⠀⠀⠀O laboratório de Jin ficava no subsolo do Hotelbar Motion, dois andares abaixo da boate. Se tratava de uma câmara, portanto não havia janelas, mas as trepadeiras perenes que se alastravam pelas paredes tinham uma luminescência dourada e iluminavam todo o recinto como substitutas do sol — menos nocivas para os vampiros do que a verdadeira estrela. Até o verde que crescia no piso de concreto queimado, cobrindo-o quase por completo, possuía um brilho diferente da grama nascida naturalmente na superfície terrestre.
⠀⠀⠀Não foi surpresa para Jeykey encontrar Niara observando as criações do feérico para os negócios do Hotelbar Motion. Todo e qualquer vestígio da natureza naquele lugar era culminado pela magia feérica que Jin continha e era fascinante. O aroma inebriante diferia de qualquer outro exalado pela natureza lá fora. Dali surgiam os ingredientes usados no cardápio do hotel e do bar de Jeykey.
⠀⠀⠀Os passos do vampiro recém-chegado foram abafados pelo gramado, mas, como se sentisse sua presença, o feérico ergueu os olhos dourados da papelada que organizava sobre a mesa rústica de cedro, abaixo do pé direito alto, à esquerda da entrada.
⠀⠀⠀— Pensei que não fosse voltar tão cedo e... — Jin parou de falar ao observá-lo de cima a baixo com o cenho enrugado. As vestes escuras de Jeykey estavam ensopadas, os fios ondulados e compridos grudavam nas bochechas e no pescoço, mas foi a expressão sombria na face do vampiro que o fez se erguer do assento. — Algo aconteceu? Por que veio direto para cá quando está todo molhado?
⠀⠀⠀Jeykey jogou os fios de cabelo para trás e se aproximou da mesa de quartzo retangular no centro do cômodo, abaixo do lustre de ramos e peônia que a magia do feérico tornara vívido e fluorescente.
⠀⠀⠀— Passei no meu escritório, mas apenas para pegar isso e trazer até você — respondeu Arakelian, enfiando a mão no bolso da calça cargo. Ele colocou uma pulseira prateada sobre a superfície lisa, ao lado depositou a corrente que havia pegado com Krystal. As gotas de água que escorriam por seus músculos formaram uma poça no local. — Amb disse que a mão que decepei há alguns dias ficou com você. Essa pulseira pertence ao dono dela.
⠀⠀⠀— Não está aqui por minha vontade, ela simplesmente surgiu e a deixou na minha mesa porque disse que se a mantivesse não cumpriria suas ordens e a devolveria antes da lua cheia acabar, para evitar mais criaturas te odiando. — Jin suspirou e caminhou até o armário de vidro preso à parede por ervas daninhas e ramos de hera. Tirou dali o pano em que Jeykey havia enrolado a mão do vampiro que assediou Bauer. Em seguida, se aproximou do amigo. — Aconteceu algo com a srta. Bauer? Aquele vampiro fez algo contra ela outra vez? — apontou para os objetos com o queixo. — O que é essa corrente?
⠀⠀⠀Jeykey abriu a boca para responder, mas Niara, que havia se aproximado em silêncio enquanto limpava as mãos no tecido de cetim de seu vestido, esbugalhou os olhos.
⠀⠀⠀— É uma cruz heráldica? — a ruiva empurrou Jeykey para o lado e pegou a pulseira entre os dedos, as sobrancelhas levantadas.
⠀⠀⠀O vampiro franziu o cenho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ɪɴᴅᴇʟᴇ́ᴠᴇʟ
ParanormalNovecentos e noventa e cinco anos depois da guerra que extinguiu a humanidade, o corpo de um licantropo é encontrado exsanguinado. JK ─ o herdeiro ilegítimo do clã de vampiros mais famoso entre as raças protegidas pelo Tratado Indelével de Paz ─ se...