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A voz alegre de Maraísa atendeu o celular. Marília não precisava vê-la para saber que a mulher estava sorrindo, aquele sorriso bobo que ela sempre abria quando falava com Marília. Essas lembranças eram torturantes.

– Oi, Maraísa, tudo bem? – a fotógrafa tentou parecer casual.

– Tá, tudo bem sim. Aconteceu alguma coisa? – Maraísa disse entrando no carro, parou um pouco e logo pensou em Liz. – Aconteceu alguma coisa com a Liz?

– Não, você quem me ligou, lembra? A Liz me avisou, mas foi uma manhã corrida por aqui.

"Lógico, Maraísa, se acontecesse alguma coisa com a menina, Marília não ligaria para você. Não ainda." – pensou.

– Aah claro, verdade.. Foi só uma situação com a minha psiquiatra e acabei ligando pra você.

– Situação? Que tipo de situação? – Marília ficou preocupada.

– Ela achou que eu estava alucinando com você. Isso aconteceu um tempo atrás, mas já passou e está tudo certo. Não se preocupe com isso, gata.

– Maraísa... – Marília respirou fundo.

"Situação com a psiquiatra... Ontem ela estava bem e hoje teve uma situação." – a loira parou pensativa.

Marília sabia que Maraísa tinha um temperamento explosivo. As poucas brigas que tiveram foram grandes o suficiente para não esquecer.

– Eu preciso ir, tenho que ver as coisas da exposição...

– Sua exposição, é quando mesmo?

– Depois de amanhã. Galeria Rio. Primeira vez no Brasil. – Marília soltou um sorriso nervoso.

– Fica tranquila, tenho certeza que vai ser linda... – Maraísa sorriu.

Ela não ia dizer pra Marília que iria na exposição, iria fazer uma surpresa, como Yasmin disse. Mas seria bom ouvir a fotógrafa convidando ela.

– Vou deixar você trabalhar.

– Você vai... – Marília ia falar, mas viu Debora se aproximando e franzindo o cenho.

A fotógrafa passou a mão na cabeça.

– Você vai até lá em casa semana que vem? Pra nós termos aquela conversa.

– Vou sim. – a resposta saiu triste.

Por um instante Maraísa jurou que Marília ia convidá-la. Mas tudo bem, ela iria sem o convite da fotógrafa de qualquer forma.

– Espero você ligar para marcar. Beijo, te amo, tchau...

Marília desligou sem responder.

"Gata.. Te amo" – o pensamento faz Marília sorrir de canto.

Maraísa falava como se elas estivessem juntas ainda. Isso era ruim? Não, era bom ter esse carinho de volta.

Era diferente receber os carinhos de Maraísa, do que os de Débora. Até mesmo Cecília não conseguia balançar a fotógrafa da forma que as simples palavras de Maraísa balançavam.

"Droga. Chega Marília... A exposição, depois a Maraísa." – se repreendeu mentalmente.

– Posso saber quem era? – Débora perguntou depois de um tempo que Marília desligou o telefone.

– A Maraísa. – a fotógrafa respondeu seca, pegou a planta de organização e saiu conferindo os painéis.

"A Maraísa". Você fala nessa naturalidade, como se estivesse falando da Cecília, por exemplo. – Débora seguia Marília.

ʙᴏʀɴ ᴛᴏ ᴅɪᴇ • ᴍᴀʟɪʟᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora