Novecentos e noventa e cinco anos depois da guerra que extinguiu a humanidade, o corpo de um licantropo é encontrado exsanguinado. JK ─ o herdeiro ilegítimo do clã de vampiros mais famoso entre as raças protegidas pelo Tratado Indelével de Paz ─ se...
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ㅤㅤA noite havia caído sobre Wedstone quando um morcego de asas tão escuras quanto o céu atravessou a janela aberta na sala do delegado do distrito.
ㅤㅤAs lamparinas presas às paredes emitiam um brilho alaranjado e fraco. A pouca luz no recinto formava sombras nas vigas de madeira no teto, onde o morcego pousou por um momento, observando o hoan sentado logo abaixo.
ㅤㅤA luz mais forte vinha da mesa coberta de papéis organizados, onde estava o hoan vestido em um terno de risca de giz azulado por cima da camisa branca aberta até metade do peito. O hoan encarava um papel pardo com letras vermelhas gritando "confidencial" com o maxilar cerrado, a boca coberta pelas mãos entrelaçadas e os cotovelos apoiados sobre a mesa. Embora o teto fosse alto, a visão aguçada da criatura da noite empoleirada na viga o permitia ler com clareza o nome marcado na etiqueta do pacote confidencial: Krystal Bauer.
ㅤㅤO macho hoan só notou o recém-chegado quando este deixou as sombras e assumiu sua verdadeira forma diante da escrivaninha.
ㅤㅤOlhos da cor de azeviche encontraram os vermelhos do vampiro.
ㅤㅤBeom Failace arqueou uma das sobrancelhas e recostou-se no assento.
ㅤㅤ— Então você veio.
ㅤㅤ— Não é todo dia que recebo uma mensagem do delegado do distrito me pedindo para encontrá-lo em segredo. — Sem desviar o olhar do delegado, Jeykey puxou uma das cadeiras diante da mesa para trás.
ㅤㅤ— Não precisa se sentar — Beom meneou a cabeça e ergueu-se do assento. — Nossa conversa será breve — disse, dando a volta na escrivaninha.
ㅤㅤEle parou ao lado do vampiro e se apoiou na mesa, os braços cruzados sobre o torso.
ㅤㅤJeykey moveu o corpo de modo a ficar de frente para o hoan e desviou as vistas para o pacote com o nome de Krystal. Failce puxou o pacote tão rápido quanto os ventos sacudiam os fios dos postes do lado de fora, e o enfiou na primeira gaveta da mesa.
ㅤㅤ— Vampiros sabem ler, não sabem? — Beom perguntou ao vampiro com deboche.
ㅤㅤJeykey o encarou de viés, a expressão fechada. Quando não respondeu, Beom continuou:
ㅤㅤ— Se sabe ler, então sabe que esse pacote é para Krystal. Não foi para bisbilhotar a correspondência alheia que te chamei aqui.
ㅤㅤ— Oh, sério? — O vampiro fingiu espanto. — Mas não tem problema algum, já que estou aqui, posso levar para ela. Será uma ótima desculpa para encontrá-la fora do horário de trabalho, não acha, Sr. delegado? — Um meio sorriso arqueou os lábios de Jeykey quando o semblante de Beom escureceu. — Krystal e eu podemos até tomar uma bebida juntos. Será que ela aceitaria...
ㅤㅤBeom agarrou o colarinho da camisa de Arakelian, o maxilar trincado com os dentes expostos e as veias do pescoço saltadas, o que apenas fez o sorriso no rosto do vampiro aumentar.
