𝟏º Aᴛᴏ

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𝑶𝒊𝒕𝒐 𝒉𝒐𝒓𝒂𝒔 𝒆 𝒕𝒓𝒊𝒏𝒕𝒂 𝒎𝒊𝒏𝒖𝒕𝒐𝒔
𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔 𝒅𝒂 𝒃𝒓𝒊𝒈𝒂 𝒏𝒐 𝑯𝒐𝒕𝒆𝒍𝒃𝒂𝒓


⠀⠀⠀⠀O fétido odor que permeava o beco estreito se tornava ainda mais intenso devido ao sol brilhando sobre o espaço aberto entre os dois prédios. O mau-cheiro rapidamente lhe penetrou as narinas quando ultrapassou a barreira erguida no local.

⠀⠀⠀⠀Ao vê-la, um dos investigadores mais jovens do distrito correu até ela, parando-a no meio do trajeto e tapando sua visão da vítima. Embora fosse mais jovem que ela, o licantropo diante de si era uma cabeça mais alta, por isso os pés da vítima, calçando saltos verde-água, foram o único indício que a levou a concluir se tratar de uma fêmea.

⠀⠀⠀⠀— Temos mais um corpo, Krystal! — O tom do licantropo soou incrédulo e ofegante.

⠀⠀⠀⠀— Conte-me algo que não sei, Doyun. Como, por exemplo, por que ergueram faixas, e estão impedindo a passagem dos pedestres quando não fizeram isso das últimas vezes. — Krystal rumorejou, olhando com a tez enrugada para os hoans que formavam uma barricada na entrada do beco, nas duas vias que permitiam a passagem, e diante das portas do fundo das construções que os cercava.

⠀⠀⠀⠀Doyun suspirou e enxugou o suor, grudando os fios loiros na testa, antes de apoiar os dois braços sobre os ombros da investigadora. Um sorriso trêmulo arqueou os lábios dele. Por mais que o calor fosse sufocante durante o dia, Krystal sabia que a expressão afetada no rosto do colega, e o dobro do peso que seus braços geralmente possuíam sobre os ombros dela, tinham relação com ciclo lunar mudando naquela noite.

⠀⠀⠀⠀Licantropos se tornavam incrivelmente fortes — e perigosos — quando a lua cheia se aproximava.

⠀⠀⠀⠀— Eles ergueram isso para proteger a identidade da vítima. Estão com medo dos boatos.

⠀⠀⠀⠀Krystal estreitou as pálpebras, cujo formato assemelhava-se a uma folha de oliva, e içou uma das sobrancelhas.

⠀⠀⠀⠀— Qual é a espécie?

⠀⠀⠀⠀Doyoun se afastou e bateu no próprio peito.

⠀⠀⠀⠀— Licantropo.

⠀⠀⠀⠀Os olhos de Krystal se sobressaíram na face. Ela passou por ele, ligeira. Ao se aproximar do corpo não precisou erguer o distintivo — todos conheciam Krystal Bauer —, os peritos se afastaram e lhe deram um par de luvas. A hoan engoliu em seco e tentou não esboçar nenhuma reação ao se ajoelhar diante do corpo da vítima. Conhecia muito bem o rosto descorado que encarava, vira aqueles olhos verdes diversas vezes nos eventos de confraternização entre as espécies, para comemorar o Tratado de Paz Indelével. Todavia nunca os viu vidrados e sem vida.

⠀⠀⠀⠀Doyun logo parou em seu encalço.

⠀⠀⠀⠀— A vítima é Holly Brandão. 33 anos...

⠀⠀⠀⠀Doyun continuou falando, mas Krystal não prestava mais atenção. Ela sabia quem era a vítima e de quem era filha. E percebeu o que a morte dela significava ao afastar os fios louros de seu pescoço.

⠀⠀⠀⠀Dois buracos, com quinze centímetros de diâmetro, foram marcados em sua pele.

⠀⠀⠀⠀Vampiro. Outra vez.

⠀⠀⠀⠀Ela se levantou e se afastou, dando espaço para os peritos continuarem seu trabalho.

⠀⠀⠀⠀— A que horas o corpo foi encontrado?

⠀⠀⠀⠀— Um funcionário do Hotelbar Motion a encontrou quando veio jogar o lixo fora — Doyun apontou para a outra extremidade do beco, onde um conjunto de caçambas estava encostada na lateral do prédio. — Então ligou para nós.

ɪɴᴅᴇʟᴇ́ᴠᴇʟOnde histórias criam vida. Descubra agora