Sobre finais felizes

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Quinta feira, dia 16 de Abril de 2015, acordei com um frio na barriga

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Quinta feira, dia 16 de Abril de 2015, acordei com um frio na barriga. Eu sabia que não seria um dia comum e, pela primeira vez, me senti nervoso antes de postar um capítulo aqui no wattpad. Meu celular apitou, era uma mensagem da minha amiga Raquel, a primeira pessoa que leu o rascunho do meu livro, "Mais Leve que o Ar", antes de ser postado.

"É hoje?", perguntava.

Sim, era.

Uma pausa para voltar no tempo. Mais precisamente, para 2005.

Eu tinha treze anos de idade quando li a história em quadrinhos do meu herói favorito, o Homem-Aranha, intitulada "a morte de Gwen Stacey".

Tudo na história era muito estranho. Gwen, até então a namorada de Peter Parker, foi raptada por um dos seus arqui-inimigos. Quando tudo estava prestes a acabar bem, o vilão soltou a garota no ar. O Aranha lançou suas teias que prendem nos pés da garota, o impacto foi muito forte, fazendo a Gwen quebrar a coluna usando o seu próprio peso, falecendo assim.

Era estranho. O herói falhou, a mocinha morreu e não existia nenhum consolo ali. A culpa da morte da garota era toda do herói, pois foi ele que a colocou nessa situação, para começo de conversa, quando engatou um romance sabendo da sua condição perigosa de vida. A sua teia a matou. A teia que saiu do lançador que Peter passou horas projetando. Não havia consolo ali.

Mesmo com todas essas mensagens negativas, Peter não parou de fazer o que faz. Continuou lutando, apesar de tudo. E pessoas foram salvas graças a isso.

Foi a melhor história que eu havia lido até então. Lembro de como aquilo moldou o meu conceito sobre o que é um final feliz. Aquilo era um final feliz, não há como negar. Apesar de tudo, um final feliz.

Na época, uma revista em quadrinhos custava em torno de R$2,30 e me proporcionava lições que escola nenhuma conseguiu.

Voltando para o dia 16

Normalmente, espero até o final da tarde para postar um capítulo, mas, dessa vez, o fiz já às nove da manhã. Esperava todo tipo de reação, todo mesmo. Confesso que suei frio antes de apertar o botão "publicar".

Não me orgulho em dizer que frequentemente subestimo os meus leitores. Vocês são extremamente maduros e entendem questões complexas com uma facilidade invejável. No geral, todos os comentários que li foram de comoção (e algumas ameaças de morte), mas nada irracional.

Essa é a verdade, eu nunca serei um autor previsível. Eu nem sempre vou escrever o que você quer ler ou que você acha que é o certo. Mas garanto que nenhuma palavra digitada será em vão, e tudo que escrevo tem um significado. É para isso que os livros existem.

As histórias são simulações da vida. E na vida, constantemente, as coisas podem não acontecer exatamente do jeito que nós queremos e de forma alguma isso significa que não seremos felizes.

CADERNO DO SALIOnde histórias criam vida. Descubra agora