Novecentos e noventa e cinco anos depois da guerra que extinguiu a humanidade, o corpo de um licantropo é encontrado exsanguinado. JK ─ o herdeiro ilegítimo do clã de vampiros mais famoso entre as raças protegidas pelo Tratado Indelével de Paz ─ se...
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⠀⠀⠀O misto de âmbar cinzento com maçã e jasmim foi a primeira coisa que Jeykey sentiu quando suas pálpebras tremelicaram, a consciência despertando. A segunda coisa foi um peso sobre seu corpo, era quente e pesado demais para ser seu cobertor ou um travesseiro. Ele moveu a mão direita, sonolento. A maciez sob sua palma parecia ir além da seda no tecido que cobria o lugar por onde deslizava a mão. Ele apertou a pele sedosa sob seus dedos e abriu os olhos subitamente.
⠀⠀⠀O coração disparou quando percebeu ser um corpo quente e delicado sobre ele, a pele sedosa que acariciava e apertava era a coxa de Krystal. O rosto da hoan estava muito próximo ao pescoço de Jeykey, a respiração quente e serena lhe soprava a pele, e uma das mãos dela jazia espalmada em seu peito nu enquanto o braço dele a envolvia pela cintura, sob o blazer que ela ainda vestia.
⠀⠀⠀A luz da manhã adentrava as cortinas esvoaçantes e iluminava os dois sobre a cama de dossel. O livro que liam durante a madrugada estava perdido entre os lençóis poeirentos.
⠀⠀⠀Jeykey lembrava-se vagamente de terem apoiado as costas no batente da cama em algum momento durante a leitura, mas não de quando o sono os havia levado ao mundo onírico, nem de ter se deitado. Ao menos não com Krystal ao lado dele. Abraçando-o. Um leve sorriso arqueou os cantos da boca dele. Ele ergueu um pouco o rosto e tornou a observá-la, tentando não mover os músculos do corpo.
⠀⠀⠀Krystal se mexeu. Os cachos escuros espetaram o maxilar dele, os lábios encostaram em sua pele. Pôde sentir o aroma agridoce, abaixo da pele da hoan, na boca. O corpo dele vibrou em níveis estratosféricos. Um arrepio serpenteou por seu âmago quando os dedos dela escorregaram em seu peito e subiram pela lateral de seu pescoço.
⠀⠀⠀Ela tocou sua bochecha e depois os lábios, seu nariz... o canto de suas pálpebras...
⠀⠀⠀E parou.
⠀⠀⠀Os ouvidos de Jeykey captaram um batimento cardíaco acelerado e quando virou o rosto, as pálpebras dela se abriram.
⠀⠀⠀Os dois se encararam petrificados. A mistura formada pelo castanho, âmbar e verde-escuro, presentes nas íris da hoan, assemelhava-se à explosão de corpos celestes destacada pelas bochechas ruborizadas e pelos lábios entreabertos. Ele ergueu a mão esquerda e afastou alguns cachos quando ela desviou o olhar para os lábios dele — que pareciam mais macios e aveludados observados daquele ângulo —, o coração palpitante.
⠀⠀⠀Foi apenas por um instante.
⠀⠀⠀Mas o suficiente para o formigamento que sentia na mão direita, a mão que permanecia apoiada na cintura de Krystal, irradiasse por todos os seus músculos. Seu corpo ardia ainda mais naquele momento. O coração rugia nos tímpanos. Era difícil conter a atração que sentia por ela e só piorou quando voltou a encontrar seu olhar.
