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Alguns meses depois...

E mais uma vez, depois de algum tempo, Marília respirou fundo e entrou naquela sala que já estava bem familiarizada, mas ainda assim, sempre precisava respirar e buscar coragem para entrar ali.

A sala não tinha mudado e depois de cumprimentar com um simples "oi" a psiquiatra, a loira sentou no sofá já velho conhecido.

– Depois de tanto tempo, conseguimos nos encontrar. – Rosi disse sorrindo.

– Pois é, ter uma psiquiatra famosa é assim mesmo. – Marília respondeu com um leve sorriso.

– E paciente também. – a mulher insistiu. – Começamos por isso? Como foi lá?

– Foi bom, tudo que eu esperava. – a fotógrafa falou e como sabia que Rosi insistiria, começou os detalhes. – Você sabe que jamais imaginei que aquela exposição de Nova York iria render, quanto mais um prêmio desse porte, então a alegria foi nas alturas. A Maraísa também ficou muito feliz, mesmo tendo que pegar um avião para Londres, ela estava lá na primeira fila, aplaudindo e sorrindo.

– Vai ter um tour da exposição? – a psiquiatra indagou.

– Sim, vai passar pela Europa, mas não tem condições de acompanhar. Gravidez, a escola da Liz, e nem pensar que eu vou andar por lá sozinha. A previsão é de encerrar aqui no Brasil, então apareço nesse dia. – Marília sorriu.

– Conversou com a Maraísa sobre isso?

– Sim, concordamos que não dava, era muito tempo longe e com a gravidez não tinha muito o que cogitar. – a fotógrafa disse.

– Quanto tempo tem agora?

– 20 semanas... – Marília passou a mão na barriga e sorriu. – Confirmamos o sexo, é menina.

– Olha só, Liz é boa de adivinhação. – Rosi sorriu. – Como ela está?

Marília respirou fundo e se remexeu na cadeira. Olhou para Rosi e sabia que não podia mentir. Maraísa tinha estado ali antes, e com certeza a morena desatou a falar tudo sobre o mês que não conseguiram fazer a consulta.

– Complicado... Tem os dias bons, os dias ruins e os dias de Liz. – a fotógrafa respondeu.

– Dias de Liz... – a psiquiatra sorriu. – Conta tudo.

– Os dias bons são quando tudo vai bem. A Liz acorda empolgada, alegre, vai pra escola, faz o treino de natação, brinca com a cachorra, conversa com as meninas no estúdio, fala da irmã, de brincar com ela, enfeitar... – Marília sorriu. – A Maraísa também fica feliz e tranquila. Me ajuda no estúdio, conversa com as modelos, vai fazer a corrida dela com a Maiara, são os dias maravilhosos mesmo.

– Muito maravilhosos? – Rosi perguntou interessada.

– Não, são bons, não acontece nada ruim, todo mundo faz o que tem que fazer com alegria, nada em exagero. – a fotógrafa se corrigiu.

– E os ruins?

– A gente já reconhece eles logo quando acorda. A Maraísa fica mais agitada, aflita. Eu pego ela me olhando e olhando pra barriga, perdida em pensamentos. São os mesmos dias em que a Liz passa mal humorada, olhando torto pra mim e pra Maraísa, resmungando sozinha. – Marília olhou para a sua barriga. – E os dias de Liz são os dominados pela manha. Ela fica sem querer falar da irmã, não quer ir pra escola, pra natação, são os piores...

– Vamos lá... Dias ruins são os dias da Maraísa. – Rosi disse séria. – Do que você tem medo?

– De perder ela... – a fotógrafa falou em um suspiro. – Eu sei que ela fica olhando pra mim e pra barriga, pensando que a menina vai ser igual a ela ou que ela não vai dar conta, ela tem medo de não conseguir suportar a gravidez. Já falei tanto com ela, mas parece não ter efeito.

ʙᴏʀɴ ᴛᴏ ᴅɪᴇ • ᴍᴀʟɪʟᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora