanto ela derramava lágrimas em seu ombro.

Gwyn entendia que ela não estava chorando por Lucien, não, não era isso, ela estava chorando por que o laço entre eles a estava fazendo sofrer, diferente de amor, era uma dor de uma alma incompleta e que apenas queria se sentir livre daquele sentimento castigante.

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora