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Azriel perdia seu sono por muitos motivos, mas aquele estava literalmente o fazendo ficar acordado dia e noite. Sabia que ela estava segura, que se algo acontecesse ela saberia se cuidar, mas mesmo assim uma preocupação legítima afetava Azriel e para aliviar aquela tensão que parecia apertar cada nervo de seu corpo ele treinava, treinava e treinava, como fazia naquele momento socando um saco de pancadas no rinque de treino da Casa do Vento com neve caindo sobre seus cabelos negros.

Com a magia azul filtrada pelos Sifões ele envolveu sua mão e golpeou o alvo de maneira tão potente que o saco de pancadas estourou espalhando os pedaços pelo ringue de terra vermelha coberta parcialmente de neve.

O macho grunhiu com o corpo suado tremendo de pura adrenalina. Ele usava apenas calças e botas, deixando o torço livre de qualquer vestimenta, as cicatrizes de batalha evidentes espalhadas pelo corpo, as tatuagens que lhe cobriam os ombros, braços, peito e costas lembravam a sombras.

As próprias sombras estavam agitadas em volta se Azriel, sussurrando, conversando com ele.

— Já é o décimo que você estoura — diz Cassian abaixo do portal que levava para dentro de Casa e Azriel o olhou bufando, fazendo com que vapor branco saísse de suas narinas e boca.

— E vou continuar estourando — disse Azriel indo pegar outro.

Cassian fez um pequeno bico com os lábios, cruzou os braços grandes e musculosos sobre o peito largo e andou até entrar no ringue.

— Az, você não dorme faz dias — ele disse enquanto o irmão pendurava o saco de pancadas que seria dizimado dali alguns minutos.

— Quando Gwyn voltar, eu durmo — ele disse dando o primeiro soco. — Quero ficar em alerta a qualquer sinal de que ela precise de mim — outro soco e mais em seguida.

— Eu aposto que se ela estivesse em perigo a última coisa que iria fazer ela vir correndo por ajuda — disse Cassian dando um pequeno sorriso. — Vocês não avançaram muito, não é?

Azriel deu um soco forte e olhou para o irmão com cara de poucos amigos. Mas então, fechou os olhos e respirou fundo, depois os abriu novamente olhando para Cassian.

— Não — havia decepção genuína na voz do mestre-espião. — Apenas tivemos uma conversa breve sobre futuro, no dia em que você e Nestha chegaram bem na hora... Do resto, nada.

— Nem um beijo? — perguntou Cassian andando e se colocando atrás do saco de pancadas segurando o objeto com as duas enormes mãos.

— Sim, porra — disse Azriel voltando com os golpes. — Mas foi momentos antes de eu descobrir sobre a parceria e foi apenas um selinho.

Dizia entre os socos e chutes com Cassian recebendo o impacto que passava pelo saco de pancadas.

— E você está chateado com isso? — perguntou Cassian depois de Azriel acertar um chute forte na lateral do saco de pancadas.

O encantador de sombras parou e respirou fundo.

— Talvez... — admitiu colocando as mãos na cintura. — Eu posso ser sincero?

— Claro que sim.

— No momento em que eu senti a parceria... Eu me senti feliz e queria ter feito ela minha naquele mesmo instante — disse olhando para cima vendo os flocos de neve preguiçosos caindo do céu noturno. — Mas eu entendo que errei demais com Gwyn, e irei esperar por ela o tempo que for preciso.

— Seria tão fácil se pudesse apagar o passado, não é? — disse Cassian indo para a frente do irmão que o olhou. — Mas não podemos apagar o passado.

Canção de Sombras. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora