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- Você não tinha um avião para o inferno pra enbarcar? - Marília disse com raiva.

Por instinto Maraísa ficou na frente da fotógrafa quebrando o contato direto entre pai e filha.

- Então vai ser assim daqui para frente? - David nem se preocupou em olhar para Maraísa.

- Enquanto você agir feito um idiota, vai ser. - a fotógrafa respondeu abrindo o carro e apontou para Maraísa entrar.

- Eu só quero o melhor para você, Marília. - o homem disse.

A voz séria tinha quebrado um pouco. A reação violenta da fotógrafa o deixou chocado até o momento. Foi preciso ver a filha com a mulher, para então conseguir reagir de alguma forma.

- Eu sei o que é melhor pra mim. - Marília respondeu ríspida, entrou no carro e saiu dirigindo de forma brusca.

- Da próxima vez que você ficar nervosa, eu dirijo. - Maraísa falou vendo que era a terceira vez que Marília desviava de uma batida.

- Desculpa... - a fotógrafa olhou de relance para Maraísa.

- Desde que você não dirija assim com a Liz no carro... - Maraísa levou a mão até a nuca de Marília e fez carinho na esposa.

- Não vou... É só que meu pai... Poxa, ele nunca foi assim, nunca se incomodou com a minha sexualidade e agora tá dando uma de louco.

- Ele deve achar que eu vou machucar você de novo. Talvez ele...

- Ele não precisa de defesa, Maraísa, muito menos sua. - Marília interrompeu a mulher. - Vamos pra casa e esquecer isso, já temos problemas suficientes.

- Podemos conversar com a Liz... - Maraísa resolveu mudar de assunto.

Ela sabia que a mulher e o pai tinham uma relação delicada, qualquer coisinha era motivo de incêndio. Mas eles se reconciliavam, pelo menos era o que a morena esperava.

- Sobre o balé, né? Você falou que tinha visto mais alguma coisa... - Marília tentou esquecer o assunto, mas a raiva ainda estava ali.

Ela apertava o volante e ia respirando fundo. A mão de Maraísa em sua nuca a ajudava relaxar.

- Vi sim... Alguns outros tipos de danças e tem as atividades da escola que ela pode fazer também. - Maraísa sorriu empolgada.

Foi uma vitória ter convencido a mulher a deixar ela falar para Liz sobre essas atividades, era um grande passo que a fotógrafa estava dando e iria ajudar muito a filha.

- Amor, talvez você não deveria ficar tão empolgada. - Marília olhou para Maraísa quando pararam no sinal. - Ano passado, depois que eu voltei de uma exposição, a Débora me convenceu a colocar a Liz em uma escola. Eles tiveram que colocar ela numa turma adiantada, porque ela estava muito na frente das crianças da idade dela...

O carro voltou a andar enquanto Maraísa ouvia em silêncio, era a primeira vez que Marília falava disso.

- Então ela foi para a escola. No terceiro dia, ela apareceu com umas manchas roxas nas pernas e nos braços. Ela me disse que as meninas tinham derrubado ela na aula de ginástica. Eu falei com a professora e ela disse que aquilo acontecia, mas que ficaria de olho. Dois dias depois, a escola me liga falando que a Liz tinha brigado. Quando eu chego lá, ela está com a boca machucada, o olho roxo e a roupa imunda. A diretora me disse que a Liz bateu primeiro e as três meninas, sim três meninas, foram pra cima dela. Quando eu perguntei porque ela tinha batido na menina, ela me disse que era porque eles ficavam chamando ela de filha de sapatão.

Marília estacionou o carro e olhou séria para Maraísa.

- Eu não mandei mais ela para escola. Eu sei me defender, Maraísa, eu sei lidar com o preconceito, mas ela é só uma criança. E tem crianças que sabem ser cruéis.

ʙᴏʀɴ ᴛᴏ ᴅɪᴇ • ᴍᴀʟɪʟᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora