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Sobrevoaram as montanhas enquanto a neve ainda caia pouco a pouco. Gwyn batia os dentes de frio e se agarrava ao pescoço de Azriel em busca de calor, o macho em si também estava quase congelando de frio e suas sombras se concentraram em ficar em volta de Gwyn, como se fossem aquece-la. Porém, já haviam dado voltas e voltas sem parar, mesmo com uma barreira em volta das asas feita pela magia dos Sifões, Azriel sentia os nervos doloridos e o céu estava começando a tomar uma tonalidade alaranjada.

Davam a volta na última montanha em que a garota poderia ter chego, também próxima do Refúgio do Vento.

— Vamos ter que descer — disse Gwyn alto para que ele escutasse.

— Está anoitecendo, não é seguro...

— Eu sei, mas não me importo. Não posso deixar uma criança sozinha — Azriel a olhou encontrando os olhos azuis esverdeados aflitos. Acenou com a cabeça e começou a descer, quando posou a neve cobriu seus joelhos.

— Ela não pode ter ido longe — disse Gwyn por cima do som uivante do vento gelido. — Elena! — gritou ela colocando as mãos ao lado da boca para aumentar o alcance do som.

— Gwyn! Pode chamar alguma coisa pergiosa até nós! — advertiu Azriel, mas a valquíria o ignorou começando a andar desengolcada pela neve.

— Elena! Pode me ouvir?! Sou eu! Gwyn! — dizia ela e Azriel respirou fundo. Ele olhou em volta, olhou para o sol que caia no horizonte, mais rápido do que ele gostaria. Torcia para que a maioria das bestas estivesse hibernando, pelo menos era mais uma garantia de que a menina estava viva, mas ainda tinha o frio.

— Elena! — gritou Gwyn subindo o terreno fofo demais.

Azriel a seguiu, de perto, cobrindo as costas dela e sempre em alerta, mesmo que seu rosto ardesse e seus cabelos estivessem congelando, mesmo que sentisse o sangue esfriar e as roupas pesadas e molhadas. Gwyn estava da mesma forma e não pararia até encontrar um rastro que fosse da menina.

*

Passo após passo parecia que pesos eram colocados em suas botas, estava ficando exausto, as asas doíam pelo frio, a boca estava ficando roxeada, o pior era a neve que agora estava caindo com mais rapidez e força, e o sol começou a se esconder atrás das montanhas dando cores rosa e lilás para o céu.

Azriel xingou entre os dentes que batia sem parar.

— Droga! — gritou Gwyn ao cair de joelhos na neve. Azriel fora até ela, passou as mãos por debaixo dos braços dela e a levantou. O rosto de Gwyn chegava estar ferido pelo frio infernal e lágrimas lhe inundavam os olhos. Lágrimas de frustração.

— Temos que voltar, talvez tenham encontrado ela. Está começando a ficar muito perigoso — disse Azriel e Gwyn soluçou. Ela escorou as costas contra o  corpo rígido do guerreiro que abaixou a cabeça mantendo o rosto colado ao dela. — Eu sinto muito... — passou os braços pela cintura de Gwyn a aconchegando nele.

A sacerdotisa levou as mãos aos antebraços de Azriel os apertando com os dedos rocheados pelo frio.

— Ela é só uma garotinha... — falou ela baixinho e abaixando a cabeça fazendo os fios congelados cair sobre seu rosto.

As sombras circularam novamente ambos. Azriel iria atrevesa-los de volta para o Refúgio do Vento, não havia mais o que fazer com toda aquela neve e a noite cujo as primeiras estrelas despontavam no céu roxo mais escuro.
Então o vento pareceu dar uma trégua se calando por alguns poucos minutos.

— Alguém?! Por favor alguem! — dizia uma voz feminina muito jovem.

Azriel e Gwyn olharam para cima, para algumas rochas cobertas pela neve e o que parecia ser o arco da entrada de uma caverna. A voz abafada saia dali.

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora