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Maraísa lembrava todos os dias da mesma história. Se passaram seis anos, mas parecia que tudo havia acontecido ontem.

A chuva caía pela janela e trazia em cada gota a lembrança viva de um passado nunca esquecido. Ela tinha saído do Rio de Janeiro com uma dor no peito e deixando uma história para trás.

Seu casamento da adolescência tinha chegado ao fim. Oito anos casada com Wendell Vieira, o único homem de sua vida, e ainda assim, Maraísa nunca tinha sido realmente feliz.

Seu maior desejo de ser māe ia cada dia morrendo naquele casamento, até que
chegou a hora de terminar tudo, então para esquecer e encontrar um novo caminho na vida, ela decidiu estudar inglês em Nova York.

Sua irmã e tia deram todo seu apoio, e contra os conselhos da mãe, Maraísa partiu para uma temporada longe de tudo.

Nova York foi a melhor escolha da sua vida. Além dos estudos, que iam super bem, Maraísa conheceu uma vida que nunca sonhou em ter.

Tinha feito novos amigos de muitos lugares do mundo. E por um desses novos amigos ela conheceu Marília.

A tão badalada e famosa Marília Mendonça. Seu nome não era tão conhecido na fotografia, mas nas mesas dos bares não tinha quem não suspirasse por aquela mulher.

A linda moça de cabelos loiros, olhos castanhos e pele branca como a neve, logo a conquistou.

Ela falava do mundo com a experiência de alguém com seus sessenta anos, mas Marília tinha quase a mesma idade de Maraísa. Sua liberdade, seu desejo de viver era contagiante.

Maraísa não se lembra ao certo quando aquela aventura e aquele tempo de descoberta, tinha se transformado em amor. Amor que era recíproco.

A conquistadora Marília tinha se acalmado, seus olhos e atenção eram todos para Maraísa.

[...]

Com o fim do curso de inglês, Maraísa estendeu seu visto e ficou trabalhando com Marília.

Compartilhavam seus sonhos e desejos para a vida.

Maraísa ainda não acredita em como teve coragem quando pediu para Marília ser a mãe dos filhos dela.

O olhar vivo de Marília, a alegria que tomou conta da mulher. Maraísa lembrava de tudo. Aquele perfume inesquecível, aquela pele macia. Tantas noites de amor que vieram depois daquele pedido. Tanto amor naquela tristeza que se abateu.

Por alguma razão Maraísa não conseguia manter a gravidez. Já tinham tentando todas as formas de inseminação, trocado o doador, mas do terceiro mês não passava.

A infelicidade, o sentimento de frustração, saber que todos aqueles anos em que ela secretamente havia culpado o ex-marido por não ter um filho, era na verdade culpa dela.

Então Marília mais uma vez foi altruísta demais, entregou seu óvulo e deixou que Maraísa tivesse a gravidez desejada.

E pra felicidade delas, uma vida estava sendo gerada. Passou do terceiro mês e aquele serzinho ali dentro era calmo, era o mais puro amor.

Se seu sorriso tinha voltado, seu casamento com Marília tinha voltado aos tempos gloriosos.

As noites eram cheias de amor, conversas com o neném que vez ou outra se mexia arrancando sorriso das mães.

Era uma espera infinita pelo nascimento daquele ser tão amado por elas.

[...]

Foi na trigésima sétima semana que o trabalho de parto se iniciou.

ʙᴏʀɴ ᴛᴏ ᴅɪᴇ • ᴍᴀʟɪʟᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora