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Maraísa olhou sobre o ombro para a fotógrafa, a mulher parecia uma criança sendo abandonada. O mesmo olhar que Liz tinha na aula de balé antes de começar.

A morena sorriu para a esposa. Teve vontade de voltar até ela e abraçá-la, dizer que tudo estava bem, afinal era só uma sessão, porém não conseguiu, Rosi fechou a porta.

Marília sentou novamente e contou até dez mentalmente. Ela estava ali por Maraísa, não iria decepcionar a mulher.

- Vamos começar? - Rosi perguntou ao voltar para sua poltrona.

- Eu tenho escolha? - Marília respondeu fria.

A loira sentia-se marcada pela psiquiatra desde a primeira sessão. Afinal, ela tinha ido apenas como companhia e apoio para Maraísa, mas a médica tinha praticamente lhe imposto sessões individuais agora.

- Você se sente obrigada vindo aqui? - a médica começou suas perguntas.

- Maraísa devia ser a paciente... Quer dizer, nós viemos aqui por ela, por causa dos remédios, porque ela fica melhor com eles. Eu não sei porque você resolveu me chamar para sessões.

- Porque você precisa, tanto ou até mais que a Maraísa. - Rosi respondeu séria para Marília. - Mas essa é a minha opinião, você é livre para discordar e não vir até aqui.

- Você disse que ajudaria a Maraísa. - a fotógrafa respondeu nervosa.

Marília apertava a mão com tamanha força, que sentia as unhas machucar a palma de sua mão.

- Eu disse que ajudaria as duas... - Rosi olhou para as mãos de Marília e levantou, pegou uma caixa de lenço e a colocou na frente da fotógrafa.

- Com que frequência você faz isso? - apontou para as mãos de Marília.

A fotógrafa abriu as mãos. Tinha machucado sua pele, mas não o suficiente para sangrar.

- Pouca... - Marília esfregava as mãos tentando aliviar a tensão que sentia. - Quase nunca nos últimos meses.

- Desde que a Maraísa voltou?

- É... acho que desde que ela voltou.

As duas se encaravam durante o interrogatório.

- E a Liz, tem alguma mania?

- Não.. - Marília falou rápido demais.

Claro que Liz tinha, mas ela não iria admitir para a médica. Não era fácil admitir as manias da filha, já que ela não só tinha dado algumas, como incentivado outras.

- Nenhuma? - Rosi sorriu. - Ela é realmente uma criança especial, praticamente todas as crianças têm. É natural...

- Ela tem algumas. - Marília acabou cedendo. - Ela tem um cheiro para dormir. Sempre vem até a nossa cama para dormir comigo, ela não gosta de dormir sozinha. Ela não gosta que outras pessoas sequem o cabelo dela, também não gosta de comer sozinha. Eu só lembro dessas agora.

- Ela dorme com vocês? - Rosi perguntou.

- Ela vai de madrugada para a nossa cama. Se bem que essa noite ela não foi. Ficou na cama dela com as mascotes.

- Mascotes?

- Um gato e uma cachorra. Nós demos de presente no aniversário dela. Sexta passada.

- Ótimo. - Rosi sorriu. - Então essa noite ela dormiu sozinha?

- Dormiu... Em partes, já que quando chegamos no quarto dela, ela dormia abraçada com a cachorra. - Marília sorriu ao lembrar da cena.

- Suponho que se ela vai ou ia para a cama de vocês, a porta ficava aberta.

ʙᴏʀɴ ᴛᴏ ᴅɪᴇ • ᴍᴀʟɪʟᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora